Às vezes acho que tenho os pensamentos mais impróprios para os lugares onde estou.
Esses dias saí e enquanto caminhava me duelei com uma das teorias que fico formulando nas horas menos vagas. Horas depois, quando cheguei em casa, sabia exatamente onde, qual música tocava no mp3, como eu andava, o que eu vi – tudo passava como um filme colorido na minha cabeça – quando estava duelando com a teoria na rua e por nada desse mundo conseguia lembrar qual era a grande questão acerca da teoria. Dias depois, do nada, lembrei. Volta e meia essa teoria reaparece nos meus pensamentos.
Ela é simples e boba. Não vale nem o tempo de leitura de vocês.
Há tanto tempo tenho a teoria de que encontrarei o amor da minha vida num supermercado. Um olhar, um esbarrão, uma coincidência boba qualquer. Convivo com essa idéia e muitas vezes lembro dela quando entro num supermercado. Passei aí mais de um mês sem entrar em um supermercado e quando o fiz semana passada nem lembrei da teoria – me preocupava encontrar espigas de milho com qualidade e bom preço para fazer um estoque. Nem vou dizer que tinha, comprei bastante (agora somos em quatro para dividí-las!) e ainda vi um homem vendendo na estrada e outro em frente ao restaurante onde fui no dia seguinte. Depois de meses sem em dois dias havia milho para todos os lados. Mas essa é outra história.
Então tenho essa teoria. Às vezes caminho despercebida pelo supermercado pensando na teoria. Normalmente não gasto muito tempo em supermercados. O que, aliás, diminuiria minhas chances de encontrar o amor da minha vida.
A teoria não tem nada de romântica, é verdade.
Mas não me vejo encontrando o amor da minha vida no carnaval, por exemplo. Amor no carnaval, só de carnaval – como diz aquela belíssima canção cantada pelo Jair Rodrigues (aliás, ele é uma simpatia e o show dele é uma loucura!). Mamãe e papai não querem que eu case porque acham que é cedo (para eles sempre será) e saudade é coisa boa que dá e passa.
Eis que há um tempo, encontros e desencontros da vida, pensei em reencontrar um grande amor da minha vida num avião. Ponho mais fé e romantismo no encontro num avião (sem aquele clima de “foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a tua mão”) do que num supermercado, é verdade. Num aeroporto não. É difícil eu encontrar alguém num lugar assim porque meu estado de espírito é sempre aéreo demais (só por milagre encontrei minha mãe no de Brasília). O “aéreo” não foi piadinha infame. Meu nome não é à toa, ele diz tudo a meu respeito. Tudo.
Eis, então, duas boas possibilidades. A eterna do encontro num supermercado e a do avião. Cada uma delas traduz um perfil de “amor”. Era sobre esses “perfis” que eu tenho pensado nos últimos dias… culpa do Christopher. Mas essa é, ainda, outra história.
Quando eu caminhava naquele dia, o que me trouxe a teoria à tona (eu não ia ao supermercado) foi que nunca imaginei encontrar o amor da minha vida numa livraria ou num sebo. Fiquei, então, me perguntando porque diacho eu nunca havia pensado nisso. Uma boa parte do caminho foi para entender porque eu não pensava no meu príncipe encantado em meio a livros… de cara tive duas boas respostas e, bem, fui veemente o suficiente para me convencer a mim mesma delas. Há lugares que dizem muito das pessoas que os frequentam. Essa foi a teoria que nasceu da discussão. Provavelmente esta teoria nasceu carregada por alguns traumas que já tenho na vida com pessoas que frequentam sebos e livrarias. Mas ficou de pé.
Li um livro esses tempos que me fez pensar que nunca vivi certas cenas tão clichê de cinema – e me levou a perguntar se elas só existem nos filmes. Há cenas no cinema e na TV (bastante frequentes) de casais que se encontram (por acaso ou acasos calculados) nos corredores de supermercados. Acho que não é daí que vem minha teoria. Mas nunca vivi a cena de entrar num bar/restaurante e um cara se interessar de cara por mim e perguntar se pode sentar comigo – bem, a probabilidade de ele ter um “não” como resposta é enorme. Sabe esse tipo de cena? Ou no ônibus. Sei lá. Tem aquela do cara mandar um drinque pra tua mesa. Tinha mais uma ou duas que não me recordo agora. Escrevendo lembrei de uma cena que provavelmente existe em algum filme mas que já vivi. O cara chega e puxa conversa na praia e pede pra sentar do teu lado. É tão chato. Teve um mineiro ali no Campeche, uma vez, que foi muito chato. Eu sou a pessoa mais disposta a dispensar indiferentemente esse tipo de abordagem. Sério mesmo. Sou boa nisso. Aliás, eu vivo sozinha, e se me verem sozinha por aí não é porque estou aberta à abordagens ou infeliz sozinha. É um modo de vida. E tenha certeza que na quase totalidade dessas vezes eu quero estar sozinha. Aliás, em certos programas e passeios eu detesto companhia.
Foi aí que somo dois mais dois e fico pensando que se o amor da minha vida me abordar num supermercado eu poderei mandá-lo pastar com certa desenvoltura. Sou dessas de correr o risco, o tempo inteiro, de ver o amor da minha vida passar por mim e ainda despachá-lo com indiferença.
Christopher me fez pensar que sim. Porém, me deu uma certeza do que eu considero amor. Ah, sim, sou a mesma adolescente que teve suas teorias de que era só uma palavra para encobrir os coitos e os interesses. Ainda acho esta teoria válida. E a concorrente dela também.
Dentre os tipos de amor, desisti do que eu sempre vivi. Abracei, de vez, aquele que eu sempre admirei e fiz fé. Os outros são só inventados.
Se eu encontrá-lo num corredor de supermercado ou sentado ao meu lado num avião… quem sabe. Definitivamente não encontrarei-o nos corredores de um sebo. Nem num bloco de carnaval.
Como diz a outra canção, não ofereço quase nada. Nem quero tralhas nem medos nem ais, como diz, ainda, outra canção. Christopher me lembrou tanta coisa, das histórias de amor que existem sem um único beijo (e não são as platônicas ou não correspondidas), e o que de fato faz existir o amor em mim. É só nesse amor que acredito. Sempre foi, mas sempre me deixei distrair… como quando passamos pelas prateleiras dos supermercados olhando sem ver.
Engraçado… ontem mesmo ponderava minhas teorias sobre “amores”.
Talvez seja pela proximidade do valentine’s day por aqui, ou talvez tenha sido o personagem do livro que estou lendo – me fazendo suspirar e esperar que fosse de verdade.
Mas na realidade, nada é muito bonito.
Talvez eu tenha deixado muitos amores passarem… justamente porque – igual a ti – sou perita em mandar pastar e não dou conversa para estranhos.
Quem sabe um desses estranhos poderia ter sido alguém…
Mas aí sempre que volto a pensar nos amores de ficção eu lembro que quem nada se parece com as personagens sou eu… eu e minha praticidade, minha facilidade em dizer o que sinto e penso, afinal meus medos são outros.
Quantos alguéns já despachamos?
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Esses tempos eu lembrei (culpa dessa maldita memória) que um dia escrevi no Twitter que o tal príncipe encantado não existia. Não sei se você lembra que respondeu me contrariando. Fiquei tentada a te perguntar se ainda pensavas assim. Eu mesma já pensei e “despensei” isso algumas vezes.
Alguns desses “estranhos” eu tive a infelicidade de descobrir, depois, que teriam sido “alguém”. Às vezes acho que além de saber mandar pastar muito bem sou muito distraída.
Sobre a ficção você antecipou um dos próximos posts. Eu tenho essa “lista” de personagens pelos quais sou apaixonada (e uma lista das pessoas reais que já morreram e com as quais eu gostaria de ter tido um dedo de prosa). Esses dias rolou no Facebook uma daquelas imagens com a frase “só namoro personagens da ficção” e eu e a Erica entramos numa conversa animada sobre o assunto. Tenho uma lista linda desses e pretendia trazer aqui para o blog. A Erica já queria fazer a lista das personagens alter ego dela e eu me vi no mesmo problema que você. Também não me vejo nas personagens… aliás, até me vi um pouco numa de um romance banca de revista desses que li mês passado (sim, até essas porcarias eu leio de vez em quando). Nossos medos são outros – e talvez nem sejam os mesmos!
Eu ando assim, só suspirando pelos personagens (de filmes, seriados, novelas, livros…) e sonhando que sejam de verdade. Atualmente só me restam os sonhos!
Tua última frase volta e meia fica martelando na minha cabeça… Por isso me vi na obrigação de dar esta longa resposta. 🙂 Pensamentos convergem por aqui!
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Bah que boa lembrança!
Pois se pensar com os pés no chão, ainda acredito na existência de príncipes encantados – mas do tipo que agüenta TPM, leva pra fazer compras no shopping, escuta as infindáveis reclamações (sobre tudo e todos – afinal, rainha do mau humor soy yo!) e no final do dia, depois de te ver das piores maneiras continua presente.
Acho que esse deve ser o príncipe encantado da vida real… (ou o acomodado da vidal real? hahahah)
Da ficção eu SEMPRE preferi os vilões mesmo.
Aliás, li um artigo esses dias que tentava justificar o porque as mulheres se apaixonavam por personagens fictícios… http://cherylsterlingbooks.com/2009/11/why-women-fall-in-love-with-fictional-characters/
Pena que esse tipo de príncipe encantado não exista…
Que venha o próximo post!!! 😀
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