Mudou a minha vida

(escrevo este texto pois sinto-me em dívida com uma pessoa,

e sem ter como agradecê-la, deixo o registro, que provavelmente nunca será lido)

Imagino que já aconteceu com todo mundo, mesmo que nem todos tenham se dado conta. Há gestos, nossos e dos outros, que mudam a vida das pessoas. Por vezes, nem é um gesto, é apenas uma frase. Quiçá um olhar.

Dirão que é coisa de quem vê em tudo a mão do Destino (e é), ou que é coisa de quem vive acreditando em misticismo e superstições. Por certo que quem vê a vida assim é mais feliz e encontra mais sentido em toda nossa passagem pela Terra. Alguns, religiosos, terão outras interpretações – que em nada impedem de ser acrescentadas às outras explicações. Se alguém ainda acha que a vida é algo racional, exato e calculado, acho melhor parar por aqui.

Eu acredito no Destino e inclusive já falei dele, o tal velho safado. Ele ri de mim, se diverte, me leva à loucura. É o segundo bom amigo que tenho neste mundo, pois todos sabem que o primeiro é o Tempo (sempre foi). E certeza que é o Destino que coloca as pessoas diante umas das outras, com funções específicas, e neste momento as coisas acontecem.

Quando eu estudava na graduação, à noite e longe de onde eu morava, eu pegava o ônibus. Volta e meia via um senhor, figura atípica num ônibus que tinha o embarque na universidade, dez da noite, direto para a outra cidade. Ele sentava em qualquer lugar do ônibus, ao contrário de mim, que sempre sentei no mesmo lugar (como boa velhinha que sou), ali na frente do cobrador. Eu via-o sentar e sempre puxar conversa, mesmo que os jovens arrogantes e arredios não fizessem muita questão com seus fones de ouvido e desinteresse natural. Um dia ele sentou ao meu lado e conversamos o trajeto todo. Não sou de conversar gratuitamente, mas naquela época eu fazia isso e acho, hoje, que é herança (obrigada, vô) ter essa disposição de bater papos com desconhecidos. Sobre o que foi a conversa? Nem saberia dizer depois de tanto tempo. Mas lembro que falamos sobre um assunto em específico que, na época, me marcou muito e “ajudou” a tomar uma decisão que eu precisava tomar. Cheguei em casa eufórica, pensando sobre a conversa, tomei banho, preparei minha janta e fui dormir com a resolução que tomaria no dia seguinte – e que provocaria inúmeras mudanças na minha vida. Nunca mais vi aquele senhor na vida.

Podem ser situações assim, inexplicáveis. Podem ser questões mais concretas, como o Elias na rodoviária de Goiânia (eu sempre falo nele). A pessoa que te ajuda, que faz além do que ela deveria, para resolver as coisas. Essas pessoas existem e estão sempre pelo nosso caminho. Mas, depende de nós.

Primeiro, depende de nós termos ouvidos e olhar atento. Se ignoramos sempre tudo e todos à nossa volta, jamais teremos contato com o extraordinário. Tem pessoas que são assim, só olham para si, só vivem no seu mundinho. Que pena. E também depende de nós saber compreender, ver o contexto, refletir sobre os acontecimentos, sobre os milagres e acreditar no Destino. Essa, acredito eu, é a parte mais difícil. Porque, simplesmente, não há regras, não há cartilha, não há certezas. É preciso desenvolver, ao longo da vida, uma visão profunda das coisas que acontecem para, às cegas, apenas acreditar. Vale intuição? Vale. Mas a reflexão e a observação também são bem confiáveis.

Tem dias que não esperamos nada da vida, e aí ela nos chama para dançar. Não vale a pena dizer não. Quem se recusa jamais saberá o que está perdendo. Quem aceita, se joga. É preciso se jogar de cabeça, sem perguntas. Quem sabe as explicações virão, às vezes nunca saberemos ao certo qual era a música ou para onde fomos. O certo é que tudo aquilo terá um efeito.

Nesses gestos, pode ser uma mera frase, ou um verso, dito por quem você não conhece. E você se depara com uma verdade que na tua vida inteira nunca tinha se dado conta. Pode ser simples assim, ou essa simplicidade pode ser apenas o começo do entendimento de toda a situação. Vai depender do quanto você está disposto a mergulhar nessa aventura com o Destino. E, como ao senhor daquele ônibus, talvez, como eu, você nunca terá a oportunidade de agradecer.

A verdade é que nós nunca sabemos como os nossos gestos, as nossas ações, mudam a vida das pessoas. Pode ser algo muito fortuito, pode ser com relacionamentos e presenças mais frequentes e próximas. Uma conversa, um convívio, uma lembrança, uma ajuda, uma declaração, um gesto, um olhar, um sorriso. O oposto também é verdadeiro, temos poucas chances de dizer às pessoas como elas mudaram a nossa vida – com tão pouco.

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