Aquelas coisas da vida. No meio da madrugada um sonho me convenceu a resgatar um projeto adormecido – e decidi transpor o sonho num conto, apesar do pouco correto que ele parecerá. Aí logo pela manhã separei aqui as anotações do projeto. Confesso que sempre me surpreendo com minhas anotações. É tão bom esquecer! A gente vive revivendo. Se terei sucesso? Bem, demoraremos a saber.
Pensei logo em escrever. Mas sobre qualquer outra coisa. E não sobre as atrocidades da vida. Essas eu deixo para 140 caracteres. Por enquanto. Bem, vim decidida ao editor de texto para falar de alguma coisa séria e interessante. Talvez não tão séria, mas certeza que interessante. E enquanto carregava o programa…
O plano de fundo do desktop é um compilado de fotografias que mudam de tanto em tanto tempo. Pois nestes míseros segundos de espera lá estava eu deitada em mar esplêndido. O sol brilhava, a água estava na temperatura maravilhosa, era Verão. Eu jazia largada, olhos fechados, alheia ao mundo e aos meus pensamentos. Sem planos, quase sem roupa, sem pretensões. Mais importante de tudo: sem desejos além do de ali permanecer. E permaneci. Deixei até de comer para ficar ali boiando infinitamente ao carinho da maré. Talvez minha demora e meu desligamento, tenham inspirado o fotógrafo a me eternizar naquele momento. Fotógrafos têm razões suspeitas.
Gosto das Estações. Do frio, quem sabe. O fogão a lenha, os moletons e blusas de lã. Ah, as cobertas! Pantufas, claro. Nem o frio me faz gostar de calças, porém. E meias que servem pra nada. O barulhinho da chuva (desde que não a longo prazo). Ver o frio na Serra. Não gosto de sentir frio, de jeito nenhum, pois só quem já passou frio sabe do que estou falando. O frio dói. Um chá quentinho. E a preguiça, porque não há frio digno sem ela! O céu límpido num dia gelado, as cores mutantes das árvores.
Em especial a festa junina. Pinhão assado e cozido, milho cozido, pipoca, canjica, quentão, paçoca (de rolha!), pé de moleque, maria-mole. Em boa companhia, claro. As más companhias jamais, em Estação nenhuma. Uma feijoada, hein? Um cozido preparado no fogão à lenha. Sentar ali e ver a chuva respingar no jardim enquanto o aipim e o inhame cozinham. Talvez ver a vida assim mais de longe. Já fui acusada de tanta coisa nessa vida, até de não gostar do frio. Nem de casamento. Essas coisas. Mas se a vida não é a gente rebolar ao sabor da música, então ainda não aprendi nada.
Meus pés sempre gelados não me impedem de ver a beleza do momento. Fecho por um momento o programa. Não tem mais a minha foto flutuando no mar. Tem a gata com o chapéu de papai noel. Bateu aquela saudade do Natal? Claro. Adoro Natal. E entre o frio de hoje e as alegrias de fim de ano, meu coração palpita mesmo pela luz do sol a me abençoar em serenidade… a dispensar as lógicas e cruezas da vida. A deitar-me simplesmente no inescrutável vazio do mar. Jamais negarei isso. Talvez, se vivesse isso todo dia, enjoasse. Não me garanto com certezas, então…
Enquanto o Verão não voltar, comerei pinhões até não mais poder. É agora que a gente engorda pra emagrecer tudo correndo na areia e espanando água nas deliciosas braçadas, né? E quando a pele amorenar e o cabelo espigar e a terra secar e o corpo cansar virá aquela chuva de final de tarde pra gente matar a saudade do moletom com cobertor e pipoca em frente a TV. Quem sabe aí um veranico em agosto? Ponho fé.
E se viver não é essa sucessão de esperanças e lembranças, não sei o que fazer. Prometo que voltarei com o que é sério e interessante.
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