Dos amigos
O qual sempre levo comigo
É o Tempo
atinge e consola
o coração vazio.
Vazio tropeça
Erra mais
Se engana
Se desfaz em palavras encantadoras
e se vê só naquela noite, o vinho, a outra taça vazia
coração vazio
não sofre, sente falta
até da dor.
finge-se louco, fugidio
finge mil
Logo este coração
que tão difícil se apaixona
quase nunca se entrega [quase?]
coração dramaturgo
cria e recria
reescreve seus personagens
e estórias
coração vazio
sente por demais
não ter nada para sentir.
não lamenta
nem pede para reviver
as histórias do passado…
não vive do passado
não vive do presente – vazio
Vive o que virá.
coração vazio
acredita como quem não acredita
nas ilusões passageiras do Chico
aprecia em demasia as brisas primeiras
coração vazio
só encontra a cama
à meia-luz
coração vazio
aprecia malas feitas
e desfeitas
aprecia idas e vindas
coração vazio
arisco te evita
evita aquele, aquela conversa
aquelas fotografias
aquele lugar
aquela cidade
aquele olhar
coração vazio
até queria
querer-te bem, querer-te mais
e não sabe encontrar
meios pelos quais
possa disso falar
coração vazio
não revira o lixo
não procura quem cala
se esconde de quem se insinua
foge, vazio
se tranca, diz que é demais pra si
volta aos livros
aos personagens
e sente falta até de sofrer.
coração vazio
discute mais
investe em banalidades
pede atenção naquelas horas
em que tudo passa mais devagar
coração vazio
anseia por sentir…
deseja desejar.
E não se encontra
não se vê em nada, em ninguém
coração vazio
olha para os lados
lê poesias
ouve canções
suspira
coração vazio
erra tanto
tropeça tanto
ignora tanto
tanto quanto
o caminho
para a tranquilidade
que o Tempo
lhe ensinou.
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