Estava lendo e uma afirmação me chamou muita atenção: dizia que fazer cinema é uma aventura humana.
De fato, boa definição – engato essa na sequência da definição que ouvi de um professor no início da graduação, é a “arte de resolver problemas”.
Seriam, então, humanos e problemas assim tão próximos? Quem sabe, para fazer cinema você deva amar problemas e humanos? Ou amar problemas e desgostar dos humanos?
Um dia defini que a matéria prima do cinema é o ser humano: fazemos histórias sobre pessoas, trabalhamos com pessoas para fazermos os filmes que serão exibidos… para pessoas! É inviável existir cinema sem pessoas. Também não há nada mais difícil com o que lidar do que seres humanos.
Já diria toda a criação artística humana o quão inexplicável é o mundo das paixões humanas. Talvez seja fascinante, talvez seja apenas desmotivador. Um dia você acha que conhece uma pessoa, no outro ela te apunhala pelas costas. Num trabalho ela se mostra muito competente, no outro se desmancha em vacilos. Não há bola de cristal, nem sobre o futuro nem sobre as pessoas.
Eu gosto de aventuras, desde as mais convencionais até as mais delirantes. Talvez não goste muito de me envolver com a humanidade. Talvez, por isso mesmo, já sou mais atinada com suas manhas e personalidades. Tem muita coisa que eu não gosto nos seres humanos.
Não gosto da desonestidade, da falta de caráter e personalidade. Não suporto manipulação (do mais leve ao mais alto grau). Mas, como sempre digo, em toda profissão tem gente desonesta e sem caráter, assim como tem bons e competentes profissionais. No cinema não é exceção.
Quem sabe tenha mais aproveitadores ao redor, visto como é escasso o campo de trabalho. É uma possibilidade. Mas também o setor ainda patina em se profissionalizar e está cheio de gente que considera terra de ninguém.
Aventurar-se é bom. Te chama à vida. No texto buscava-se a compreensão das condições de produção para “ver” os filmes, até mesmo do ponto de vista da crítica. Desde que entrei na produção, apoio esta vertente. Um filme nunca é só um filme – aquele que vemos na tela. Um filme é um contexto muito amplo.
Esses tempos andava desconfiada de que faço filmes para que eles sejam o refúgio de outras pessoas, assim como eu me refugio nos filmes (nos meus e nos dos outros). É uma forma de encarar o mundo, refugiar-se da aventura humana que é a vida (por vezes uma aventura muito desastrada, no meu caso) vivendo a aventura humana que existe em cada filme – no enredo, é claro; a aventura humana que é fazer um filme já é outra história.
Então foi essa a nossa grande atração. Há anos digo que fui para o cinema porque eu gostava de contar histórias. Contar histórias não basta. É preciso dar sabor e emoção ao que eu faço e nada como uma boa aventura.
Lá se vão algumas aventuras humanas, alguns filmes rodados, outros já por rodar – o futuro só o tempo dirá. Como toda aventura, há muitas outras histórias para contar, tanto boas quanto ruins. Se pensam que vou me trancar em casa a cada aventura que teve um tropeço numa pedra ou um arranhão em algum espinho, enganados estão. Não tem como idealizar nada nessa vida. A pedra a gente joga longe, bem longe, e o espinho a gente poda.
O coração já planeja as próximas aventuras…
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