Não sou tão fútil quanto pareço quando fico louca em busca de esmaltes.
Ontem saí em busca de um livro. Fazer isso indo a uma livraria é fácil. Mas em sebos é outra coisa. Há quem chegue lá e pergunte “tem A Divina Comédia”? E aí a moça do sebo percorre alguns corredores, pega um volume, entrega para o comprador, caminha mais um pouco até a prateleira escrito “poesias”, os olhos passeando. Aí, logo atrás vem o comprador com o livro que ela havia entregado pra ele “essa aqui é A Divina Comédia da Fama, eu quero o do poeta, do Dante!”. Eu ali, analisando os títulos da outra prateleira penso comigo que nunca entrei em um sebo e perguntei se tinha essa ou aquela obra. Talvez quase nunca tenha entrado em um sebo em busca de um livro em especial. Sebo sempre é a relação carinhosa da surpresa, do que ele guarda ali empoeirado na prateleira pra mim, especialmente pra mim.
Um pouco antes eu havia percebido que deixara o dinheiro na outra bolsa. Mania de sempre trocar de bolsa. Mas na carteira tinha alguma coisa.
Não encontrei o livro que eu procurava. Mas encontrei outras coisas, pelo dinheiro não seria possível levar todos. Aí pensei que me sentia feliz em vê-los ali, mesmo não podendo possuí-los. Estou em um momento especial e delicado em relação aos livros. Muito especial.
Deparei-me com alguns dos meus autores favoritos. Enfim resolvi levar dois Eça de Queirós que não tenho. Tudo por dez reais, apenas.
Pra mim, valor, dinheiro e números são inexplicáveis e até inexistentes. Nunca nenhum livro pôde ser mensurado por quanto eu paguei por ele em relação ao que eu aprendi, senti e pensei com ele.
O dia não estava bom e, como tantas vezes na minha infância e adolescência, eu me refugiei num sebo, em meio a prateleiras abarrotadas de livros velhos e amarelados. Não acredito que alguém conheça o verdadeiro prazer da relação com os livros frequentando somente livrarias. Para além do modismo e do preconceito, o sebo é quase um santuário.
Com uma próxima viagem a terrinha, novamente, no fim de semana, pensei em ir nos sebos de lá para procurar o livro que tornou-se meu atual objetivo. Quem sabe algum deles está esperando por mim com esta surpresa?
Viram? Nem só de lojas de cosméticos eu vivo. E agora largarei TV e computador e irei ao Eça.
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