Entendo os poetas
que escrevem sob a brisa
dos cafés das belas cidades
acolhidos por portos e faróis
diante de guardanapos
e xícaras vazias
O olhar a perder-se no rio
que mancha o mar
em marés baixas
e obcecados pelo jardineiro ao lado
o som do cortador
e o cheiro da grama
Somos pequenos
em silêncio observamos
a vida em vagas e idas
e o velho que com calma
percorre o passeio
com o tablado de cocada
na cabeça
Apenas observamos
poeta não julga
poeta é livre desses pecados
das mentes mesquinhas
das almas que envelhecem
Sento-me aqui
e em cada flamboyant há verso
no mar crispado há Verão
O poeta escava
a vida alheia no prazer e na labuta
a natureza que verga e luta
Não é o poeta dono dos tribunais
das inqusições e do inferno
O poeta é livre das morais
e também o deveriam ser os cronistas
Entendo os poetas
entregues ao solícito garçom
que lhes traz mais chá
ao detalhe sutil do candelabro
iluminado antes do fim da tarde
ao beija-flor que visita o bebedor
e aos ponteiros parados
na varanda auspiciosa:
empunham seu binóculo
mirando o mundo.
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