O pessimismo do mundo

A nossa felicidade é um erro. Pessoas passam fome, não vê? Pessoas sofrem vidas inteiras. Pessoas morrem nos hospitais, todos os dias. A nossa felicidade é um crime. Meu tempo em sorrisos e mergulhos é um desaforo contra o mundo. Somos desaforados, meu bem, em viver o amor. Porque não devemos ignorar o sofrimento alheio, porque devemos contrição em dias e noites de vigília. E eu, eu daria um naco desta felicidade para os infelizes inúteis de plantão e – claro – aos sofredores de dores reais. Simples assim. Por vezes seria mais eficaz que mil orações.

Eu já quis crer, inclusive, no futuro. Um futuro onde nossa felicidade não fosse contaminada pelos desamores alheios nem pelas tristezas de uns muitos. “Se parar pra pensar”, pois bem, penso sem parar. Não quero parar agora, nem aqui. Vamos em frente. A felicidade sempre será (mau) julgada. É como despertar uma ira dos deuses do mal aos desafiá-los com abraços à beira-mar. Como podemos ser felizes? Veja aí como o mundo se despedaça aos nossos pés: degolas em presídios, amigos em coma, crianças abandonadas por passarem fome, pais perdendo os filhos para a droga, pais que matam seus filhos e mulheres. Isso é mundo, meu bem? Que futuro terá este mundo?

Eu te espero aqui a pensar que não podemos perder um segundo. Perdoe de praxe essa minha eterna pressa – essa minha enorme gula pela vida (e por uns doces). Calculo o tempo, veja só. O futuro do mundo está condenado. E é isso que mais me motiva para jogar-me à margem das falsas esperanças. É preciso guiar-se por outras leis, por outros códigos de conduta. Os do mundo envelheceram e o levaram à desgraça. Precisamos de novos. Que não condenem a felicidade alheia – nem a nossa nem a de ninguém.

Quereria doar pedaços da nossa felicidade a ver se assim posso fazer mais pelos outros do que levar roupas velhas a um asilo, do que acender velas aos santos e do que doar cestas básicas às famílias pobres. Hoje é o que tenho a oferecer: pegue e vá ser feliz. Felicidade aquece, salva vidas e enche o bucho, sim. A gente é que é pessimista. Muito pessimista.

A nossa felicidade, meu bem, é o melhor que temos. Dirão até que é perda de tempo ou que não cumprimos as regras ou esperarão de nós coisas que nem imaginamos. Quererão que sejamos infelizes, por certo – é o que fazem algumas pessoas, sempre. Mas sou boa guardiã do que me interessa. Só não garanto que a louça esteja lavada quando você chegar, ou que eu tenha fechado a casa como deveria (acontece). Me perdoe de praxe essa falta de atenção e tempo para todas as coisas que deveriam ser menos importantes.

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