Porque “De Amor” entrou para a (minha) história

Não sou nenhuma entendida em música, já comentei isso aqui. Que me perdoe Schopenhauer, música pra mim é sentimento, emoção e estado de espírito.

Passei por um período de coração atribulado faz algumas semanas. Momento crítico mesmo. Emoções à flor da pele, reviravoltas, desejos e realidade assim num turbilhão. Andava pela Ilha, trabalhava e levava minha vidinha pacata, solitária e feliz. E o coração a me arranjar problemas sem fim. Hoje os problemas são outros e felizmente dei um cálice ao coração. As coisas de vez em quando ficam sob controle, às custas de deleites errados e preocupações reais. Pois bem.

 

Naqueles dias de tempestades emotivas havia anotado na agenda o show da Lilian. Dia quatro de julho no teatro da Ubro. Minha agenda, a sem cabeça e sem rumo. Numa correria inacreditável, entre contratempos sem fim, lá estava eu, oito e meia da noite na porta do teatro. E, pá, tive que dar uma volta na quadra atrás de caixa eletrônico aberto. Finalmente consegui sentar lá no fundo da platéia, sozinha naquele pequeno e tão intimista teatro. Intimista sim, o que já me deixava um pouco incomodada. Não sei, às vezes ando nessas de me distanciar das pessoas e com o coração em revoluções eu dispenso coisas intimistas porque não, ninguém pode saber o que se passa aqui dentro.

 

Lilian, ex-colega de PET Letras, catarina morando no Rio de Janeiro, comadre twitteira, noveleira, de programas de música como Ídolos, The Voice (foi assim que nos reencontramos depois de tanto tempo pelo Twitter), admiradora de personagens e atores tal qual eu. Virginiana. Nos tempos de graduação e PET eu já a ouvia contar dos shows, de quando e onde teria. Nunca fui a nenhum. Naqueles tempos eu não ia a nada de eventos sociais, festas ou qualquer coisa do gênero. Até parece que hoje vou… Enfim, nunca tinha ouvido a Lilian cantar. Ouvi faz algum tempo, quando ela ainda estava em Florianópolis, vizinhas da Trindade, pelos links que ela divulgava no Twitter. Gostei. E aí teve uma gravação dela para aquela música da abertura da novela O Rei do Gado (sou péssima com títulos e afins, faço relações esdrúxulas, eu sei). Linda, linda, linda. Fiquei com a música na cabeça por dias seguidos.

 

Um dia Lilian comentou que estava fazendo um curso de composição com o Leoni (e suspiros à parte) e entrou naquele momento de criar coragem para se assumir compositora. Apoiei com muito entusiasmo! Se elogiam tanto a voz da Lilian, eu estendo os elogios à pessoa, à sensibilidade para as coisas a nossa volta. Temos visões em comum, coisas dessas que passam pela educação, pela família, por valores. Via nela uma compositora especial em potencial. E vieram as primeiras canções. “Égide” é um marco, muito bem estruturada, linda. E “Motivo” me lembra muito uma canção menos conhecida do Cazuza mas que é uma das minhas favoritas, do Burguesia, a “Quando eu estiver cantando”, é quando a gente fala, escreve, canta, daquilo que faz mas, principalmente, faz porque acredita.

 

Não sou do tipo fã atirada, declarada, expansiva. Eu sou na minha, todo mundo sabe. Aliás, quem me via no PET sabe que essa impressão é forte. Mas ali naquela platéia tão intimista, a Lilian bastante expansiva, falava com as pessoas, fazia imitação, cantava. Felizmente eu no meu cantinho escuro no fundo podia observar tudo (essa mania) e não estava preparada para uma coisa. Coisa que acontece com a gente que vive de emoções. Gente que está sempre disposta ao Destino.

 

Eu não tinha ainda ouvido “De Amor”, composição da Lilian. Quando começou senti aquele aperto na garganta. O coração, esse feliz desavisado, no meio do seu turbilhão de casos e acasos, disparou. Porque com música é assim. Com filme é assim. Com versos e prosas é assim. Com desenhos e pinturas é assim. Eu sinto, eu vejo, eu ouço, e estou o tempo todo em mim. Naquele momento Lilian cantava o que nem eu sabia direito que ia aqui por dentro. Quando as coisas entram tanto em mim, quem sai sou eu. Saí do show e nem fiquei para dar um abraço porque nada do que eu dissesse poderia fazê-la entender o que aquilo tinha significado pra mim. Saí caminhando sozinha pelas ruas do centro, pensativa, sentindo um arzinho frio na pele, com o olhar em algum lugar que até hoje não sei onde. “De Amor” ribombou em mim por dias a fio. Passado o drama hoje me sinto na obrigação de escrever isso aqui.

 

 

Lilian é uma artista porque é isso que artistas fazem conosco além de dominarem técnicas e conhecimento. Agora “De Amor” já é daquelas “marcadas” na minha vida. De longe musicalmente, mas pelos motivos semelhantes na minha história, ela me lembrou “Tua Canção”, do Barão. E digo pra Lilian: estar entre Barão e Cazuza nas minhas referências pessoais é muita responsabilidade!

 

 

Eu sei que o dia das crianças foi ontem

 

 

Ontem foi dia das crianças. Eu não abro mão de comemorar a data, mesmo já tendo passado dos dezoito anos a algum tempo. Pouco tempo, é claro.

 

Sempre espero presente, também.

 

Ainda ontem quando liguei para a minha mãe perguntei: e o presente?

 

Meu namorado me questiona sempre dizendo que não sou mais criança. Ora, vejam bem, ele se contradiz.

Toda vez que eu conto alguma coisa da minha infância e digo algo como “eu não tinha paciência” (ontem mesmo comentei isso sobre jogar video-game com meu irmão quando éramos crianças) ele na hora retruca “não tinha? tu não tem!”.

 

Ou seja, posso concluir que sou quem eu era, ou seja ainda, quem sempre fui!

 

Porque não perdi por todas as desaventuranças, as desgraças, as perdas, as tempestades, as brutalidades e crueldades a minha infância nem o meu jeito de ver e levar a vida. Esse “jeito” que faz as pessoas se admirarem quando digo minha idade. O corpo envelhece, e só.

 

Sabe como é? Chegam e tentam te destruir, destruir tuas idéias, teus sonhos, teus mundinhos, tentam destruir tua família, tua infância, tua adolescência, tua juventude, teus sentimentos, teu amor, tentam te fazer nunca mais acreditar nessas coisas, tentam te fazer secar por dentro, se desiludir, se desesperar, tentam te fazer alguém amargurada, infeliz, tentam estragar todos os bons momentos que você teve, tem e terá, tentam machucar quem você ama, tentam te machucar das formas mais bobas e vis possíveis. Eles tentam.

 

Eu tenho esse lema: quando tentam te derrubar, dê a volta por cima. E na minha vida quase todos os dias são assim, tentam tudo isso que eu escrevi ali em cima, e eu dou a volta por cima.

 

Vai ver não me conhecem o suficiente para saber que é em vão, e sempre será, tentar me destruir. Porque se essa criança adorável sobreviveu e reviveu, nada há de destruí-la.

 

Sei que continuarão tentando. Pouco se me dá.

 

E por isso que também sei amar as crianças. “adivinham tudo e sabem que a vida é bela!” (Cazuza, sempre, né?)

 

 

O dia das crianças será sempre feliz. O dia seguinte não mais, porque a vida dá e a morte tira. Porém, me dou o direito da tristeza pelas minhas perdas. Quem é sempre feliz, vive a mentira. Quem é sempre triste, vive uma ilusão.

 

É preciso ser feliz. É preciso, de vez em quando, ser triste.

 

E perder, na verdade, nunca é perder quando a morte tira. Porque tudo o que a vida deu eu guardo aqui no coração com uma alegria e uma felicidade imensas. Isso nada nem ninguém nunca nos tira.

 

 

 

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