Um amor de conto de fadas
desses das páginas de romances do século passado
ou das páginas de crônicas de jornais
um amor dos tempos das viagens de trens
e dos silêncios à beira-mar
dois personagens que se apaixonam
mal se viram nem se tocaram
apaixonam-se, assim
pelas idéias e pelas palavras
Um amor sem tréguas
que incendeia as almas e as madrugadas
que insiste em atravessar avenidas
e deixar-se em bancos de praças
ou jardins de museus quase abandonados
Um amor à distância
de dias e horas e míseros minutos
os personagens, por vezes, encontram-se no porto
anseiam descobrir as manobras dos navios
e por ali observam as aves a devorarem
incautos peixes e siris
enquanto sossegadas capivaras descansam
ouvem o marulhar da baía e celebram
brindes de caldo de cana
Um amor que sobrevive
às cicatrizes
e promete possuir ilhas e barcos
para sempre navegar ao infinito
e às ilhas desconhecidas
devorando poesias sem rimas
e páginas perdidas em sábados de preguiça
os personagens se encontram
quando não procuram mais
almas gêmeas nem duras penas
e traçavam caminhos sem companhia
quiçá sem sonhos
travam diálogos desconfiados
e se correspondem por mensagens cifradas
em declarações que poucos lêem
sem saber a quem se destinam
garrafas jogadas ao mar das esperanças
Um amor sem fadas
nem percherons admiráveis
nem finais desencantados
nem bruxas malvadas
quem dera, versos rimados
Repousa no intervalo
das Estações e implora
pelas férias dos corações
entre datas esquecidas
e ilustres feriadões
os personagens viajam ao encontro
do amor.
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