As pessoas falam coisas que, sabe Deus porque, nós guardamos lá na lembrança. Ouvi uma vez, de uma criatura que talvez tivesse interesse em me dizer isso (mas eu realmente não percebi!), que deveríamos casar com quem gostamos de conversar, porque quando tudo acabasse (amor, sexo, trabalho, e sei lá mais o quê) só restariam as conversas. Alguns dizem que devemos casar com aquele que nos faz rir. Já ouvi dizer que o mais importante é a estabilidade no relacionamento. São tantas as “sabedorias”!
Mas, pensando nessas concluí que discordo de todas – isso não significa que tenho outra que acredito melhor ou mais “sábia”, o que me faz lembrar da seqüência do Fahrenheit, Truffaut. Eles estão na biblioteca secreta da velhinha e ao andar através de tantos livros (proibidos, na época “futura”) o chefe do Montag comenta sobre a Filosofia, sempre vem um depois do outro a dizer que a sua é a “certa”, é a melhor. Pois bem, deixemos isso para os filósofos.
Casar com quem gostamos de conversar? Não. Nas conversas estamos sempre mais dispostos a ouvir ou falar. Nunca ambos. E vai que acontece que os dois do casal estão na mesma? Dois querendo apenas ouvir fica complicado, pior ainda dois querendo apenas falar. Fica um falando de uma coisa, o outro de outra. Mas quando combina de um querer falar e o outro ouvir? Acredito que precise sempre haver uma intercalação desses papéis. Sejamos sinceros, você casaria com alguma pessoa com a qual gosta de conversar? Conversamos com os familiares, com parentes, com amigos, com inimigos, com desafetos, com o cara da tenda de frutas, com o dono do restaurante, etc.. conversar se faz necessário, principalmente, com as pessoas com as quais não convivemos diariamente sob o mesmo teto. Não sei porque me ocorreu isto, mas fato é que cheguei a esse pensamento. Você não “precisa” conversar com quem está ali do seu lado, sabe o que você pensa, no que acredita, o que detesta. Para quem está ao seu lado, o mais importante é o silêncio. Hoje, depois de alguma “experiência” em relacionamentos interpessoais (bonito isso, né? Só para não parecer outra coisa!), percebo que com as pessoas mais próximas não sinto tanto a necessidade de conversar, mas o que me fez chegar a isso foi sentir que o silêncio entre duas pessoas, se incomoda, é sinal de que não é um bom relacionamento. Se o silêncio é terno, confortável (principalmente), é porque ali há algo muito bom.
Tenho ouvido bastante que sou engraçada. Longe de ser um elogio, penso que se nada der certo, virarei palhaça, que tal? Sou uma pessoa divertida, isso é fato (não com qualquer um, beleza?). Divirto muitas pessoas, como me divirto com tantas outras. A diversão é um quesito diário e importante da vida, mas não sempre. Ao mesmo tempo ouço que sou uma pessoa séria. É, é verdade. “rir de tudo é desespero”, não é mesmo? Ou como diria a Dra. Sônia (filósofa) “vocês estão rindo de nervoso” (ela dizia isso para nós pobres aluninhos de primeira fase). Divertir-se é necessário. Em um relacionamento é muito difícil (principalmente para as mulheres), diante de brincadeiras constantes, saber o que o outro leva a sério ou não. Posso ser um tanto chata nisso (não só nisso, diriam alguns), pois acredito que brincadeira tem hora. No relacionamento, por culpa da convivência, é mais complicado você encontrar essa “hora”. Por favor, não é pra ficar sério o tempo todo! Por isso que casar com quem te faz rir começa com um problema, quando você quiser falar algo sério e importante, aquela qualidade vai virar defeito.
E, finalmente, a estabilidade. Eu começo realmente a acreditar que as pessoas gostam disso, mas tenho certeza que isso não as faz feliz. Se é para ser um relacionamento duradouro, como aguentá-lo na estabilidade? É na instabilidade que descobrimos o outro, descobrimos a nós mesmos, descobrimos do que somos capazes e até onde vão nossos sentimentos e nossa palavra. Não é à toa, né, gente, que todo romance Best seller e água-com-açúcar tem aquele conflito para os personagens se apaixonarem. E por que, como, terminam com um “viveram felizes para sempre”? A estabilidade gera muita coisa (segurança, conforto, blá blá blá), mas não é a mãe da felicidade. As coisas sempre as mesmas não nos deixam sempre feliz. Agora ainda lembrei da teoria de um grande amigo e colega de profissão de que as mulheres é que selecionam e escolhem o seu parceiro. Discordo veementemente disso. Na maioria dos casos é o homem! E o que preocupa os homens para conquistar essa presa? Oferecer conforto, segurança, estabilidade, para mostrar que essa conquista é pelo “melhor”. Bobos, né? Porque a quase totalidade dos homens se preocupa tanto com a conquista, mas nem percebe que conquistar uma mulher é fácil (bobas, né?), o difícil é mantê-las. É sempre preciso oferecer mais a cada dia. Por isso que essa idéia de que “eles têm os mesmos gostos, os mesmos interesses, fazem as mesmas coisas, têm os mesmos amigos” é a pior sobre o “certo” num relacionamento. A estabilidade e a constância acabam com o cotidiano, admirar e gostar do que o outro faz é essencial, mas viver juntos requer a separação, requer a distância para que o sentimento sobreviva. Tenho visto muitas pessoas casando (não entrarei no mérito do casamento pois todos sabem que não sou lá uma pessoa com boas opiniões a respeito), procurando relacionamentos a todo custo, pessoas em situações bem estáveis. Algumas, que já estão nesta situação a algum tempo, mostram sinais de infelicidade. A perfeição pode ser bem monótona. E, como diria o velho sábio, tudo acaba. Algumas coisas pordem reviver, diria eu, mas os sentimentos não.
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