Thanksgiving Day

 

Eu sou e faço certas coisas que só em determinados momentos eu consigo nomear. Acontece com certa frequência, é um exercício de auto-conhecimento e auto-análise que desenvolvo consciente e inconscientemente há tempo. Sim, posso, de passagem, culpar algumas leituras dos livros de Psicologia de papai num momento crítico da minha vida. Independente dos culpados, fato é que para alguém solitária e tão introspectiva (vá lá, Jung) esta atitude parece corriqueira.

 

E eis que ontem, durante o banho de mar naquela praia deliciosa, no mar mais gostoso da Ilha, comecei a agradecer. Agradeci tudo o que tinha para agradecer deste último ano. Meu 2012 começou em novembro do ano passado, portanto, por agora (sou péssima com datas!) é meu “Ano Novo”. O que precisava acontecer, o que precisava mudar, tudo o que deveria acontecer, começou a acontecer lá por novembro de 2011, depois de um período confuso, difícil, doloroso. Claro, não foram só coisas ruins, mas o turbilhão não me deixou seguir o caminho que eu deveria fazer para mim. Passado. E o passado deve lá ficar. Esses dias ainda me dizia silenciosamente que sei muito bem passar por cima das coisas. E como sei! Pensei isso ao ver e ouvir pessoas se remoendo sobre coisas, sobre o passado, sobre sentimentos, sobre tanta coisa… passem por cima! A vida exige isso. Senão, seremos todos mal-amados, recalcados, chatos, intransigentes. Eu ali ouvindo e lendo o que me diziam e feliz, fazendo festinha em mim mesma, por conseguir passar por cima das coisas. Caso não fosse assim, meus queridos, eu não estaria aqui. Muita gente e muita coisa já teriam me derrubado. E, sinceramente, isso não é pra mim.

 

E eis que ali agradecendo e mal conseguindo listar tudo o que nestes doze meses eu queria agradecer consegui nomear mais uma coisa que sou. Ritualística. Sim, sou ritualística. Gosto de rituais, os faço com muita frequência para muitas coisas. E ontem ali, dentro d´água, olhando para os barcos, para o mar, para o morro, para a lua, para o sol, me descobri uma pessoa com fé que precisa de certos momentos, certas preces, rituais que signifiquem e resignifiquem a vida e tudo o que vem com ela. Fiz meu ritual de agradecimento – mas Thanksgiving é só hoje! – e senti como se dois terços de tudo tivesse ficado naquela água límpida e calma.

 

Sim, Thanksgiving é hoje. Mas, queridos, eu digo que sou péssima com datas! Agradeci tudo antecipadamente porque naquele momento e naquele lugar foi que senti. Sim, me deixo levar por tudo o que sinto, sem dó nem piedade, nem de mim nem de ninguém. Não resisto a nada – mais uma constatação das últimas semanas – e esta incapacidade me faz ainda mais feliz.

 

E ali tentando enumerar tudo o que eu tinha para agradecer, dentre a revolução que estes últimos meses foram na minha vida, entre coisas “boas” e “ruins” (sim, entre aspas porque considero tudo necessário, não penso que só coisas boas devem acontecer, sou o que sou tanto pelas boas quanto pelas ruins!), passou aquela vozinha “não vai pedir nada?”.

 

Não. Não peço nada. Nunca mais. Li, faz tempo, um texto que já até citei aqui, do Thomas More (meu querido!), em que ele dizia que não deveríamos pedir nada, apenas agradecer. Naquela época, num ano que teve um tantinho (ou muito!) deste último, eu me sentia assim, com tanta coisa por agradecer depois de ter passado meses rezando e pedindo. Eu pedia pelo grande salto, pela grande mudança que se fazia necessária na minha vida, e fui atendida. A partir de então, só cabe a mim fazer o que é preciso (foi isso que eu esqueci nos anos antes de 2012!) para que tudo aconteça. Por isso, tudo o que vier, eu agradeço. Não peço mais nada.

 

Sou ritualística, tenho fé, sou religiosa à minha maneira, acompanho horóscopo, leio tarot… quando me perguntam se acredito nisso ou naquilo, respondo com o verso de uma canção: acredito em tanta coisa que não vale nada!

 

No que creio pertence somente a mim.

 

Por isso, tenho tanto a agradecer neste Thanksgiving (sei que não é tradição brasileira, mas por motivos culturais e familiares ela foi introduzida nas nossas comemorações, vejam só, antes de eu nascer! Se copiamos tanta coisa de outros países, por que não uma tão boa?). Espero que quem me lê também tenha, independente de crenças, religiões ou qualquer coisa.

 

O texto do More que eu citei é “Diálogo Sobre o Conforto Espiritual e a Atribulação”. Não vou dizer “recomendo”. Porque, sinceramente, às pessoas de pouca ou nenhuma fé eu não recomendaria e acho chato e pedante recomendar livros. Eu sei onde eu li este livro, quando. Tenho essa péssima mania de associar músicas e livros a lugares, épocas da minha vida. Até hoje sei exatamente onde e quando li os mais marcantes e importantes para mim. Lembro de cada detalhe daquela tarde em que comecei a ler Cem Anos de Solidão, sem entender nada das primeiras páginas e resolvi dormir para voltar a ele no começo da noite, já desanimada, e devorá-lo madrugada adentro. Sei até qual era a disposição dos móveis daquele quarto. Rituais. E uma memória às vezes bem sacana. So não vou colocar citações aqui porque, enfim, é mais chato e pedante e nem sempre eu faço anotações nos textos (caso deste do More).

 

Dia de agradecer, de saber que o Tempo (este amigo!) e o Destino (este velhinho safado!) são cúmplices, de ter a certeza de não correr porque tudo está no seu lugar.

 

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: