Dois parágrafos

Último parágrafo

Caminhei com uma atípica tranquilidade pelas últimas horas do último dia do último mês do ano entre pessoas em demasia que invadiam o espaço que durante meses fora somente meu. Por ali passei muitos dias daquele ano, entre nevoeiros e dias de sol, com chuva e céus enfarruscados. Nada me atingiria, lixo sobre a areia, gritos estridentes, músicas saindo de caixas de som gigantes, nada me abalaria. Eu pertenço a este lugar. Fui até meu observatório da vida e senti-me como as tartarugas, o mundo se perturba e minha certeza é que elas estarão lá nadando e comendo seus peixes, sem olhar o trânsito parado, sem se importar com a roupa branca nem se o espumante gelou. Era isso, eu e minhas companheiras nadamos entre águas turvas e perturbadas. No santuário, fiz minhas últimas preces e carreguei o corpo salgado de mais fé. Como qualquer outro dia daquele calendário, era eu e o mar e a paz. Nada me atingiria. Nunca foi sorte.

Primeiro parágrafo

Se fosse possível descrever o quanto de histórias e força vivem nestas paredes e neste chão de areia, eu pararia de escrever. Por isso acordo nas primeiras horas do primeiro dia do primeiro mês do ano com essa gana de viver. É preciso contar histórias e vivê-las. Imperturbável atravesso as marolas e as tormentas, cochilo na rede da varanda como se não viesse uma rancheira chata da rádio do vizinho nem me provocassem os desafetos. É bonito o vai e vem das nuvens do céu assim como esteve lindo o céu estrelado de fogos coloridos nas boas-vindas de mais uma longa e desafiante caminhada. Encontro sorrisos em mim mesma. Faço meu percurso, que Deus me dê chance de ainda fazê-lo muitas vezes este ano, até o observatório onde alinho os pensamentos, sonhos e desejos. Parece até que vou abrir as portas para estes últimos, em breve. Eles estiveram esquecidos. O exército precisa ser montado, os alimentos e estratégias serão preparados, insiste a alma em lançar-se sôfrega e eu a acalmo. Hoje, ainda não.


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