E eis que os astros mandam que eu hiberne e eu aceito com todo gosto.
Porque eu sofro, eu me descabelo, eu escondo o que sinto, eu me enclausuro na casa da mãe até ter coragem de encarar o mundo, eu passo as noites com imagens audiovisuais, estórias e vinho. E eu sei que pra tudo há um tempo, há o momento de cair, tentar se agarrar a qualquer coisa que pareça ao alcance e… deixar passar. Chegar ao fundo, respirar e resolver subir de volta.
Não deixo, entretanto, de me divertir, de rir de mim, de analisar bastante até saber que era pra ser como foi. Tudo é assim. Errar é não ter coragem de tomar atitudes. E eu as tomo com todas as possibilidades que elas trazem.
Aproveito a hibernação ao me ver livre, leve e solta. Feliz. Busco uma coisa aqui, outra ali, vou pra lá, pra cá… porque sei que é a hora de não se prender, de não sofrer, de sorrir pro Tempo que me promete tudo, e mais um pouco.
Certas coisas que por uns dias me desinteressaram completamente me reapaixonam sem dó. Porque paixão tem que ser assim, imediata, dolorida, rápida.
Hoje à beira-mar, sentindo a areia gostosa roçando meus pés e pernas, lendo um texto um tanto fraco, mas com relevância eu percebi que minha pesquisa tem uma fragilidade. E isso me deixou alegre e entusiasmada. Sinal de que eu percebi isso a tempo, sinal que há um desafio ali. Melhor eu ter percebido isso do que outra pessoa (até porque o mundo está cheio de gente querendo sacanear, né?), melhor agora do que tarde demais.
E o sol… ah! o sol! Queimando a pele… como senti falta disso! Não quero mais dias que exijam blusas de lã! Quero sandálias, chinelos, vestidos… a leveza, a pouca roupa…
Domínio de si é uma coisa que vem e vai. Ainda mais para alguém tão (mas tão) passional. É preciso saber aproveitar cada um dos momentos.
Nunca me amedrontei diante do fracasso, nem dos fins, nem do frio da alma, nem de muita coisa.
Não me amedronta, agora, retomar as rédeas da minha vida e das minhas loucuras. Nem dos frascos quase vazios de perfume. Certas coisas são como um perfume que você adora, quando chega bem no fim você pára de usar só pra deixar ali, poder olhar todo dia pra ele e saber que você ainda o tem, mas na verdade não pode mais usá-lo. Se usar as duas últimas gotas ele vai acabar. Se não usar, ele acaba do mesmo jeito mas você tem uma desculpa pra mantê-lo ali. Chega uma hora que é preciso usar as duas gotas e jogá-lo fora, ou guardá-lo, com as duas gotas, mas longe da vista. Como uma lembrança de batizado qualquer.
Tenho vários frascos de perfume… alguns vazios joguei fora, outros guardei com suas últimas gotas numa caixa qualquer. Daquelas que você, num dia qualquer, abre e nem lembra o que tinha dentro.
É preciso saber, além de viver, entender as metáforas e acreditar nos astros.
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