Às pressas

 

O prato de doces

restou intocado sobre a mesa

as rolinhas amavam-se

sobre o mato que se alastrava

pelo jardim

bicavam-se e trepavam-se

como se sorrissem do descaso

as cortinas empoeiradas

sussurradas pelo vento por entre

as frestas das janelas fechadas

às pressas

a torneira da pia do banheiro

pingava a cada dois segundos

num eterno conta-gotas

do abandono até secar

a caixa d’água

os gatos debandaram ao passo

da fome lá pelo terceiro dia

viraram latas pela rua

ainda esperavam entre cochilos

e perseverança

as lâmpadas acesas da varanda

esquecidas na manhã do desespero

levadas à exaustão das horas de vida

escureceram de vez a fachada

da casa

um silêncio frio dormitava

sobre o piso escuro

e amparava as manchas

da desgraça

um travesseiro caído ao lado

da mesa da sala de jantar

murchava os sonhos ali

travados em batalhas solitárias

paredes brancas testemunharam

o fim

 

Era meados de Outono.

(nada dura até o fim de um Inverno)

o teto ruirá junto ao Verão

seus restos confusos

invisíveis serão pelo alto muro

– de pé, permanecerá um poço profundo.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Blog no WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: