Cansei do convite para o café

Cansei do convite pro café. Cansei do convite pra assistir a um filme. Todo mundo já sabe o que ambos significam, né?

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Há pouco tempo fiquei com trauma de ir à biblioteca da universidade. Entrei, busquei o que eu queria, saí e um cara me barrou. Papo de “te vi, gostei de você e queria te convidar pra um café”. Agora até bibliotecas são campo de caça? Logo minhas bibliotecas sagradas? Aí um outro dia, na biblioteca de outra universidade, entro rápido, cabeça baixa, pego o que quero e saio correndo. À noite, no Facebook, lá vem um dizer que me viu, que eu passei ao lado dele. E veio com o mesmo papo. Eu tinha desconversado o convite pro café – afinal, todo mundo já sabe, não tomo café – e tinha fugido do convite para o cinema – ele ainda tinha sugerido um filme francês porque, óbvio, acha que eu só assisto coisa cabeça (o filme que ele sugeriu não era nem de longe cabeça, mas, vejam só, era francês). Aí ele insistia em me convidar para beber – afinal, todo mundo sabe que eu bebo bem – e eu me saí com “só bebo em casa e sozinha” – o que, aliás, tem sido verdade verdadeira.

Sabe, é chato. E eu cansei. Eu não aceito convite pra café não só porque não tomo café (e uns revoltados dizem “um suco, então!”) como porque acho totalmente sem criatividade o convite e porque sei o que ele significa. Não quero. Já vivi e vi coisas o suficiente para prezar a criatividade masculina em primeiríssimo lugar – posto que é tão rara. Também não aceito assistir a filmes na casa de ninguém. Ir ao cinema também não faço questão. Porque normalmente o cara já vem com a sugestão de um filme que acha que eu vou gostar.

É como me convidar pra ir pra praia. Só faz isso porque “sabe” que eu gosto de praia. (posso dizer com certeza que ninguém sabe “como” e “o que” eu gosto em praias) Tem esses, os que buscam te convidar ou falar de coisas que eles intuíram ou imaginam que sabem que você gosta ou te interessa. Soa tão falso. E falsidade eu dispenso. Eu não espero que a pessoa seja o que eu quero ou gosto. E qual relacionamento teria boa base num fingimento de coisas que se gostam ou são? Só para dali meses ou anos descobrirem que o outro era aquela – aquela velha – ilusão que temos a respeito daquele por quem nos apaixonamos?

Tem coisa pior: “acho que nós temos coisas em comum”. E quem disse que eu quero alguém que tenha coisas em comum comigo? Essa ouvi semana passada. E fiquei realmente “passada”. Sou muito mais de gostar do oposto, de ver discordância no relacionamento, de enfrentamento. Já disse, não acredito em alguém que sempre concorda comigo. Não acredito. E não suportaria alguém assim.

São tantas fórmulas prontas… e eu cansei. Disse minha amiga hoje que me vê escrevendo cartas (isso, essas de papel que vão pelo correio) para me relacionar com uma “certa” pessoa. Sabe, prefiro isso. Prefiro fugir da obviedade, sempre. Detesto as frases e convites feitos. Claro, incluo aí as variações do tipo “quer tomar uma sopa de batata?”, “vamos a um buffet de sopas?”, “também adoro pedalar”. Pois é, eu também nunca entendi a tara por sopa, mas, enfim…

Uma amiga relatou o caso da ex do marido dela. A guria, daquelas sem noção (fico pensando se não é ariana), vive rodeando a família do ex, os irmãos e tal. Cogitamos até que ela estivesse interessada em algum deles. Aí a amiga fez um desabafo numa rede social e indicou o site Par Perfeito pra moça. Eu, feliz da vida sem nunca ter entrado nesse tipo de site, fui ver como era.

Aí hoje outra amiga disse que recebeu e-mail deste e de outros dois, Match e eHarmony. Fui ver.

Primeira coisa que já achei incompatível comigo: escolher. Não sei… Amor escolhe até a cor de olho? Sério?

Match e Par Perfeito são iguais. Rola desde só sexo e casados até namoro sério ou só amizade. Nem em relação a isso eu tenho preferências. São poucas perguntas e você pode escolher faixa etária (eu sempre coloco dos 18 aos 53 – não pode ser (infelizmente) menor de idade nem da idade do meu pai pra mais), cor do cabelo, tipo do cabelo, “etnia”, peso, altura. Vejam só, nem coloquei foto mas fiz sucesso com meu um metro e sessenta e um. Nem preenchi tudo também porque não vejo sentido nem tenho paciência. Além da idade, assinalei duas coisas: não-fumante e signo. Se tivesse entre 18 e 53, não fumasse e fosse de três determinados signos, cairia na minha pesquisa. Porém, o site é burro e só me mandava capricornianos (que, obviamente, não estava na minha lista). Aliás, cheguei à conclusão que este tipo de site é ótimo para capricornianos. Sabe o tipo que chega e diz “quero uma loira, um metro e setenta, que tenha graduação, sem filhos, solteira”, então. Mas pra piscianos fica bem complicado. Sabe, nós esperamos o príncipe encantado chegar de cavalo branco no momento mais oportuno, na melhor quadratura da lua, trazido pela mão do Destino. Não é lindo?!

:D
😀

Recebi alguns e-mails de interessados. A maioria escrevia muito mal (para além dos erros de ortografia, inclusive). Aí já brochei. As frases feitas eram das piores. As tentativas de parecer ser aquilo (ou aquele) que eu buscava eram ainda mais frustrantes. Já me apaixono facilmente por pessoas inventadas por mim que cabem nos meus sonhos como ninguém. No caso das pessoas reais não preciso inventar nada – nem eles precisam inventar-se. Aliás, sobre “certa” pessoa (que talvez não dê em nada, para minha real tristeza) eu tinha um receio enorme e confessei-o para a amiga. Não seria só mais um “amor inventado” da minha parte? Me perguntei isso porque, bem, a história é complicada e interessante, mas senti que eu não poderia fazer isso com ele como já fiz algumas outras vezes. E eis que a amiga, querida, me diz que todos são. Todos são inventados? Então não devo me preocupar com isso.

Conversa vai, conversa vem, pergunto para a amiga o que faz de mim “namorável” (o que já considero uma praga) quando divagamos sobre nossos “problemas” de relacionamento. A resposta dela foi certeira e a conclusão foi de que homem gosta de sofrer. Aquilo que tanto falamos machistamente de “mulher de malandro” e que “gosta de apanhar” também é aplicável aos homens.

Enquanto conversávamos eu fiz o cadastro do eHarmony. Gente, que coisa interminável… levei mais de hora pra responder tudo! Quase dormi na frente da tela. Mas num momento comecei a me divertir com as questões. Eu sou um monstro – pensei enquanto analisava minhas respostas. Não tenho confiança no outro, não sou sociável, não sou compreensiva, priorizo a liberdade, coloco dinheiro em último lugar na vida. Um monstro. Aí o site, depois de vasculhar os recônditos da tua personalidade e sexualidade – só faltou perguntar qual posição sexual era a minha preferida e qual a cor do esmalte que estou usando, o que, aliás, seriam de suma importância! – ele fez uma busca para encontrar pessoas compatíveis comigo. E a busca foi mais interminável do que o questionário…

...

Enquanto esperava comentei com a amiga que, pelo tempo, o príncipe encantado deveria ter ido comprar o cavalo branco e eu já podia escolher as flores do buquê. E não é que… ele trava. Ficou um tempão buscando e nada. Como eu e a amiga já tínhamos falado, ia dar um erro do tipo “como já disse seu pai, do jeito que você é ninguém vai te aguentar”. Bem, até aí eu já estaria satisfeita!

O eHarmony me pareceu bem mais sério do que os outros. Mas todos mandam mil e-mails. No eHarmony até encontrei umas coisinhas interessantes (mas ele só encontrou nove indicados para mim), mas não vi as fotos. Aliás, em nenhum coloquei foto. Era só pesquisa de campo. Mas digo: eu julgo pelas aparências. Me condenem. No Par Perfeito só tinha feio. Feio ou velho assanhado. Mas todos feios. Feio não dá. Ah, não levem isso para quem procura mulheres! O índice de beleza feminina é bem maior! (sim, eu coloquei buscar mulheres também e até que apareceu coisas pegáveis)

pois é... me julguem.
pois é… me julguem. Retirado da melhor página do Facebook: Suricate Seboso!

Tem gente que serve pra isso, capricornianos e virginianos, por exemplo. Mas piscianos são mais raros de encontrar por essas bandas. Ah, tem leoninos por lá esperando elogios e aqueles que dizem “gosto muito do meu corpo, cuido muito do meu corpo, acho que um corpo bem cuidado é fundamental” (recebi um e-mail assim, acabei de copiar dele, e quando o cara escreveu “corpo” pela sétima vez eu parei de ler). Ou aquele que diz “adoro ler, mas faz séculos que não pego um livro, mas gostei bastante do Privataria Tucana”. Tem de tudo, gente. Eu não julgo só pela aparência, eu julgo pela escrita, pelas contradições, por tudo.

E aí a resposta da amiga sobre o motivo de eu ser “namorável” bateu com a análise de personalidade que o eHarmony fez. Uma análise muito boa! Em certos aspectos até melhor do que mapa astrológico. A conclusão é que eu não sirvo pra namorar, os que me querem pra isso é porque vêem como desafio, com a possibilidade de me domar. Tadinhos. Claro que saiu lá que sou egoísta, individualista, que ajudo os outros depois de pensar, diz assim, no resumo, “você consistentemente cuida de si mesmo” (em letras garrafais), diz que eu acho fundamental que as pessoas saibam cuidar de si mesmas, diz que eu não acredito que estou fazendo favor algum quando ajudo alguém (isso os amigos sabem bem!), diz que eu prezo a independência e que estímulo isso nos outros porque ter um tempo para cuidar de si mesmo é o que todos deveriam fazer, diz que sou responsável (óin), que sou muito dura comigo mesma e que isso me dá respaldo para ser crítica em relação aos outros (ui, gente, e eu pego pesado nisso), diz que apesar de tudo as pessoas admiram a minha franqueza (tenho cá minhas dúvidas).

E eu gostei particularmente da lista de “qualidades” que eu conquistei depois de responder às mil perguntas:

Intransigente

Franco

Astuto

Crítico

Empírico

Forte

Perspicaz

Cético

Esperto

(necessariamente nesta ordem!).

E aí eu perguntaria novamente pra amiga, já que ela concordou com a essência da minha análise de personalidade: por que mesmo eu pareço “namorável”?! Vejam bem, intrasigente ficou em primeiro lugar e está no lugar certíssimo!

Eu que pensava que não são características ou respostas ou cor de olho e altura que nos fazem encontrar o amor… continuo pensando assim. Também continuo acreditando que não são com convites clichês, falta de criatividade e pessoas tentando ser quem não são que se aproxima alguém. Porque não acredito na conquista, pois ela demanda submissão e eu não gosto disso. Não é preciso conquistar ninguém. É preciso aproximar. Eu me sinto muito próxima de pessoas que pensam um tanto muito igual a mim e um outro tanto justamente o oposto.

;)
😉

Entre os pensamentos que geram pauta para o blog estava o quanto a internet aproxima e afasta as pessoas. Pensava nisso semana passada. Sim, posso muito bem acabar me correspondendo por cartas com quem está do outro lado do mundo. Talvez me sinta mais próxima dele do que se eu ligasse a webcam do skype todo dia. Aliás, qualquer “todo dia” pra mim só causa a sensação de afastamento. Nada como me ver e falar comigo todo dia para me ter bem distante. Fica o alerta para algumas amigas, pois nos falamos com frequência pela internet, mesmo morando na mesma cidade (tá, eu sei que às vezes viajo demais) nos vemos pessoalmente pouco porque achamos que mantemos este contato. Apesar da minha falta de qualidades, sou um tantinho passional. Não duvidem.

Nunca conseguiria me sentir próxima de alguém que preenche uma ficha interminável de qualidades, defeitos e interesses num site. Nunca. A melhor coisa para aproximar ainda é uma boa conversa. Ah, me dirão, para isso que serve o convite do café! Não, não é. O convite já vem com vários comportamentos e idéias pré-determinados. E eu não gosto disso. Eu gosto do frisson, da ansiedade, do interessar-se, do convergir e do divergir.

Como nas redes sociais onde temos que responder mil coisas sobre nós… ou que publico mil coisas. Nada disso diz tanto assim de mim, não duvidem. Por isso cansei dos papos que já vêm roteirizados por isso que está aí respondido, preenchido, exposto. Eu quero o que não se sabe. E descobri isso quando me vi diante dele.

(ps: seja Destino ou não, aposto na “certa” pessoa e se não der em nada, de novo, estarei por aí; os cadastros foram devidamente deletados, pois serviu apenas como confirmação e pesquisa de campo.)

(ps2: sim, sei que farão objeções às minhas objeções a estes sites, mas a única coisa que eu consegui inferir de um dos inscritos foi que ele era racista, pois colocou que se interessava por todas as cores de pele, menos negra.)

(ps3: meses depois… a tal ‘certa’ pessoa não deu em nada – só fez crescer minha lista de mensagens não respondidas do ano – e encontrei numa outra pessoa, sem convites para café nem banalidades do tipo, através de uma excelente conversa toda a aproximação que eu precisava. Voltei a sentir coisas que há séculos não sentia. E nem usei nenhum site.)

(ps4: o ano é 2016, o texto todo continua válido, até a eterna espera por “certas” pessoas – só a idade dos candidatos que mudou, pois agora é de 18 a 59 anos. O tempo passa, meus caros.)

13 comentários em “Cansei do convite para o café

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  1. Uma aleatória agora: sempre achei que Simão Bacamarte, de “O Alienista”, era capricorniano. Quando perguntado sobre o porquê de ter escolhido uma mulher nem bonita, nem simpática para se casar, respondeu “que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes”.
    Hein?

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    1. O eHarmony tá pra ti! hahahahahahaha Nem preciso dizer que é óbvio que lembrei várias vezes do meu capricorniano favorito! Além do Bacamarte, teu comentário me fez lembrar de outros personagens de livros (e de filmes) com os quais sofro só porque eles definitivamente são muito capricornianos!

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      1. Pois é… eu tenho um perfil no eHarmony… ele nunca achou um par para mim… eu sou total forever alone! kkkkkkkkkkkkkkkkk

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      2. Falei que o eHarmony é o mais esmiuçador! Aliás, ariano assim, né… nem ele! hahahahahaha

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  2. Holy cow… não sou pisciana, pelo contrário, sou leonina mas concordo em 110% com você. Te entendo MUITO BEM. Ainda hoje pensei em fazer cadastro em um destes sites ‘só por curiosidade’ mas o pé atrás e a suspeita de receber intermináveis e-mails com português mal escrito, partidos de indivíduos que sabe-se-lá se são mesmo quem dizem ser, enfim, a vontade se foi e eu continuo fechada no meu canto, em silêncio esperando um milagre acontecer. Cansei de me aventurar pelo mundo atrás de algo ou alguém e de ter de lidar com os que atrás de mim vêm, com intenções de tirar proveito e depois me mandar pra putaqueopariu porque “não sirvo” pra nada… Amo café, bebo bem também(!), detesto sopa e principalmente os convites recheados. Concluí que, se quer algo, que venha na minha casa e fale diante dos meus pais. Vamos ver se alguém tem coragem de encarar as feras antes e depois de fazer cagada pra mim!

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    1. Gostei do “pelo contrário”! hahahaha Não somos tão opostos assim, apesar dos signos. Eu só fiz pra confirmar que não é pra mim, não recomendo, só o eHarmony que acabou sendo divertido (e nem estou falando dos candidatos!). Os e-mails são ridículos, brochantes, desanimadores! Por mais que algumas amigas briguem comigo, também aderi ao ficar quieta no meu canto esperando o Destino operar o milagre. O cara que não faz convites recheados já ganha mil pontos comigo! Agora, quanto aos pais… acho que eles só virão a conhecer “algum” se um dia houver, por exemplo, um casamento. Eu não faço questão desse negócio de família e eles já tiveram que aguentar coisas demais. Melhor poupá-los, né?

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  3. “Façamos um pacto, você deliga o telefone se eu ficar muito abstrato”… opss… não era esse… é outro: quando eu te chamar para um café, é porque eu sou viciado em café, mas pode deixar que te levo em um lugar que tem chás, sucos, cervejas, vinhos e outras bebidas. O importante é ter coisas que os dois gostam e espaço propício para conversa. 🙂

    Aliás, conheço 3 ótimos só aqui perto de casa! kkkkkkkk 😉

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      1. Tem problema não… também conheço praças, parques, restaurantes e museus! 🙂 melhorou? aliás, alguns deles tem cafés! 😉 kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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