Eu ia me jogar no sofá por algumas merecidas horas de descanso entre dias estafantes de atividades intensas em vários setores da minha vida. Mas, entre as muitas pernadas que dei hoje, voltando para a casa com a sensação mais plena do mundo, uma euforia contagiante, sorrindo muito além dos lábios, escrevi mentalmente um post de agradecimento.
Eu poderia agradecer pessoalmente, enviar mensagens no Facebook, e-mails, telefonemas e sms. Mas, não. Quero colocar aqui cada um que hoje eu sinto a necessidade de agradecer.
Ano passado reencontrei no Facebook uma antiga amiga, a primeira amiga mesmo da vida, dos tempos do ensino fundamental no Elias Moreira. Já faz tempo moramos pertinho mas faz tempo que não nos vemos pessoalmente. Numa conversa pelo FB, cada uma contando da vida presente quando ela me diz que não esperava me ver trabalhando com cinema, que, naqueles tempos idos dos nossos doze, treze anos, ela achava que eu seria uma escritora. Talvez a Flávia não saiba, se não sabe vai ficar sabendo por aqui, mas a companhia dela das nossas leituras de Sidney Sheldon e afins foi muito importante pra mim. Nós líamos e trocavamos impressões, comentários. Foi a primeira pessoa com quem tive essa experiência. E é uma coisa sensacional! Até hoje sinto falta, às vezes, de ter com quem comentar os livros que leio, os filmes que assisto, as séries, as pinturas e esculturas… Ela foi a primeira e uma das únicas. Quando ela me disse aquilo ali ano passado, significou tanto, principalmente porque eu estava num momento “daqueles”. Agradeço à Flávia pela companhia lá no passado, por ter sido musa inspiradora de um poema meu (inédito!) de quando eu soube que ela estava grávida e pela fé que colocou em mim, antes mesmo que eu mesma acreditasse em mim.
Porque já estou naquela idade que não mudo tanto de alma, mas tenho algumas com as quais convivo. Troco uma pela outra, algumas já velhas conhecidas. E não tem nada mais difícil na vida do que acreditar em si mesmo. Eu demorei muito pra isso (e hoje ainda não digo que acredito completamente!). Sim, também tenho uma pontinha de necessidade que os outros acreditem em mim. Senão, me considero patologicamente louca.
Agradeço à Andréia por ter sido um encontro inesperado na minha vida, com aquele jeitinho calmo, organizado, certeiro. Canceriana e paulista, tinha tudo para nunca bater o santo comigo. Mas nas nossas longas conversas de vizinhas de quarto dizia coisas que me faziam pensar e acreditar. E isso vale tanto para o mundo acadêmico (colocar criadores no mundo acadêmico é complicado!) quanto para o mundo artístico. Lembro que numa das últimas provas do curso de Cinema cheguei a usar um trecho de uma das nossas conversas na resposta! Na última vez que nos vimos no ponto de ônibus da UDESC, ela me disse algo sobre o mestrado que ribomba todos os dias na minha cabeça – e chegou ao alerta máximo nos útlimos dias! A Andréia é o oposto de mim, pequena, inquisidora, bastante estudiosa, centrada. Sempre é um choque. E choques me fazem bem. Conviver com ela é sempre construir um pedaço da vida, com pensamentos que vão longe.
Agradeço alguns professores que me fizeram amar literatura, reflexões, arte. Não quero citar todos aqui. Tinha um que sempre me provocava, lia o que eu escrevia e desdenhava só para me deixar com raiva e me levar a fazer algo melhor. Funcionava! Eles sabiam que lá no fundão tinha uma pessoa com quem eles poderiam conversar sobre as coisas do mundo, enquanto a turma fazia os exercícios de inglês ou matemática. E, bem, por tudo isso perdoavam as colas que eu passava em algumas provas.
Me dei conta de que a lista é enome! Quero até agradecer ao moço simpático da agência dos Correios que me atendeu hoje e discutiu Cecília Meireles e José Saramago comigo.
Agradeço alguns amigos, uns até nem são mais meus amigos hoje. Não guardo rancor. Não tenho ódio de ninguém. Não guardo mágoa. Agradeço um em especial, que em longas e intermináveis conversas pessoalmente e por msn levantava minha bola, acreditava mais em mim do que eu mesma na maior parte do tempo, que nunca me poupava elogios, me chamava de doida, me chamava quando precisava de alguém que tivesse criatividade e competência, que dizia que eu deveria escrever um livro. Agradeço a três “exs”, os quais também guardo os nomes, por terem me permitido ser quem eu era, em conversas sem noção e deliciosas sobre filmes, músicas e livros, sobre a vida, a política, as pessoas. Um em especial me empurrou de um penhasco e eu sei que ele faz idéia do bem que me fez com essa atitude. Até hoje lembro daquele penhasco, paguei caro, mas vale cada dia. Aliás, foi nele que fui buscar, tanto tempo depois, inspiração para dar um fogo no trabalho dos últimos dias. E a inspiração, devo dizer, foi exatamente a mesma de tanto tempo atrás! Ah, agradeço também a dois “exs” em especial, que não acreditavam em mim, não me apoiavam, me viam com os olhos da vida deles e que, por isso mesmo, foram tão essenciais para que eu soubesse o que eu queria da vida. Já disse, não guardo mágoa, nem rancor, nem nada. Foram encruzilhadas no meu caminho. Quando me vi diante de ter que escolher para onde ir, tive que abrir mão deles, mas não abri mão de mim. E essa lição foi fundamental!
Santo de casa não faz milagre, por aqui muito menos. Mas a família, acreditando ou não, sempre aguenta (e vai aguentar!) minhas decisões e loucuras. Não tenho pena deles porque sei que eles sempre aguentam o rojão, é nossas especialidade: sempre sabemos que podemos contar uns com os outros.
Agradeço em especialíssimo à Erica. Amiga inesperada (pisciana, afinal) que surgiu aí no convívio longe da faculdade. Compartilhamos muita coisa em comum, principalmente essa ternura pelas durezas e dores da vida, mas somos muito diferentes. É minha lua em sagitário. Conversas literárias e cinematográficas! Compartilhamos uma cruz em especial: acreditar em si mesmas. É difícil. Ela não acredita tanto nela quanto eu (às vezes) acredito em mim. Mas deveria. Eu acredito muito nela. Se não fosse pelo apoio, incentivo, empurrão, insistência dela, não teria feito algumas coisas que fiz. Eu teria me apoiado na preguiça, no “não vai dar certo”, na procrastinação, na dúvida. Quero que ela lembre disso quando cogitar se apoiar nessas bengalas aí. A gente até sente aquele medo de vez em quando, mas tem que ir com medo! Nunca seremos as melhores (complexo pisciano) e isso não importa. Erica, muito muito muito obrigada! Por tudo! E deixo claro: eu também acredito em você.
Agradeço àquelas amiga que não discutem livros e filmes comigo, nem dão muita bola para tudo aquilo que eu penso em fazer e ser na vida, mas que me dão momentos de diversão, fofocas, passeios e que sempre estão por perto. Porque até eu de vez em quando só preciso me distrair. Não que os outros amigos não me proporcionem isso, cada um tem suas doses certas!
Agradeço à Cleuza pelas discussões, por ela ser quem é, por entender o que é termos sempre que nos reafirmarmos a todo instante, seja pela cor da nossa pele, seja pelo nosso trabalho, seja pelas escolhas que fazemos da vida. nem acho que só temos os cursos de Cinema e Filosofia em comum. Temos tanto em comum que vivemos discutindo quase tudo! Agradeço pelos elogios de sempre, sobre fotografias, textos, comentários. Eu tenho tanto problema com elogios que guardo todos! Acho que até hoje não agradeci a oportunidade de ter trabalhado ao lado dela no documentário “Semeadura” que foi fundamental pra mim (quem me conhece sabe que sempre falo dele) e que estreitou ainda mais nossa relação. Faço as coisas porque amo. Todo mundo sabe disso. A Cleuza foi uma daquelas pessoas que anos atrás acreditou em mim naqueles momentos que nem eu entendia que eu precisava fazer isso. Também quero dizer pra ela que acredito muito nela. Muito mesmo. Acredito que nossas discordâncias são muito mais importantes do que se concordassemos em tudo. Eu, pelo menos, não cresceria e não teria pensamentos e reflexões tão desenvolvidos.
Agradeço à Jules por se dizer minha fã. Vejam só, tenho fãs. Ou fã, né. Pelas poucas mas especiais discussões, pelos elogios. Agradeço à Fran, aquela menina de lindos cabelos cacheados que é minha leitora assídua, que foi mais uma virginiana a ficar curiosa com a menina branquela que só se vestia de preto e sentava no fundão da sala. Pra Fran eu sou a vida louca que ela não tem nem teria, mas que ela se diverte acompanhando. Agradeço pelos elogios às fotos e aos textos, mesmo eu sendo uma amiga tão pouco presente. Agradeço alguns que não são assim amigos do peito, mas que o mundo me permitiu contatos aqui e ali e com os quais discuto coisas que sempre estão comigo. Agradeço alguns dos leitores assíduos do blog, como não poderia deixar de ser, por volta e meia fazerem seus comentários em off e me darem retornos inesperados sobre muita coisa que eu escrevo aqui. Vocês são demais! Agradeço até mesmo aqueles que vivem me lendo (ficou dúbio isso) e nunca comentam, só de vez em quando deixam escapar, ou nem isso. Até vocês são especiais pra mim.
Hoje, depois de mais uma missão cumprida, eu só sentia isso: necessidade de agradecer.
Citei mais especificamente as pessoas que estão por perto. Algumas nunca saberão que eu tinha o que agradecer. Mas eu sei o lugar que cada uma delas tem nessa trajetória toda. Fiquei parecendo uma grande mal-agradecida com tantos agradecimentos para colocar em dia. Não é verdade… não me julguem mal. É que em relação às pessoas sou de atos e não de palavras. Sempre as agradeci do meu jeito, com nenhum “obrigada”. Mas hoje eu precisava deixar esse jeito sem-jeito, meio tímido, meio sem graça, meio incomunicável e dizer com todas as letras.
Enfim, mereço agora aquela ida ao sofá. Mereço umas horas de descanso. Se não mereço, me darei ao luxo! Estou numa daquelas semanas “amo todo o mundo” e isso me faz um bem danado. Não poderia deixar passar a oportunidade de agradecer a quem merece, vocês que nem têm idéia do quanto são culpados por algumas coisas.
♥ É… Eu acredito em ti como não acredito em mim; e no fim, isso até dá certo! Mas quem sabe um dia eu largue as muletas para seguir teu exemplo, né?! Porque, sim… És um exemplo – pra mim, pelo menos – de várias formas! Que azar… Afinal, acredito que assim como eu, também não queiras servir de modelo pra ninguém! – Não se pode ter tudo, né?!
E continuo por aqui! 🙂
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Olha, não vamos brigar por causa dessas muletas aí! hahahaha Eu me dei conta, essa semana, de como elas me afetaram negativamente. É uma espécie de auto-sabotagem cruel e traidora. Nós podemos muito! Vou te incomodar até você me mandar à m* para que sigas esse “exemplo”. Sobre ser azar me achares um exemplo, não sei… (a gente é tão parecida e tão diferente, né? taí um exemplo!) Eu acredito que sou um baita exemplo… veja bem, nada de “bom” exemplo! hahahahahahahahahahaha Se a pessoa tiver condições psicológicas de aguentar uns trancos da vida, até acho que seria feliz me tendo como exemplo (em algumas coisas). 🙂
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Nem sei o que dizer, e também não saberia colocar em palavras assim, tão bonito como você fez. “Deus te pague”.
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Melhor ainda quando podemos dispensar as palavras…
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