As tais cartas de amor

Sublinho as palavras mais difíceis

abandono as que desconheço

tua letra é pequena

tuas frases curtas são mesquinhas

falta sentimento na página

tão bem escrita

cheia de parábolas e metáforas

vazia de paixão por mim

Há esse amor que transborda

por si mesmo em cada linha

na tarefa intrincada

de traçar textos perfeitos

sem erros e sem afetações

suspeito um desejo

de abalar corações

se esmerando

no senso comum desfeito

nas paráfrases pomposas

e no culto ao inteligível

Esperei esta carta

sonhei uma declaração

senti a pele arder

as noites emudecerem o calor

quase perdi os sentidos como se fosse uma dama

ansiei lê-lo à mão trêmula

olhos embaçados e garganta fustigada

Recebi e li

um tratado, algo assim

um artigo, talvez

devo estudá-lo?

ou vais publicá-lo?

Que amor amado não se publica

atiro as folhas insípidas ao fogo

que cartas de verdadeiro amor

se escondem nas gavetas.

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