Eu poderia pensar mais nos outros. Tentar entender que eles têm sentimentos e que sofrem. E que podem sofrer por mim.
Mas aí não seria eu.
Eu poderia ser mais compreensiva, mais carinhosa, mais sentimental.
Aí também não seria eu.
Eu poderia sossegar o facho, como dizia minha avó, tomar rumo na vida, vergonha na cara, me olhar no espelho e dizer “chega! pára com tudo isso.”
Ainda assim, não seria eu.
Eu poderia fazer como todo mundo, ter só uma casa, um endereço, uma profissão, um emprego, uma família, um destino.
Aí eu seria só um eu, dentre tantos eus que há em mim.
Eu poderia ser simpática, amável, popular, diplomática.
Aí ninguém acreditaria que era eu.
Eu poderia concordar mais, desconfiar menos (pois desconfio até da minha própria sombra, como sempre disse meu pai – e que as caminhadas noturnas dos últimos dias confirma), falar menos, ouvir mais, escrever menos, ler menos, ficar mais tempo no mesmo lugar.
Mas aí nem eu me reconheceria.
Eu poderia tentar conciliar mais todos os meus eus que se entendem tão bem.
Mas aí eles não seriam eles.
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