“os mais branquinhos, por favor”

Hoje eu fui ao supermercado.

Passei na padaria para comprar aqueles pães de fibra que só tem lá e dei aquela olhada nos doces.

Pedi 200gr de mini sonho e frisei que queria os mais branquinhos, pois havia muitos queimados espalhados por cima. Aliás, toda vez que peço pão digo isso. “os mais branquinhos, por favor”

Quando me dei conta que o atendente era negro. Aí olhei assustada para os lados. Ele sorrio e concordou que estavam muito queimados hoje. Um homem me olhou sem expressão. Naquele momento fiquei com real temor de ser acusada de alguma coisa, sei lá, racismo?

Sabe, né, hoje o mundo está tão chato, tão chato, que pode acontecer cada coisa.

Enfim, ninguém me condenou verbalmente ali, mas, quem sabe…

2 comentários em ““os mais branquinhos, por favor”

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  1. Oi Fahya,

    Percebo duas coisas na sua fala/texto. Uma subjetiva e outra objetiva. A subjetiva penso que a reflexão pode ir na seguinte direção. Quando você traz para o consciente aquilo que estava nas bordas do inconsciente: sua branquidade que “gritou”, ou se tornou visível naquele momento ao falar a palavra branquinho e ser atendida por rapaz negro.
    Ruth Frankenberg (2004) afirma que Branquidade é um lugar de vantagens, de privilégios, mas que é invisível, uma categoria não marcada em determinados momentos, portanto é como uma fantasia.
    Para discutir o significado da branquidade nos Estados Unidos, Frankenberg marca ou define a branquidade, pontuando em oito aspectos que resumidamente são: possui localização, ou seja, ela está localizada nas sociedades ‘estruturadas pela dominação’ – termo de Stuart Hall . A definição vem sempre se modificando. A branquidade é: lugar de vantagem é também um ponto de vista, onde se vê e é visto; é lócus de elaboração de várias práticas e identidades, marcadas e não marcadas, nacionais ou normativas e não só raciais, resvalando para etnia e classe. Alguns tipos de branquidade marcam fronteiras; é privilégio e é seccionada por vários outros eixos de privilégios. É produto da história e também categoria relacional cujos significados são socialmente construídos, variando nos locais e conforme os locais. Os efeitos materiais e discursivos decorrentes da branquidade, sofridos pelas pessoas embora seu significado seja constructo social, são reais. (FRANKENBERG, 2004).

    Agora a objetiva, percebo a discussão do politicamente correto. E faz sentido isso que você diz que o mundo está chato…O politicamente correto tem alguns excessos. Mas acho que nem por isso vou jogar tudo fora..
    Estou lendo “Como ler Lacan” de Slavoj Zizek” e creio que talvez você fosse gostar de algumas coisas que ele diz. Em especial no capítulo 8 “Deus esta morto mas ele não sabe”, e também em “Arriscar o impossível: Convesas com Zizek” no capítulo a loucura da razão: encontros com o Real. Ele mostra isso que eu estou chamando de excessos do politicamente correto. Só que o viés que ele utiliza é mais psicanalítico. A questão é que há coisas nele (politicamente correto) que não podemos abrir mão…

    Bjs

    Vontade de sair com você fotografando…

    FRANKENBERG, Ruth. A Miragem de uma Branquidade não marcada. In: WARE,Vron. (Org.). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro, Garamond, 2004

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