Não era para eu estar escrevendo neste exato momento, mas não resisto.
Nem vim contar que ontem vi mais uma estrela cadente, não foi em Guaíra, foi no Campeche mesmo, e bela como da outra vez – o pedido também foi o mesmo da outra vez.
Mas é que passei uma parte do fim de semana com o Rubem Alves (sim, já citei-o aqui sobre as Gerais) e desde que li um texto dele há uma idéia fixa martelando meus pensamentos. Já escrevi uma vez sobre o ato e os motivos de escrever para o blog, de vez em quando falo disso.
Estou num momento de descrer um pouco das palavras como comunicáveis para os sentimentos, por exemplo. Tanto que me peguei pensando que não escrevi sobre Teresina e escrevi sobre Belo Horizonte. O que eu sinto é real demais, está sempre tão na superfície, à flor da pele. Porém, quem me vê acha que tenho sangue de barata. É só para iniciados. E as palavras?
Decidi que não quero nunca mais ouvir um “te amo” (ou “eu te amo”, ou “amo-te”, qualquer variação). Decidi isso, assim, baseada na incomunicabilidade das palavras e na crença de que sentimentos e tantas outras coisas devem ser expressos e sentidos – jamais ditos. Demonstre. Aja. Isso me basta. Tenho me furtado às palavras dessas veredas… mas não perco uma boa conversa. Isso me lembra outro post dessas últimas semanas – talvez o mais incompreendido do blog até hoje. Tenho simplesmente afastado as palavras das coisas, das pessoas, dos sentimentos. Acredito que não das idéias.
Assisti a um dos melhores filmes que já vi no cinema, filme feito para a sala escura, para a telona. Era sobre sentimentos. Havia poucas palavras, uma dose exata e deliciosa de música, uma direção de babar, uma incomunicabilidade dolorosa, sons bem percebidos (como o tique-taque do relógio numa sala onde duas pessoas não falam – aqui, agora, é o que ouço, somente o relógio me agitando). E a cena que mais disse tudo neste filme foi a da protagonista lambendo o ombro do seu amante. Ela nunca conseguiria explicar isso para o marido.
Enfim, “O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta.”, diz ali o Rubem. Pensei mil coisas para conseguir justificar com esta frase – inclusive a falta que eu tenho com trazer coisas do meu cotidiano para o blog e tantas outras questões. Rubem respondia à questão (que nunca lhe foi feita) se ele é mesmo como escreve e tascava “Escrevo o que não sou”. Sim, sim… e aqueles que dizem que, ao escrever, não conseguimos fugir de nós mesmos? Não sei. Sobre o poeta escrever para invocar a coisa ausente faz ainda mais sentido… Pensando cá com meus botões cheguei à idéia que escrevo pelo que me falta, sem jamais chegar a citá-lo. Eis a incomunicabilidade das palavras. Escrevo o que me falta, talvez não consiga ser tão fiel ao que não sou, mas decididamente não escrevo tudo – muito menos o que sinto. E eu? Sou mesmo como escrevo?
Esses devaneios acabaram sendo dirigidos para todos os tipos de escrita do momento – livro, blog, dissertação, e-mails, chats, diário (oh, yes! retomei-o!) – e geraram um momento de auto-reflexão monumental. Me deu até vontade de mandar um e-mail para o Rubem agradecendo às pimentas (vejam só, ele é mineiro e ao falar em pimentas não esqueço as maravilhosas lá do Mercado Central), como ele mesmo diz no começo do livro “Pois há idéias que se assemelham às pimentas: elas podem começar incêndios nos pensamentos.”. E lembrem-se de nunca tomar água para apagar o incêndio de uma pimenta. Se para começar um incêndio não é preciso fogo, foi feito o estrago.