Viva o Cinema!

Ontem, na Argentina, o presidente recém empossado atacou as políticas públicas para o cinema nacional, num arroubo de raiva e tentativa de frear um dos melhores cinemas do mundo – em vários sentidos, inclusive no financiamento público.

Hoje, dia 28 de dezembro, é o marco da primeira exibição dos irmãos Lumière, em Paris, e a data que consideramos o surgimento do Cinema. Cinema, assim mesmo, com letra maiúscula, porque há 128 anos ele é um senhor sucesso de público – até com seus inimigos. Sim, há inúmeros inimigos do Cinema.

Os inimigos surgem pelo único motivo do sucesso, se ele tivesse fracassado na vida, ninguém se incomodaria com ele. Porém, o Cinema ainda apaixona e enfeitiça, nos prende por horas, que longa-metragem nenhum é uma série, nos estala o cérebro em minutagens mais curtas. E carrega atrás de si os fofoqueiros de plantão, pessoas mal-resolvidas que não gostam de ver o sucesso alheio.

Termino o ano feliz da vida por ter feito talvez o filme de maior sucesso nacional (e mais visto? até o momento, quem sabe) da minha cidade. Gritos do Sul rompeu algumas (não poucas) barreiras e só posso agradecer aos detratores, invejosos e infelizes de plantão: eles comprovaram que o curta-metragem foi muito bem sucedido no que se propôs. Aliás, reitero que o sucesso é inclusive a demonstração dos bons resultados que podemos obter no investimento em políticas públicas para o audiovisual. E por saberem muito bem disso é que os políticos da extrema-direita e da direita de cima do muro atacam, por preferência, o Cinema. Hoje, nessa data tão importante, quando o mundo nos deu o Cinema e depois disso nunca mais foi o mesmo, precisamos dizer com todas as letras: eles atacam o Cinema porque sabem o poder dele.

Ninguém teme quem é fraco. Não é mesmo?

Curioso perceber como quem atacou o Gritos do Sul e a mim, roteirista e diretora, é quem se diz paladino da Liberdade. Precisam voltar pro dicionário. Quem ataca um filme jamais pode dizer de si que defende a liberdade – sem espaço aqui para embromação, liberdade ou é a favor, ou contra, encerra-se a questão. Nada mais livre do que produzir filmes corajosos, e que sobrevivem e sobreviverão a todos esses que um dia são alguém, amanhã ninguém sabe que fim deu.

São essas mesmas pessoas que inventam mentiras e correm para as redes sociais atacar os outros que devem ser responsabilizadas pelos seus atos – quantos mais precisarão tirar a própria vida para que nossos legisladores entendam? E o Cinema já antecipou isso, lembro de ter assistido a um filme, um bom tempo atrás, sobre as consequências na vida de uma menina, após ser atacada por mentiras em redes sociais.

Eu poderia ter tirado a minha vida, em algum dos inúmeros dias de angústia que passei ao ser atacada. Não o fiz. Nem todos conseguem. Passou da hora de discutirmos isso. Minha tranquilidade, na alma e na consciência, é saber que fiz um filme que causou tantas reações e que vai reverberar ainda um bom tempo. Mas, não se enganem, o medo não terá vez. Continuam e continuarão tentando calar o Cinema – jamais conseguirão.

Até mesmo quando o Cinema foi usado pelos covardes, quando usam o Cinema como propaganda, ele sobrevive forte para nos contar quais os erros que não podemos cometer. Precisa muito mais do que um decreto qualquer para silenciar o Cinema de um país. Precisa muito mais do que a dor de cotovelo de uns joinvilenses para calar o meu Cinema. Precisa muito mais que streamings capitalistas para fazer do Cinema uma arte desinteressante.

Recebi hoje uma mensagem que dizia que eu mereço (coisas boas) porque luto contra o sistema. Tendo a concordar. Que venham mais pessoas para a luta.

Assim, provamos na prática o quanto vocês precisam mesmo temer o Cinema.

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