Tem dias que a chuva insistente e o dia mais frio de décadas faz o espírito ficar quietinho e o corpo dolorido. Cabe a nós saltar da cama e começar a pular, tomar um Nescau quentinho, e sair.
Mas, não vivemos só nesse mundo e o que os outros fazem podem nos magoar, machucar. E aí o dia cinzento fica ainda mais sem cor, doloroso. Nesses momentos, aquelas pequenas coisas chatas da vida te deixam indiferente. O longo e chato caminho até o Detran, as pessoas sem educação, tudo isso nem existe porque a cabeça fica lá longe ouvindo as músicas do mp3. Livre tradução: a um coração ferido a música lhe dá sentido.
O trajeto e as “obrigações” não são nem um pouco encantadoras. Daí no meio do caminho tem a Casa das Tortas. Para quem mora e para quem não mora aqui na Ilha, tem ali no Mercado Público (com o nome Café Vidal, mas com a mesma qualidade) e perto da Praça dos Bombeiros, também no centro. Para quem aqui havia saído de casa sem almoçar, só com um Nescau a pedida era boa.
Sou fã da Casa das Tortas desde que vim morar pra cá e descobri essa preciosidade. A pedida perfeita pra mim é uma fatia de empadão de palmito, um copo de suco natural de abacaxi (sem açúcar e sem gelo!) e uma fatia farta de torta trufada! (o valor é bem razoável, uns R$10) São, pra mim, as melhores tortas da cidade. Um programa e tanto. E ali naquela mesinha, olhando pela vitrine, vendo a chuva… às vezes precisamos alimentar o corpo e a alma. Ali a música dava sentido a esse coração ferido.
A chuva continuou (continua ainda) e isso não significou, em nenhum momento, que sair fosse um programa ruim. Minha alma precisava caminhar, precisava da torta trufada… principalmente para me lembrar porque gosto de morar aqui e porque essas idéias de me mudar de cidade podem ser apenas relâmpagos numa tempestade.
A tempestade continua.
O último programa de índio era passar no supermercado. No fim das contas saí com duas sacolas: três caixas de leite e uma garrafa de vinho. O suficiente para quem mora sozinha nessa onda de dias frios!
O leite já está esquentando para o Nescau da noite e logo mais, com uma sopa de frutos do mar, teremos um vinho tinto.
Não é porque a tempestade continua que precisamos nos manter molhados…
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