Agenda aberta

É a hora de colocar ordem na casa, depois de dois meses intensos e esparsas e tensas anotações sobre pensamentos, ideias e sentimentos. Colocar ordem na casa para seguir em frente. Seguir em frente: a vida chama e não é sábio fingir que não ouviu.

(segue lista de canções para ouvir enquanto lê, mais uma lição que aprendi esses dias e também é sobre filmes, canções e experiências)

Meu lugar

Será que todo mundo tem um lugar no mundo onde é seu ponto de equílibrio? Há vinte anos eu encontrei o meu lugar. Nem sempre que preciso consigo ir até lá – de uns anos pra cá ficou ainda mais difícil. Algo ser difícil nunca foi um problema pra mim. 

O meu lugar é lá, é o equilíbrio na balança, é onde me reencontro com todos os meus eus que por lá já passaram – com os desejos, os sonhos, as lutas e a consciência. É onde vou para juntar os pedaços e para comemorar. Motivo sempre há para ir ao meu lugar e olhar as certezas que já desenhei naquele céu.

Que triste deve ser a vida de quem não tem o seu lugar no mundo. Já pensou vagar por aí sem ter a segurança de onde pode ver a si mesmo? 

Precipícios

Correr riscos, andar à beira do precipício. Ter os pés firmes em lugares incertos e perigosos. É um modo de vida, uma escolha. A ação precisa da ilusão, devo ter ouvido em algum filme. Iludir-se é um dom. Lutar contra si mesma é luta vã. Meu lugar é lá no precipício, de onde vejo o mar aos pés, o contorno das ilhas, a imensidão da vida.

“Não me iludo mais”, eu me disse inúmeras vezes enquanto sonhava acordada, mais uma vez. No outro dia, caí da cama. E queimei a mão em óleo quente. Também lancei longe, sem querer, uma taça de cristal cheia de bom vinho. Talvez seja bom eu me iludir, afinal. Os danos físicos e materiais são menores. Sonhar é meu superpoder.

Vim, esta última vez, do meu lugar com o coração mais disposto a me perdoar. Já me culpei demais pelo que os outros fazem comigo. Chega.

Em respeito àquela mulher que ontem cruzava aquelas praias, que subia e descia aqueles morros, que se preocupava tanto em dar conta de todos os compromissos, que se submetia à falta de conforto e segurança, que nunca desistiu, aquela mulher eu de ontem que sabia bem o que queria e se esforçou e lutou tanto – eu devo respeito a ela e preciso me perdoar mais por ser vítima do mal que me fazem. Vou lembrar disso na próxima vez que eu voltar ao meu lugar.

Só Deus é quem sabe

Nem se constituíram em capítulos. Tirei algumas páginas para escrever e sobraram páginas em branco – e foram rasgadas. Não tenho porque manter páginas em branco, minha vida não merece isso. Lá do alto, lancei essas páginas ao rio Belém. Pessoas que não gostam de desafios não são bons personagens, nem na ficção nem na vida real, e eu trato bem meus personagens. Como sempre, eu esperava mais de você, meu bem. A liberdade é uma porta que precisa coragem para ser aberta, porque ela nunca mais se fecha. Sim, devo ter ouvido essa em algum filme também. Sem coragem de viver desafios, restam páginas em branco. Nem mesmo criei versos sobre cultivar um pé de manjericão para eternizar tua lembrança. Sobre você não escrevi nem um verso – muito menos em francês. Páginas em branco na longa estrada, parece que meus cadernos com versos se tornarão relíquias. Juro que tenho dois versos em espanhol e um em portugês e nenhum deles guardou sequer ressentimento. Aprendi apenas a quebrar padrões. As lições ficam.

Como deve ser horrível viver sem poesia. 

Amor & Política  l  Política & Amor

Terminei colchas de retalhos muito bem costuradas nos últimos meses, alcancei uma harmonia que fala por si só nos atos e palavras. E quem diria que o mundo representaria nada mais que fagulhas, fogo morto, brasas afogadas. Eu gosto de atiçar o fogo.

Os babacas são muitos nesse mundo. Jamais voltarei a me culpar por não identificá-los a tempo. Eu faço tudo com amor, esse é o meu segredo. Descobri, porém, que apesar da larga experiência com os babacas, ainda me engano profundamente. Tem alguns que são mestres em camuflar como são. Prefiro um babaca honesto. Não é? Life is too short to keep bad memories. (filme? não faço mais ideia)

Nunca me faltou sinceridade em nenhum ato, em nenhuma palavra. Talvez as pessoas não estejam mais acostumadas com isso. Mas, se tem uma coisa que aprendi na última leva de lições da vida foi a de não buscar mais desculpas e justificativas para os erros dos outros (principalmente se eles forem homens). Nunca mais. Como a gente demora pra aprender essa lição!

Ainda dói, de alguma forma. Porém, seguir em frente antes que dores piores aconteçam é a única coisa inteligente a se fazer. 

Fiquei indecisa, então era melhor eu me arrastar mais para a política? – meu cinema é político, meu viver é político. Sei lá, deixar o amor fora dessa. Sorte no jogo, azar no amor. Como eu gosto de uma aposta! Sei lá. Ainda bem que não tomei essa decisão. Não vou desistir do amor. Não tenho porquê escolher entre o amor ou a política. Na real, na prática já faço tudo com amor e tudo que eu faço é político.

O amor é revolucionário. O amor é político

Me permito caminar y sentir. É tão gostoso sentir. Entregar-me ao que sinto. Caminhei muito hoje e percebi que entregar-me ao que sinto é minha pérola. 

Mais uma página arrancada em branco. Restaram memórias indeléveis no corpo. 

A paz

Nada nem ninguém vai abalar a minha paz. Só eu sei a guerra que eu vivi para hoje tê-la sagrando meu corpo e minha alma – e meu coração. Busquei a paz como missão de vida contra toda a maldade alheia e contra os babacas que cruzaram meu caminho. 

Minha paz vale mais que tudo.

Àqueles que arranham minha paz, dedico meu silêncio e meu sumiço. Sigo em frente. Eu guerreei para alcançar a paz, agora que a tenho não entro em nenhuma batalha boba. Uma mulher em paz com seu passado, com suas experiências e com suas cicatrizes não se machuca por mais ninguém. 

Privilégio macabro

O conceito que ouvi (não foi em um filme, foi num debate sobre filmes) e roubei pra mim:  privilégio macabro de viver nesses tempos que vivemos. As guerras, as mortes, a fome como arma de extermínio, a destruição, as injustiças, as violências. A quadra terrível da História. Por isso mesmo tenho desfiado o conceito de que precisamos buscar o bem. Amor e política andam assim juntinhos. Não serei eu mais uma a machucar os outros, a fazer o mal, a destruir. É preciso praticar o bem. Só tenho amor a oferecer. O mal não tem a última palavra. 

. Quem diria que ainda me resta fé. São os pés firmes à beira do precipício. É ter amor pra dar mesmo após mais um babaca. É rir das páginas em branco. No caderno ainda há páginas para muitos versos. Fé nos gestos. Fé que o bem não saiu de moda. Fé na fé contra as ações que nos tornam testemunhas desse privilégio macabro. Faço tudo com amor, desde lavar as roupas até escrever um roteiro. Não tenho forças pra perder a fé.

Fera ferida

Não vou mudar. Esse caso não tem solução. Quando passamos por algum trauma ou experiências ruins, dizem que precisamos mudar. Eu não vou mudar. Sou espontânea, apaixonada, exagerada, introspectiva, romântica. Se não for assim, não serei mais eu – a paz me mostrou que não são os problemas dos outros que devem ditar regras sobre como eu levo minha vida. Quem abusou da minha personalidade é que tem que perder o sono. Eu sigo em frente. 

Viver

Viver. Viver nunca é para amanhã. Colocar a casa em ordem para seguir adiante, comprar as passagens, reservar os hotéis, fazer as malas. Convivi a vida inteira com a morte, muito antes de encontrar a paz eu já sabia que viver é nobre. Nunca é para semana que vem. Viver é hoje. É viver o que aparece. Às vezes, iludida. Às vezes, enganada. As páginas podem ficar em branco ou serem arrancadas. Viver é imprescindível. Em algumas páginas surgirão versos, em outras conceitos.

Agenda aberta

A partir de amanhã, às 8h, a agenda reabre. Quero novas experiências, quero repetir tudo aquilo que mais amo. Vou correr atrás do trio elétrico, vou retomar sonhos que estavam me aguardando, vou me abraçar à coragem e encarar novas empreitadas. No trabalho e na vida. Porque a vida não é só trabalho, mas como política e amor, tudo anda muito junto. 

Se eu voltaria àquela vinícola no Uruguai? Claro, mas a viagem e a experiência jamais seriam as mesmas. Ou talvez eu escolha ir em outra. As possibilidades de felicidade não são egoístas.

Em seis meses eu consegui arrumar a casa, organizar os pensamentos, rever feridas cicatrizadas e preparar a vida para amanhã. E isso inclui a escrita (aqui e as demais).


https://youtu.be/e3es0CjkQIA?si=PQlsVvcUtX0RVkY0


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