Exercício diante do fim do mundo

 

 

Eu ali sentada, o sol escaldante na cabeça. Sim, fazia calor apesar de um vento fresco surpreendente (nunca havia visto esse vento por aqui).

 

Não havia água, nem comida. Eu mal tinha acordado e os olhos embotados ainda me confundiam quando eu saíra de casa. Eu evitava as perguntas.

 

O trem passou para lá. O tempo ficou ali parado. O trem passou de volta para o outro lado. Não quis fazer cálculos, mas a distância percorrida mais o tempo estimado para esvaziar cada vagão, sendo que havia x vagões… sim, era bastante tempo. Melhor mesmo não querer saber.

 

O movimento da hora do almoço, todos foram, todos voltaram.

 

Um kadett rebaixado, verde escuro metálico, com aquela música compartilhada com todos a sua volta, pára ao lado. Eu reviro os olhos ao ouvir um verso da música. Ainda embotada para não perceber os números das horas, nem recordo mais a letra da música no segundo seguinte.

 

O motorista sai do carro, vejo pelo canto dos olhos, viro o rosto para o outro lado.

 

Sinto um cheiro. Hein? Viro a cabeça na direção do vizinho, lá esta ele, já fora do carro, com um desodorante spray a apertar em direção às axilas.

 

Náusea. Náusea. Náusea. Náusea.

 

O sono, o tempo, a paciência, o ir e vir representado, tudo era suportado. Aquilo não.

 

Náusea. Por um segundo refleti que sinto náusea ao ser forçada ao contato da intimidade alheia. Náusea.

 

Pensava no fim do mundo que havia sido anunciado para o dia. Mas haveria algum outro fim do mundo que não aquilo tudo?

 

 

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