Não sei preparar café

Eu não sei preparar café. Sem dúvida que fica mais bonito em espanhol (tudo fica mais bonito em espanhol) e numa canção da Shakira. Não saber preparar café tem selado meus dias. Não nasci para beber café ruim. Aliás, faz dois anos que comecei a apreciar o café e a relação nasceu forte com um café irlandês numa cidade linda da América do Sul. No cotidiano, já comprei cafés estrelados e erro a quantidade absolutamente todas as vezes. Relações são assim, quando temos que falar de dois é melhor começar por si mesma. 

Faz tempo que entendo de futebol, é uma herança. Há alguns dias voltei ao velho hábito de usar relógio – as horas me interessam, o tempo é meu mais velho e fiel amigo, cada minuto num relógio bonito faz com que pensar em você seja algo menos obsessivo. Comigo nada é fácil. O tempo passa, já passou demais, às vezes penso: vai passar indiferente aos desejos.

Como deve ser bom saber preparar café. Hoje ainda lembrei da Dona Florinda (ela que sabia das coisas), eu nem sei convidar pra um café – logo eu que já amaldiçoei os convites para tomar café. Bem, tenho uns filmes bons pra assistir. É só o que tenho pra oferecer, mas garanto que tomo banhos aos domingos. Jamais deixaria de tomar banho criando versos apaixonados depois de uma longa caminhada para colocar os pensamentos e angústias em ordem.

Pelo menos agora, com o aquecimento global, deixamos de chorar uma vez ao mês. O frio acabou – não confunda, o frio acabou, a frieza das pessoas segue firme. Tenho dormido às dez uns dois dias por semana e nos outros tenho trabalhado em três turnos até às 23h. Os deuses do sono me acordam pontualmente às seis da manhã para uma oração – sempre fui fiel. Comigo nada é fácil. Trabalhar me afasta das insatisfações e as insatisfações no trabalho me fazem produzir mais. É um jogo nada fácil.

Claro, ainda respiro. Todo dia, por cerca de uma hora, tenho focado apenas no fato de que eu ainda respiro e não posso deixar de fazê-lo nem por um segundo. Tenho me empenhado em dominar o dom de prender o ar – tudo muito incerto por enquanto. Queria, quem sabe, perder o ar. Pela primeira vez na vida fiquei nervosa, foi inevitável. Vou ver o que fazer comigo, afinal por aqui nada é fácil.

Enfim, é só questão de confessar. Não sei preparar café. Ninguém pensa em você como eu. Tristeza maior é tudo isso ficar tão ruim em português. Não sou Shakira, mas, se der bobeira, saco uns versos brotados de desilusões de amor. Deus abençoe as desilusões de amor. 


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