Eu sei, eu sei… nem vocês nem eu aguento mais versos que versam sobre coisas que… bem, deixa pra lá. Daqui a pouco será lua minguante e daí talvez o espírito mude e deixe de sofrer tantas dúvidas e hesitações. De dias intensos ficam alguns fragmentos:
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Entendi cedo na vida que as pessoas sempre precisam de justificativas, motivos e explicações. Nessas horas todos parecem ser bons capricornianos.
Ainda bem que a vida não é assim.
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Nunca entendi essas promoções de ligações “infinity”. Alguém fala infinitamente ao telefone? Nem começo de relacionamento aguenta tanto tempo de ligação. Eu ouço conversas alheias ao telefone. Sempre fico ouvindo e pensando na real necessidade da ligação. As pessoas falam banalidades, bobagens, ou nem têm o que falar. Não sou boa de estatísticas, mas pra lá de 90% das ligações para celular ainda começam com a pergunta “Onde você está?”. É a falta de costume ainda, afinal perguntar isso numa ligação para o fixo seria estranho.
Eu queria escrever sobre excessos. Tudo o que há de excesso na vida. Nem pensei no mais óbvio (e sobre o que já escrevi) do excesso relacionado ao consumismo e ao lixo, produtos que vêm com embalagens demais e tal. Pensei nos excessos aos quais nos entregamos (talvez) sem nem perceber. Você realmente precisa falar infinitamente ao telefone?
Há quem tenha três mil amigos no Facebook. “Amigos” ou conhecidos. Se duvidar até eu já “conheci” três mil pessoas na vida. Mas adicionar todas no Facebook? Alguém consegue acompanhar minimamente uma TL com três mil pessoas?
A vida é finita. Infinidades sem fim não parecem ser coisas da vida. Acredito que finalmente abracei o desapego e tenho exercitado a vida leve, o livrar-se de excessos – de todos eles.
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Florianópolis tem coisas engraçadas. O high society daqui rende boas risadas para bons observadores. Entrei num Lagoa cheio esses dias. No terminal da Trindade ele esvaziou um pouco e sentei lá atrás, no último banco (aquele que tem cinco lugares, onde eu detesto sentar). Reparei em duas mulheres, uma moça (dessas que não querem parecer muito moças) e uma senhora (dessas que não querem muito parecer senhoras), atravessando o corredor cheio do ônibus. Caracterização típica, tênis de marca cara, bolsa amarelona de marca no último modelo, calça jeans e camisetas de marca. Loiras, é claro (um dia hei de entender essa mania de querer ser ou parecer rica e pintar os cabelos de loiro – será pela associação com o ouro? – um dia hei de escrever sobre as personagens loiras e morenas dos filmes, como o de ontem, assunto o qual muito me interessa). A moça vinha bufando. A senhora, mãe da moça, se desequilibrava. Eis que a senhora diz, sem arrogância nem nada, pura constatação: “Nunca gostei de andar de ônibus”, se bate num rapaz e se joga no banco ao lado da filha – que está ao meu lado.
“Ninguém gosta, né, mãe” bufa rispidamente a detentora de toda a sabedoria do mundo. Olho para ela que parece não ver ninguém a sua volta, ou foi o excesso de maquiagem que escondeu alguma expressão.
Eu gosto. Eu adoro andar de ônibus. Até para viajar – um pouco menos, é verdade, quando não é viagem pelos meus trajetos conhecidos. Não me vejo andando de carro numa cidade. Me parece simples estupidez. Só. Cidade, pra mim, é à pé (adoro ainda mais), de ônibus ou de bicicleta. Bem, não sou “ninguém” segundo a sabedoria da moça. Fiquei pensando no que trazia a fala da mãe, pura especulação, mas, quem sabe… então ela já fora “pobre” e andara de ônibus. Ah, sim, porque ainda se associa pobreza ao ônibus em muitas cabecinhas. Como aquela imagem que circulava na internet sobre usar bolsa de marca e esperar no ponto de ônibus. Ando de ônibus e tenho bolsa até da M. Officer (estou vendendo-a, por sinal). Claro, não tenho nenhuma Louis Vitton – não acho bonitos os modelos. Nem, sei lá, nem sei as marcas direito. Mas tenho uma Nike, serve? Vejam só… você é pobre, anda de ônibus, mas tem bolsa de marca? E quem anda de carro e paga aluguel? É rico? Sei lá, gente… muita sabedoria unânime pro meu gosto.
Lembrei até de uma cena, protagonizada por um cineasta “famoso” de Florianópolis. Já viram riquinhos da cidade quando levam o carro para arrumar ou coisa parecida? Ficam perdidos. O tal cineasta saiu de uma concessionária ali no Itacorubi e foi em direção ao ponto de ônibus (aquele em frente à Oi, sentido Lagoa). Chegou ali e perguntou para uma senhora “Como eu faço pra ir pra Lagoa?!”. Ora, ora… Queria que a senhora, com sua testa franzida e olhos arregalados pela ignorância do cineasta, tivesse mandado pegar o ônibus no ponto do outro lado da rua. Claro, ele aproveitou para fazer um comentário bisonho sobre a demora. Dica: vai pra Canas, a cada quatro deles passa um Lagoa. Ah, esqueci, se você faz cinema em Florianópolis precisa morar e ter sua produtora na Lagoa. Lapso meu, sorry.
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Cheguei esses dias na academia e vi um cartaz de promoção. Adoro promoção. Diz lá que se eu colocar o adesivo da academia no meu carro, concorrerei a cem reais em compras na loja da academia.
Carro?
Já comentei o que penso sobre academias com estacionamentos lotados? Não?
Qual a lógica em ir para a academia de carro? Com tanta academia, já deve ter mais que padaria, pela cidade, jura que não tem uma perto da tua casa? Ou você precisa ir na que está na moda? Mesmo assim, acha muito caminhar, correr ou pedalar trinta minutos, uma hora, para ir à academia? Mas então por que você vai à academia?
Incredulidade me tomou. E eu que vou à pé? E quem vai de bicicleta? Nós é que deveríamos receber incentivo e não sermos privados de promoções. Quem comete a estupidez de ir de carro ganha “incentivo”?
Devo ter me perdido em alguma curva da humanidade, só pode.
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Passei uns dias lá e cá entre as três capitais do Sul do país.
Suspirei ao voltar para a Ilha e ser bem tratada aonde quer que eu vá. É o moço da peixaria, os motoristas, cobradores (lá na Brava um me disse “passa, querida” – muito amor), a caixa do supermercado, o coitado da loja de utilidades que não conseguia achar o que eu queria, o pessoal da academia, o dono do restaurante que sempre simpático me deixa usar o banheiro quando volto de uma caminhada mais longa pela praia, os motoristas que param nas faixas, o moço lindo da padaria (tanta paciência ele tem!), os novos donos da floricultura ao lado de casa.
O povo ilhéu é uma delícia. Simpático. Receptivo. Conversador. Eu, curitibana, ainda me encanto com isso. É um povo que sabe receber. Está acostumado com quem não é do lugar.
Quando atravessei a fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul pensei que é fácil entender porque Santa é eleito o melhor Estado para turismo do Brasil há anos. Facinho. Além de lindo em tantos sentidos e com tantas paisagens, para praticamente todos os gostos, é um povo que faz diferença.
Nunca me senti bem tratada no Rio Grande do Sul. Nunca. Ainda dou chance. Povo que não dá informação, que faz tudo como se fosse obrigação. Bem, se há cidades que cobram taxa para entrar e sair já percebemos a “receptividade”, né? Aliás, ao ver isso por lá lembrei da discussão que houve no verão quando a prefeita de Porto Belo disse que faria o mesmo. (lá no RS eles cobram “pedágio” que na verdade é na entrada e saída de certas cidades, porque não é, definitivamente, pelas estradas) Em alguns casos parece interessante a idéia, mas que não ajuda na sensação de receptividade, isso é.
Ah, Santa Catarina… meu coração se derrete por você mesmo nesses dias de frio e chuva.
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Aliás, que inverno longo e interminável… fazia tempo que não vivia um tão frio e tão longo.
Menos de um mês para a belíssima Primavera.
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E aí, quem sabe, não teremos mais versos aqui pelo blog. Ou teremos, mas aí dependerá da fase da lua, das mensagens que receberei, das notícias, das viagens agendadas, do compasso desassossegado do coração.
Não faço promessas. Porém, findo esse inverno, as chances de menos versos, até menos posts, ou versos mais apaixonados, são maiores.
Nada contra o inverno. Mas gosto de variar.
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Agora é esperar pra ver o que o quarto minguante me trará.
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