Gosto de pensar que a pandemia não aconteceu por acaso (eu acredito muito nisso) e, para quem não é tolo, as reflexões que ela causou podem ser muito úteis. Ela veio para dar fim à situações que já não se sustentavam antes, mas se arrastavam de mal a pior. Ela serviu para dar um fim no que já não apaixonava mais.
E é curioso pensar que ela também veio para destruir de vez minha (nossa?) esperança nas pessoas em relação ao futuro, às mudanças que eu imaginava ver. Como mulher, percebi que não há esperança em relação aos homens. Como dizem algumas teóricas feministas, as coisas estão mudando, mas pouco e lentamente. Eu, enfim, vi que não há mudança nenhuma.
Os homens estão diante de tudo que eles precisam saber e aprender sobre igualdade, respeito, e mil coisas, mas, mesmo assim, eles agem como os piores homens dos séculos passados. Enquanto mulher não aceito mais a grosseria, o desrespeito, a agressão (a estupidez nas respostas e tratamentos, a violência psicológica, nem mesmo o silêncio). Tenham eles vinte ou quarenta anos, geração essa ou aquela, todos – sem exceção – sabem muito bem como não devem agir. Mas, eles escolhem agir como estúpidos e idiotas e escrotos e, bem, esperam o que de nós?
Não sou eu que determino o fim de um relacionamento, é o relacionamento em si que deixa de existir. Eu apenas sigo. Parece (e é) simples. O amor é aquele bichinho que precisa ser alimentado todo dia, senão morre também. Na pandemia não foi diferente, o mundo nos desafia e quem não dança junto, perde. É preciso se reinventar, ser criativo, adequar-se às mudanças.
A falta de comunicação num relacionamento tem consequências graves que carta nenhuma, tempos depois, conserta, que arrependimento nenhum apaga. E eu, de fato, nos dois últimos anos tive motivos de sobra para ver que os homens não melhoraram. Eles continuam sendo os idiotas com os mesmos problemas de sempre. E, como eu dizia esses dias, nós não merecemos homens com problemas. Ah, mas problemas todos temos. Aham. Mas, nunca permita que os seus problemas machuquem as outras pessoas – porque elas não têm nada com isso.
Eu cansei de acreditar que algum homem, independente da idade, independente de conviver comigo que falo disso diariamente, não é machista. Que não usa o que ele mesmo faz para me diminuir, para me agredir, para me fazer lamentar pelas coisas que aconteceram. Só alguém que não me conhece para esperar isso de mim.
A pandemia levou da minha vida os homens que não me serviam e dos quais eu, por algum tipo de apego e cegueira, ainda não havia me livrado. Levou o passado que vivia a rotina (que eu tanto detesto), a mesmice, uma pessoa que não me ouvia nunca, sobre nenhuma situação. A mesma que me tratava com grosseria e achava que eu sempre estaria ali para responder quando ele quisesse. A pandemia levou da minha vida com quem tive uma parceria especial, mas que sugava, manipulava, sufocava.
A pandemia também me trouxe uma paixão avassaladora! Foi na primeira vez que saí do isolamento, ainda sob inúmeras restrições, que nossos olhares se cruzaram. Eu gosto da minha vida porque ela tem coisas adoravelmente inexplicáveis (como essa paixão e outras) e aquelas semanas foram loucas – segundo os astros, tudo estava previsto e foi um ponto de virada na vida – e eu só abracei tudo que aconteceu. Saí desse turbilhão com a vida do avesso, depois de ser arrastada por ondas gigantes, lançada contra as pedras do costão, engolido a água intragável do mar… quase afogada, me arrastei em direção à praia pensando que deixava a tempestade em alto-mar. Tola que fui: o pior estava por vir. E eu não vi mesmo! Porque estou, como é, Sandra? Dançando com a vida… de rosto colado…
Pelo menos aprendi uma coisa, eu gosto das diferenças nos relacionamentos. Eu tenho pavor do tédio e pensar em duas pessoas “iguais” num relacionamento não pode ser outra coisa. Eu gosto das diferenças sociais, de gosto, de idade, de práticas e atividades, quanto mais diferente, mais atraente. Bem, não me falta experiência para poder afirmar isso. São as diferenças que me atraem, que constroem um relacionamento interessante, pulsante, desafiante. Porque é com as diferenças que a gente aprende – e se tem uma coisa que eu gosto na vida é de aprender. E o que é um relacionamento senão o contínuo aprender o outro?
Tem homens que acham que têm um controle tão grande sobre as pessoas, que eles reagem muito mal quando vêem que fracassaram. E eu já tenho maturidade o suficiente para não ter pena desses homens! Tanto eu tenho maturidade quanto falta coragem para esses mesmos homens encararem uma mulher séria, madura, que sabe o que quer e não tem medo nenhum de seguir o que sente. Eu sei, é 2022 e a covardia ainda domina muitos homens. A covardia os corrói todo dia, enquanto a cabeça deles repassa cada atitude que deixaram de tomar, cada calhordice da qual foram capazes.
Acima de tudo, esses homens que passaram pela minha vida, nos dois últimos anos, me fizeram aprender uma coisa: eu nunca vou deixar que usem o meu trabalho para me atingir. Eu sempre prezei muito a minha profissão, eu sou super responsável com o meu trabalho, a seriedade com a qual eu trato o que eu amo fazer é sagrada. Quando eu percebi que eles estavam usando isso para me diminuir, para “se vingar”, para tentar me prejudicar porque eles eram incapazes e inconsequentes para assumir o que faziam, eu dei um basta. Jamais alguém – principalmente homens – vai usar o meu trabalho para me fazer mal, porque só eu sei tudo o que eu fiz e passei para chegar até aqui – e não pretendo parar. Isso me fez pensar em quantas mulheres ao redor do mundo são diminuídas, humilhadas, usadas, prejudicadas com os seus trabalhos por causa de homens escrotos – dentro e fora de casa. Aliás, fiquei até rememorando casos conhecidos. Cheguei à conclusão que falamos pouco disso e essa é só mais uma das coisas que, se está mudando, é pouco e lentamente.
Com a alma leve e tranquila eu sigo. Mais tranquila do que nunca. E mesmo que a cada dez anos uma cobra coral cruze o meu caminho, eu vou me arrastar pela praia até que a tempestade passe, que a ressaca amaine e o sol volte a brilhar. Às vezes eu penso, “continuo a mesma”, mas, sinceramente, eu só melhoro. Porque a vida não tem graça com nada sempre na mesma, eu morreria de tédio. O que não muda, e não mudou para esses homens dos dois últimos anos, é me pintarem como um monstro, o carrasco da vida deles! Bem, uma morena pode causar muitos estragos, já ensinou o cinema clássico de Hollywood – e aquele cantor. Quem sou eu para desmoralizar a nossa fama! (Ou para pintar o cabelo!) Como diria Jair… deixe!
Enfim, é a vida. Perdi as esperanças. Os homens não melhoram. Eles continuam os mesmos e tenho que me deparar com eles e suas grosserias, no trabalho, na vida pessoal, na reunião do conselho, em casa, onde for. Não importa a idade, pode ser um jovenzinho ou um da velha guarda, pode ser o mais ativo da igualdade nas redes sociais ou o mais brucutu offline (aliás, este tem mais chances de respeitar e admirar as mulheres, segundo minha experiência). Os homens ainda acham que dominam o mundo e as mulheres – porque, não estão erradas as pesquisadoras, eles ainda o fazem de fato. Vamos parar de fingir que as coisas estão mudando, assim eles também não precisam fingir que se interessam e importam.
Eu só sei que fiquei enojada com a covardia, que senti desprezo pela arrogância, que fiquei indiferente aos lamentos. Porque eu nunca faltei com o diálogo com ninguém nessa vida e fui humilhada e ignorada nas inúmeras tentativas de que o olho no olho e a expressão dos sentimentos resolvessem tudo. Quando não há diálogo, tudo se perde. Eu posso ser a melhor pessoa do mundo quando estou com alguém, até que a confiança e o respeito se ausentem. Daí, eu realmente não tenho mais obrigação nenhuma – com quem quer que seja, não só com os homens.
Já diria Robertão, em paz com a vida e com o que ela me traz… eu sigo – de pé e cabeça erguida. Precisa muito mais que um homem para arrancar minha felicidade de mim. E era uma noite de sexta, chuvosa, já esse Outono chato, quando Elis me ofereceu a canção definitiva desses dois anos, no assunto homens. Se alguém precisa de respostas, esse alguém não sou eu. Os homens que tratem seus problemas e, de preferência, só depois se aproximem de alguém porque, olha, ninguém merece vocês.
O Outono é chato, porém, “ah!, porém!”, Paulinho me anima a relembrar o Verão e todas as decisões que tomei nas longas conversas com o mar e o céu estrelado. Tem tanta coisa que é muito melhor (e mais eficaz) que terapia. Só os indecisos têm medo de mulheres decididas (se forem morenas, então!). Aliás, duvido muito que exista terapia para resolver os problemas (inclusive sexuais) de alguns. Ser bem-resolvida/o é mal visto na contemporaneidade, né. Mas, eu super recomendo!
Obs.: a trilha musical desses dois anos é extensa – a maria palheta ficou muito feliz com a paixão fulminante – e foi crucial para todas as reviravoltas brevemente resumidas nessas duas páginas; mas deixo aqui duas delas: a primeira me faz dar gargalhadas toda vez que toca (e não foram poucas nesses meses todos) e um dia ainda vou gravar uma versão acústica e oferecer aos sofredores; a outra foi um acalanto maravilhoso enviado pelo Destino na voz da deusa Elis (não podia encerrar melhor). As outras, bem, elas fazem parte da minha vida e, quem sabe, estejam aí para embalar novas paixões e tantas outras desilusões.