Como eu imaginei, ninguém quis pular do penhasco comigo. Muitos nem mesmo sentiram o calor na nuca. Também imagino que ninguém saltou do trem. É perigoso, pensaram.
Porém, todos ficaram ali pensando, por um breve instante entre um trabalho e um desgosto, como seria. Nunca saberão. Porque os trens continuam cheios.
Eu queria dizer, queria conversar, queria explicar. De nada adiantaria, ninguém entenderia.
Saí do banho agora a pouco e me olhei do espelho, corpo ainda molhado, respirei fundo e procurei minha alma. Não a encontrei. Porque, às vezes, ela assume a liberdade que tem e vai embora.
Eu já não tenho toda essa liberdade e carrego aqui o fardo de existir.
Ninguém entenderia.
As pessoas não ouvem, não são mais as mesmas, eu já não reconheço ninguém.
E lembro do Fernando Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder. A liberdade: unicamente a liberdade.” Aqui em queda livre não quero nenhum prazer, nem glória, nem muito menos poder (que nunca desejei nem em terra firme). Almejo sim a liberdade que a minha alma possui.
Libertar-se é diferente de fugir. A maioria confunde isso. E, principalmente, fugir é uma estupidez porque nunca é possível fugir de si mesmo. Nunca. Então, fuja desse, daquele, disso, daquilo… e carregue a si próprio como a sombra indesejada. É preciso muito caminho, muitas pedras, muita experiencia, muitas quedas livre, muitas cicatrizes para assimilar tudo isso – quem não alcança isso é porque está ali sentado no trem.
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