Cada escolha revela um pensamento, por vezes uma intenção. O vestido é sempre escolhido baseado em detalhes e critérios que conjugam os compromissos, a viabilidade de sucesso do dia, o destino que assombra, as possibilidades de felicidade (mesmo que egoístas), as lutas e batalhas a serem encampadas, os inimigos à espreita e até mesmo o desejo – seja ele de quantas tonalidades for.
Escolher o vestido é desafiar-se a traduzir numa linguagem que pode passar despercebida toda uma personalidade e uma vida, é ter apenas alguns tantos de algum pano a enviar mensagens e declarar guerra – ou paz. Por vezes, o mesmo vestido pode dizer algo diferente, conforme os acessórios, o dia, a lua, a estação e até mesmo, jamais ele não dirá nada.
É como encampar um diálogo com o mundo, sem palavras ditas, contudo que calam mais do que gritos. Gritos. De onde quer que venham os gritos. Há uma eu que quase ninguém conhece e que graça teria a vida se fosse tão fácil assim conhecê-la. E desse quase ninguém há poucos sobreviventes. Para lograr conhecer alguém há que se ouvir os diálogos sem palavras, há que se aproximar de quem ela é quando não há ninguém a testemunhar seus atos e pensamentos. Deus foi tão grande quando não permitiu aos humanos que lêssemos os pensamentos uns dos outros!
Até mesmo quando a escolha não é um vestido ela emite sinais sensíveis ao tato e ao olhar mais apurado. Porém, não é possível tocá-la. As traduções simultâneas são da pior qualidade, sempre com impressões deturpadas pelos olhos que a vêem. Consolida-se o fracasso do diálogo humano tão ressecado ao hábito do bê a bá.
Como o Destino não se pronuncia quando dará o ar da graça, só me cabe tecer inúmeras estratégias em cada passo, em cada olhar, em todas as escolhas e, por vezes, ter vestidos como uma boa jogadora têm cartas na manga.
Deixe um comentário