Nossos invernos, meu bem, findaram na última Primavera – aquela que eu te disse que seria inesquecível. Este inverno se esvai sob vestidos frescos e sandálias de dedo. O inverno cansou de se fazer presente em nossas vidas, resolveu dar luz aos dias e calor às noites. Sentiu-se intimidado, logo ele que nos retrai ao excesso de roupas e precauções, com a nossa felicidade e achou melhor não aparecer desta vez… ao que dizem, até sugeriu que a Primavera pegasse leve com as suas famosas enxurradas (lembra da penúltima? que lavou de vez nossos pecados e desesperanças por mais de quarenta dias?) e nos regalasse com o seu amarelo mais doce.
Agora a pouco, nas suas últimas horas, o céu que torrou nossos corações foi sendo tomado por nuvens tristonhas. Parecia até que o inverno estava queixoso de não ter nos dado aqueles dias de cobertas e aconchegos no nosso sofá. Parecia o olhar de um grande lutador que se dá por vencido. O frio penetrante e os teus olhos cabisbaixos deixaram de existir quando entendemos que os adoradores do calor (ensopados de suor) respeitam a saudade dos inverneiros. Ou, quem sabe, que a sedução dos adoradores do calor derretem as desconfianças dos inverneiros sob faróis ao final dos molhes.
Este inverno se esvai com cara de contrariado. Veio, talvez, por pura obrigação. Chateou-se todas as vezes que nos viu aos beijos de sorvete e milkshake. Retirou-se das nossas fotos nos costões ao alto diante de mares com poucas tainhas. O inverno arrefeceu diante do calor dos nossos abraços. Não quis nem chover sobre nossas noites de leituras e vinho.
Sei que fiquei sem fondue. Mas sorri ao ver as amoreiras, a cerejeira, os limoeiros, a jabuticabeira e as pitangueiras a florirem carregadas antes da hora. Descobri, mais uma vez, que meu sangue corre nos veios delas. O inverno, porém, não negou-nos os morangos cada vez mais vigorosos. O amor eu não sei, mas a natureza é sábia.
Nossos invernos, meu bem, serão eternas primaveras a florirem doces frutos que teremos o prazer de colher do pé. Mesmo que, por vezes, os mares de ressaca insistam em aparecer, estaremos juntos a admirá-los, de mãos dadas. Neste último minuto, desejo que o inverno siga em paz para deixar a minha eterna amada Primavera esgueirar-se pelas frestas das tuas incertezas e das minhas irritações. É ela, a Primavera, meu bem, e te prometo: será inesquecível.
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