Sonhos de um barrigudinho

Farmácia. Pouco movimento. Duas mulheres na entrada conversam. Um menino pequeno está entre elas. Menino mediano (o “barrigudinho catarrento” do Caco Antibes). Idade, não sei, nunca sei dizer idade das pessoas, quem dirá de crianças.

“Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci?”

As mulheres, alheias à repetição da vozinha estridente, continuam a conversa animadamente (sobre o que é que me escapa, vozes estridentes consomem minha atenção). Barulho na rua.

“Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? “

Eu, prestes a sair da farmácia (senão por já ter feito o que eu queria, mais para tirar aquela voz estridente dos meus ouvidos), com ânsias de beliscar o barrigudinho e soltar: não!! Tu tá gordo!

“Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci?”

Para a mãe aquela coisinha barriguda e estridente não parece existir.

O controle antes de ficar desesperada e intervir na cena me leva a disparar rumo à rua.

“Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mãe, eu emagreci? Mããããe!”

Um olhar espantado (pareci dizer “ó, essa coisinha ainda existe, não foi hoje que ele se perdeu na multidão!) para baixo.

“Emagreceu, filho, emagreceu.” A conversa continua.

“Eba! Agora eu não sou mais gordo! Né, mãe? Eu sou magrinho!”

Sorriso triunfante.

Rindo, eu subo a ladeira. Sofro algumas vezes com a visita mental da voz estridente e repetitiva.

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