Foi diante da moça do pedágio, nem tão moça assim, que a certeza verbalizou-se nos meus pensamentos e ao atravessar a cancela murmurei baixinho para nem eu ouvir, pois a música estava num volume muito alto. Talvez tenha sido o dia. Um dia daqueles que a gente quer correr ler o horóscopo só pra tira-teima se ele havia previsto que tudo seria tão bom. Tudo, não. Teve lá uma coisinha no meio do dia que não deixou-o nos trinques. Mas, uma coisinha? Pois é. Diante desta uma coisinha também a certeza mostrou-se.
Um sorriso, meu bem, muda tudo. Muda a tua atitude diante do mundo – e ele responde, sabia? Um sorriso muda a sorte de alguém. Muda a saúde também. Altera até contas bancárias (tente e verás). Você já sorriu para a pessoa que mais te sacaneia? Funciona, vai por mim. Um sorriso desarma as artilharias mais pesadas. Eu nunca parei para pensar, mas gosto de sorrir – de dizer muito com apenas um sorriso. Talvez seja por conta da paixão pela fotografia – onde não tem textão, não tem declaração, não tem legenda (não deveria, viu…) nem explicação: a fotografia diz tudo naquele instante congelado. E o que diz mais do que um sorriso? Nem mil imagens.
É com o sorriso que você recepciona alguém. Que você pode abrir as portas da tua alma para uma pessoa. E o teu sorriso, meu bem, pode dizer tudo para o outro. Mas, sei lá, as pessoas têm medo de dizer o que lhe vai pelo coração. Um sorriso destranca medos inconfessáveis e arrebenta diques inconscientes. Um sorriso muda tudo. Ele atravessa feito raio as ambições perdidas e as ilusões bem alimentadas. Ele guia os olhares opacos e as mãos nervosas. Um sorriso, apenas, apaixona. Te garanto.
Sorrir para a caixa do supermercado, para quem está limpando as escadas do prédio, para o atendente do drive-thru. Muda tudo. O sorriso a gente dá antes de receber um. Tem que chegar chegando com o sorrisão no rosto: está aqui, querido, meu sorriso e, saiba, ele muda tudo. É meio doação, meio moeda de troca. Feche a carteira, abra o sorriso. Abra a janela do carro e ao sentir o vento que vem do mar, sorria. É o vento, o mar, o final de tarde, é estar vivo. Não precisa de mais nada para sorrir. Por que você não sorri todo dia ao acordar, só pelo fato de estar vivo, vivíssimo, podendo abrir os olhos? Como disse o padre, não dê bobeira. Sorria, digo eu.
Um sorriso, dizem, até salva vidas. Vidas sem esperança, desiludidas, amontoadas de solidões. Um sorriso faz chorar. O inesperado de recebê-lo pode emocionar até os tímpanos. Às vezes você não tem idéia, mas tudo o que precisa é aquele sorriso na porta de casa. Um sorriso muda tudo, seca as roupas no varal, acalma mares revoltos, ilumina varandas escuras, lambuza de chocolate o rosto de uma criança, deixa as folhagens mais vistosas. Há quem não acredite, te garanto. Porque nunca sorriu para alguém. Nunca sorriu com o coração para ninguém. E é este o que mais precisa receber um sorriso – mas um sorriso persistente, renovador, fiel. Não é qualquer sorriso. E aí, verás, um sorriso muda tudo mesmo.
Um sorriso muda tudo. Muda a tua vida, mudando a minha. O sorriso é a agulha que vai cosendo as vidas entre alegrias e tristezas, entre abraços e mãos dadas. Um sorriso é o remédio para doenças incuráveis da alma. Um sorriso aproxima no inverno e une de vez no verão. Um sorriso, meu bem, muda tudo. Muda as Estações do ano, muda a idade nos cantos dos olhos. Muda endereços e praias preferidas. Muda o andar do relógio e a direção dos ventos.
Naquele dia eu me dei conta. Uma epifania daquelas verdades que o coração cala porque tanto já viu na vida que acredita em menos coisas do que pensa capaz. Um sorriso mudou tudo. Um sorriso tem sido minha arma quando a garganta aperta. Um sorriso é o que visto nesse dia a dia que, seja clemente ou inclemente, eu tenho que encarar. De certo modo, meu bem, este sorriso foi tudo o que me sobrou. É com ele que eu conto para toda a vida que ainda virá pela frente. E, podem comprovar: um sorriso muda tudo.
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