Pós-guerra

 

Já faz tempo que sou “velha”, porque a vida correu e pra não piorar o que já era ruim eu corri atrás. O ceticismo, a ironia, a desilusão mantiveram apagadas muitas coisas que não tiveram seu tempo nem seu lugar na minha vida. Poucas (boas ou más) reações derivavam da surpresa.

 

De velha pra chata é um passo. E qualquer um que me conhecia, pouco ou muito, percebia isso. Apesar de uma alegria fugidia que parecia negar tudo isso. Só parecia.

 

Não falta juízo, experiência, nem um monte de coisa.

 

Porém, como eu disse nos últimos posts, tenho pensado muito. E eis que uma coisa grande e simples, mas tão sutil, me fez pensar que eu tinha uma idéia errada.

 

A guerra. Sim, a guerra. O exemplo surgiu da guerra real, aquela de combate, entre nações ou ideologia, a luta armada. A guerra em si é um exercício devastador, destruidor. Nos locais dos combates há morte, fome, destruição, medo, excessos de ambos os lados. Os povos dos locais onde elas ocorrem fogem ou ficam e tentam se esconder. É um tempo de privação e mudanças. Fácil dizer que é uma coisa ruim, que estraga mais do que beneficia. O período de guerra é o prato principal de muitos livros, é objeto de cobiça de historiadores, programas de TV e o cinema se deleitam entre a ficção e o documento.

 

A coisa, então, assim se apresentava pra mim. A “guerra” pode ser, também, todas as nossas batalhas contra pessoas, instituições ou “problemas”. Entramos em guerras no sentido figurado. Usamos a guerra como uma metáfora, pois consideramos esta guerra a nossa guerra, usamos todas as relações: nos armamos, planejamos, atacamos os inimigos.

 

Contudo, a surpresa se deve ao perceber que a guerra em si, o período de guerra não é o cerne da questão. Neste caso, o que realmente conta, o que faz a diferença é o pós-guerra. A modificação que a guerra causa nas pessoas, como os lugares (no caso da guerra literal) ficam depois da guerra, as trocas que ocorrem entre os exércitos, o “mundo expandido” é que é o efeito da guerra. O durante importa muito pouco ou quase nada. O efeito daquele período, as consequências, é que dirão a que veio tal guerra.

 

E assim é também com a guerra metafórica. Nós nunca somos os mesmos depois que saímos de uma guerra. (lembram os relatos, filmes e livros sobre ex-combatentes das guerras literais?) Os comandantes e os líderes se preocupam demais com o desenrolar da guerra, sem perceber que o que vem depois é a verdadeira guerra.

 

Por isso, antes de entrar na guerra, não pese apenas as estratégias, as armas, as munições, a força do inimigo. Pense se você está à altura de aguentar o que virá depois, porque o combate embota os sentidos e as emoções, mas na hora que a poeira baixar, na hora de contar mortos e feridos e retirar a tropa os olhos vão voltar a enxergar, inclusive aquilo tudo que você fez e sofreu durante o combate.

 

Era isso, talvez, que eu ainda não tinha percebido. Como eu disse, é sutil, muito sutil. Tão sutil mas ainda mais importante. O silêncio que reina justifica a importância dessa percepção. A sutileza ao tocar no assunto é tão delicada posto que é, de fato, algo difícil e delicado em si.

 

Talvez você, querido leitor, já soubesse disso e perdeu seu tempo lendo. Pois bem, a velha aqui não. E o desassossego do blog é feito disso. Fico, na contramão, pelo menos satisfeita porque não sou totalmente imune às surpresas. Ainda me falta um pouco da “velhice”. Ainda bem.

 

 

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