Foram-se os dias, foram-se as noites. Enganei-me horas a fio, sem hesitar percorri estradas e praias fingindo acreditar que existia sem atentar para o que me perturbava por dentro. Meus olhos nunca me traíram. Talvez o gesto, o breve gesto da impaciência – o chegar e já partir, o não quedar-se mais que o tempo estritamente necessário, o sorrir sempre. Nem a inconstância já contumaz era possível, nada justificaria esse não deter-se em lugar algum, em olhar nenhum, os abraços frios.
Isolei-me, eu só tinha a certeza de não querer companhia alguma – além da minha, que me sufocava nos momentos ruins, que me acalma nos momentos distraídos. Mas, eu só queria a mim. Como é doloroso se fazer presente quando a única sanidade possível é estar sozinha. As pessoas falam e eu não ouço, me contam histórias, fofocas, causos e minha cabeça está em outro lugar. Eu finjo o tempo todo.
Meus ouvidos, em períodos afogados em água, sem foco, a fixarem-se no último volume do rádio do carro. Nada mais eles ouviam.
Tanta gente, por tanto tempo, tão perto. É demais.
Porque a vida é viver coletivamente, mas as pessoas só pensam em si mesmas e no que importa para elas. Ainda acham ruim quando você as confronta com a realidade. A vida não merece ser desgastada com gente egoísta. A vida é curta para esperar virginianos dizerem o que precisa ser dito. Passa uma lombada, um controlador de velocidade, mais um domingo de trabalho. Logo, já será outubro. Eles não conseguem acreditar no que sentem.
Parado não se chega a nenhum lugar.
Não todo dia, mas um dia romper o silêncio e a solidão. Buscar companhia, arrastar o coração ferido na areia, encharcá-lo de vinho, afogar as lembranças no mar – é uma nova história, daqui uns meses será mais um marco, uma conquista, uma superação.
Novos finais para bons começos. Sou péssima em esperar. Eu gosto de ação, de movimento, de vida correndo nas veias e na cabeça. Quem sabe um novo projeto, um novo roteiro, um outro bar, uma ideia que me cutuca o sono da madrugada.
Amanhã, de novo a estrada.
Boa a companhia de quem se ama, de quem analisa, de quem nunca se deu de verdade – sou demais minha. Os nomes, os rostos, as pessoas. Limpar a vista, acalmar a paisagem, mirar o mar, a praia em lua cheia. Pode ser fugir, será sempre encontrar-se.
A sós comigo mesma assumo até que tenho pensado cada vez menos nele. Amor, como eu sempre disse, precisa ser alimentado todo dia. A distância faz morrer o prazer. Assumo, porém, há anos não conhecia alguém tão interessante – alguém com quem conversar valia a pena. Ando sem vontade de conversas. Vou, aos poucos, apagando-o da memória. Se os olhos não vêem, a lembrança se esgota.
O amor, porém, também sufoca, morre de tédio e de claustrofobia.
Qual será a medida certa do amor? Vou descobrir, qualquer dia eu conto. Tenho praticado experiências sócio românticas nas horas de distração. Me distraio, quase nem a cabeça nem o coração se ocupam dele.
Queria que esse final fosse mais triste do que tem sido. Preferi ficar sozinha a lutar. Foram os dias, foram as noites sem saber se ele lutaria ao meu lado. Não compro mais qualquer guerra sem alguém ao lado.
Volto ao caminho. Escrevo versos e o muso inspirador se desvanece no tempo de quem perdeu a oportunidade e uma baita mulher. Quem sabe qual será o próximo? Meus olhos nunca me traem.
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