“o homem é a cabeça da mulher”
Folheando meu caderno de anotações encontrei esta frase que ouvi num dos últimos casamentos que fui. Aliás, parece que todo mundo resolveu casar este ano. E, definitivamente, eu serei a última a casar dentre todos que eu conheço. Tem gente que vai até casar de novo antes de eu resolver fazer isso. Porque é preciso pensar antes de casar, e se você realmente pensa, não casa.
Já me perguntaram tantas vezes se eu tenho algo contra casamento. Bem, digo e repito: tenho. Principalmente se for o meu.
Não tenho nada a ver nem julgo as escolhas dos outros. Reprovo a incoerência, é claro. Também não vejo com bons olhos atitudes inconsequentes.
Mas, leiam novamente a primeira frase. O casamento era sionista, a moça tinha dezesseis anos e era católica, o rapaz tinha nem vinte anos, acho, e a família já segue esta religião há tempo. Confesso que fiquei surpresa e me diverti com o casamento religioso. Certo, casamento não é algo para ser divertido, mas eu me divirto com cada coisa! O anterior, por exemplo, era católico e eu achei um casamento “show”, no sentido de que parecia mais um show com amiga da noiva cantando, declarações para esse ou aquele, santa entrando, outra cantando e padre fazendo piadinhas. O sionista tinha uma orquestra de trinta pessoas que ocupava metade do ambiente. As pessoas muito bem vestidas e sérias. Os pastores, completamente perdidos, anotaram na Bíblia todas as passagens que citavam as palavras “marido” e “esposa” e ainda leram um trecho do livro de Ruth em um contexto errado. Enfim, eu lá de vestido curto, cabelo curto, unhas roxas, destoava e recebia olhares assustados, por isso não poderia externar esse divertimento todo.
E as minhas amigas por aí se casam. Sobre isso nada tenho a dizer.
Porém, por que elas abrem mão da independência, da altivez, da individualidade delas? Eu conheci essas mulheres ainda meninas, meio mulheres, que faziam o que bem entendiam, iam e vinham quando e como queriam, estudavam, trabalhavam, tinham o dinheiro delas, ou dependiam do pai, aproveitavam a vida sem depender de um “sim” ou “não” de um cara. Elas tinham cabeça, e boas cabeças. Mas esses caras uma hora resolvem sair da casa dos pais, ou chegam perto dos trinta anos e decidem ter alguém para lavar a louça e as cuecas deles.
E é aí que não consigo entender. O homem é a cabeça da mulher? O homem manda? Entendo e temo que se o homem paga, ele manda! E isso eu sempre falei. Homem que sustenta se dá ao direito de mandar e uma hora isso vai ser jogado na cara.
Mas por que elas mudam tanto?! Por que elas ficam chateadas e me dizem que têm horário pra chegar em casa, senão ele liga perguntando onde elas estão? Por que elas se colocam no papel de lavar a roupa, passar, cozinhar, limpar a casa, e, ao final do dia, estão lá lindas e cheirosas?
Eu ouvia dizer que hoje não era mais assim, que isso era coisa da época das nossas mães. Mentira. É bem isso que acontece.
O que me entristece é ver que elas não são felizes. Vejo que elas embarcam numa situação dessas empurradas pelas circunstâncias e não porque escolheram ou desejaram. Elas vão aceitando, elas vão baixando a cabeça (aquela mesma tão altiva que vi tantas vezes ao pronunciarem suas escolhas), vão sentindo incertezas e seguindo o que ele decidiu.
Ser feliz também depende de escolhas, de saber dizer não.
Não discuti aqui, em nenhum momento, sentimentos. Nunca disse que o que elas sentem por seus respectivos não é verdadeiro, bom e importante.
Infelizmente, é preciso algo além de sentimento para decisões como casamento.
Eu tenho minha teoria pessoal que essas escolhas devem ser despidas de interesse, necessidade, circunstâncias, inseguranças.
Eu não acredito nem professo que o homem, seja ele qual for, é a cabeça da mulher. Essas mulheres que eu conheço têm cabeça, muita cabeça, cabeça boa e no lugar. E largam os estudos, a vida profissional que conquistaram, os desejos, as viagens, os sonhos por uma vida de amélia, por um homem. Pra mim, o homem que pensa assim e faz isso com uma mulher (a mulher que ele diz que ama) não merece respeito nenhum.
Nenhum homem é a cabeça de nenhuma mulher. E eu não quero vê-las infelizes por dez anos ou mais ou menos até redescobrirem aquela mulher que um dia elas foram, aqueles sonhos lindos, e decidirem retomar a vida que elas sempre quiseram.
Ah, só para não esquecer, é possível casar sem deixar de ser quem se é. Nem precisa virar a empregada do marido. É possível.
Adorei seu texto, perfeito!
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Ah, tu eu sabia que ia concordar! Escrevi assim, pensando em nós!
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