(porque o mundo não é justo)
Invade minha tarde estes parênteses e respinga nuvens no sol que, finalmente, se alastra pelo quintal. Penso nas praias poluídas e nas mortes de jovens envolvidos no tráfico. Tem, também, essas cidades cada vez mais caóticas e que nos deixam doentes. O mundo não é justo, concordo. Ele exige que eu trabalhe quando queria tomar banho de mar. Ele tira das nossas vidas aqueles a quem amamos. Ele transforma uma chuva melancólica num desastre que avança pelas casas. Seria, porém, o mundo justo apenas pelo fato de ser como queremos?
O mundo não é justo porque não estamos juntos. Talvez tudo seja assim simples. Como este quintal onde rolinhas namoram nos telhados, galhos secos caem com o vento, o cão lambe meus dedos e a gata reluz seu laranja ao sol. Talvez nesta simplicidade falte a sua companhia a ouvirmos o som dos carros que nos chega da avenida e o silêncio de mais um fim de dia. O mundo não é justo, enfim, porque há espaços vazios onde vontades encontram-se insatisfeitas.
Porque o mundo não é justo eu queria lançar barcos ao mar em jornadas de buscas infinitas. Eu queria, por vezes, não ser eu. Porque o mundo não é justo nada me falta se a medida é o tempo. Mas, falávamos do mundo. Há, acaso, algo que nos entristeça mais do que tal assunto? Eu conheço a beleza e o amor e sei que nem a beleza e o amor contidos na esperança nos fazem ver o mundo com alegria. Nós deixamos o mundo de pés sujos, alma partida e rosto desfigurado e ele nos responde não sendo justo.
E se acaso fosse justo, juntos estaríamos; a contemplar o pôr do sol, a ansiar as espigas de milho que cozinham na panela e a dormirmos na certeza de mais um dia sem faltas nem saudades. Se acaso o mundo fosse justo, quem sabe, mal caberíamos nele, impregnados de incertezas e medos. Porque o mundo não é justo ainda não é sábado.
Deixe um comentário