Quando ele vem, o sol esquenta a porta da frente de casa. O ar fica leve e meu sorriso – que é todo para ele – aflora. Este sorriso, que é dele, às vezes deságua em gargalhada, por vezes em risos frouxos e cócegas, e de vez em quando até entre olhos marejados. É no ombro dele que lágrimas silenciosas dizem tudo o que preciso. E me deixam pronta pra outra. Ele é sempre bem-vindo e tem seu lugar à mesa do almoço. É por ele que eu espero a semana inteira – quando não há os, também santos, feriados e folgas.
Antes de tudo eu quis o abraço dele. Eu, que nunca gostei de abraços – ainda não gosto, só do dele. É neste abraço que eu gosto de estar depois de dias e noites de tanto trabalho e agruras da vida. Essas que a gente tem que suportar, lidar, resolver e seguir em frente. Ele diz que eu sou boa nisso. Eu cá tenho minhas dúvidas. E quando eu pergunto como faremos com os percalços, ele me diz que passaremos por eles e os deixaremos para trás. Acho que nunca ouvi algo tão lindo. E, aliás, devo sublinhar as respostas perfeitas que ele dá (eu, que sou a lady das perguntas).
Quando ele vem, as gatas miam em algazarra. Meu cachorro agora tem seu melhor amigo. E eu nem sinto ciúme. A gente divide bons sentimentos numa boa. Ele toma meu tempo, quase todo meu tempo. E não saberia mais outra forma de ocupar as horas.
Quando ele vem, visto meu melhor humor ao acordar – mesmo que mal tenha dormido algumas poucas horas. Vasculho meu lado bom e distribuo minhas alegrias. Nem sempre, porém, sou só sorrisos. Ele já esteve ao meu lado nos piores momentos. Já ouviu meus impropérios (e acho que sou bem boa nisso). E ficou, ali, ao lado. Não só me abraçou como me levou ao alto do morro para termos aquelas conversas sinceras, profundas, entre almas que se entendem. E quando estou imersa em problemas, ele fecha janelas e cortinas ao anoitecer. Eu reparo.
Quando ele vem, até o dia na cidade fica bonito – com a chuva fina a nos levar para debaixo do cobertor ou o sol a nos garantir uma tarde no quintal. Nesses dias eu garanto o almoço me exibindo na churrasqueira. Ou apenas relembramos nossa história a confundirmos dias e meses. Ou desejamos nossas próximas datas juntos.
Quando ele vem de surpresa, é que eu tenho certeza.
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