Eu nem sei o que foi exatamente que me fez pensar nisso tudo. Não sei se foram as azeitonas, alguma conversa truncada, aquela cena daquele filme, a novela, a passagem daquele livro.
As pessoas jogam jogos entre si. Parece que, segundo alguns, faz parte da conquista. Não gosto de perguntas. Não gosto de me sentir num interrogatório. Às vezes acontece.
Assisti dois capítulos de dois seriados que começaram suas segundas temporadas agora e fiquei analisando que, ao que parece, não sou só eu que penso como penso sobre relacionamentos. Casais não são felizes, como dizia um personagem de um deles.
Aí fiquei matutando sobre várias coisas. (e o post que estava para sair era sobre os dados da ANCINE e sobre como o brasileiro não assiste aos filmes nacionais – ou sim – e esse furou a fila) Liguei a TV para não perder a hora da novela das 18h (a melhor novela da Globo dos últimos tempos) e fui lavar a louça. Passava Malhação. Um casalzinho em crise. Eu me perguntei: essas crianças sofrem tudo isso mesmo? Sério? Ou é só na TV? Uma choradeira, gritos, promessas, te amos pra cá e te odeios pra lá. Pensei cá com meus botões que não posso esquecer de ensinar minha filha a nunca jamais sofrer por “amor”; definitivamente há coisas muitos mais importantes, sérias e dolorosas na vida. Definitivamente. Não posso esquecer. Vai que ela acredita nessas coisas que passam na TV. Aí juntei um capítulo de série aqui, outro ali, um filme acolá… lembrei da teoria da azeitona. Diz lá um personagem que o sucesso do casal está garantido se um amar azeitona e o outro odiá-la. No decorrer do capítulo (ou no seguinte), descobrimos que o tal casal que formulou a teoria na verdade se enganava. No primeiro encontro ela perguntou se ele gostava de azeitona ou se ela poderia pegar as dele. Ele disse que não gostava, só para que ela pudesse pegar as tais azeitonas. Eis que ela “confirmou” sua teoria sobre as azeitonas e ali provavelmente apaixonou-se por ele. Quando ele contou isso para o amigo, confessou que na verdade adorava azeitonas, mas nunca tivera coragem de contar para ela.
Casais são assim, vivem mentiras, vivem enganações. Diriam os chatos que, na verdade, cedem, ambos, um pouco ali, um pouco aqui. (nem pense em falar algo como “ah, mas há ‘afinidade'” – isso é palavra pra reality show) Eu até concordaria. (um momento para pensar em qual época da minha vida eu concordaria com isso) Não. Eu não concordaria.
Era sobre isso que fiquei pensando esses dias. O mais difícil, para as pessoas, é ser quem elas são. Sem invenções, sem mentiras, sem azeitonas, sem projeções para os outros. Um amigo comentou no Twitter um dia sobre as pessoas que se descrevem assim “sou eu mesma/sou assim do meu jeito/bobagens-sem-tamanho-e-sem-fim” e até quando iríamos ver isso. Até sempre. Damos ênfase a isso, somos quem somos, talvez esperando que as pessoas nos “aceitem” como somos. Vai entender porque alguém tem que te aceitar, mas, enfim, fica para outro post.
Porém, me surpreendo ao ver que, de fato, as pessoas não querem ser “aceitas” por quem/como são. Elas se fantasiam daquilo que você supostamente (invariavelmente se baseiam nas suas respostas e atitudes, até naquelas figurinhas com frases edificantes que você posta no Facebook, quem sabe – nas músicas que vocês ouve, o curso que você fez, os autores que você cita (ou deixa de citar), os filmes aos quais você assiste, sei lá, até a comida que você come) quer/espera de alguém. Por isso os interrogatórios, por isso observam teus passos, teus posts, tua vida, o tempo todo. O tempo todo.
Há quem pense que precisa disso tudo para conquistar alguém. E, realmente, às vezes funciona. Só, garanto para vocês, não dura. Ninguém esconde quem é (viu só?) o tempo todo. Você pode conquistar aquela menina ao puxar assunto sobre o filme que você sabe que ela adora (você ouvi-a comentando com a amiga, lembra?), convidar para aquele barzinho onde tem uma batata flambada que te contaram que ela é fã. Isso nunca será o suficiente. Antes de procurar a chance de despir-se das roupas para tentar encontrar mais coisas “em comum”, dispa-se das fantasias que você mesmo criou para ela. Não há garantia nenhuma de que ela ficará com você só porque você está sendo sincero – aliás, a sinceridade nunca é bem vista num relacionamento, prepare-se para o pior.
Eu já não tenho mais paciência para essas coisas. Aliás, nunca tive. Mas, sabe, a gente perde tempo na vida de vez em quando. Aí já digo que estou velha demais para perder tempo na vida – coisa, aliás, que sempre detestei. Não me dou mais ao luxo de perder tempo.
Nunca tente descobrir o que me atrai, o que me interessa em alguém. Como já não perco mais tempo com esses joguinhos, sei ser bem direta. Direta. (ah! o doce veneno da espontaneidade! – o que me faz lembrar que fiquei feliz pra caramba ao ter a palavra “veneno” tatuada na pele!) Nada de rodeios, invenções, perguntas. A vida torna-se bem mais simples quando a gente aprende com ela. Ou, até mesmo, quando apreendemos as coisas no ar. Veja só, poderia ser até com a Malhação. Seria o cúmulo da felicidade ver um adolescente perceber a bobagem sem tamanho de lágrimas e gritos porque o namoradinho dos teus quinze anos te traiu e você “nunca mais vai querer sofrer assim na vida” (foi uma fala da personagem).
Casais não são felizes. E dizia esta personagem que isso acontece porque eles não conversam e realmente ouvem um ao outro. Quem fantasiou-se para o outro jamais conseguirá fazer isso, serão sempre papéis sendo interpretados. Será sempre aquele desejo louco de comer azeitonas e não poder fazê-lo porque ele interpreta “the one” para ela segundo uma teoria (não vou jamais criticar teorias! tenho cá as minhas… eu não vivo sem elas, mas elas vivem sem mim). Isso me fez lembrar Sex and the City e o Mr. Big, ainda esses dias lembrei do filme porque fui assistir filmes em preto e branco na cama. Felizmente não tenho nenhum Mr. Big para supor genialmente que uma TV no quarto seria o supra sumo da felicidade de casal – tudo isso só porque… bem, assistam lá ao filme, ou leiam um outro post onde eu comentava isso.
Por falar em azeitonas, tenho uma relação esplêndida com elas. Quando criança era de atacá-las puras. Fiz a festa em uma feira na Argentina uma vez, eu e meu avô. Mas do nada fazia cara feia quando as encontrava numa salada, num prato. Nunca como azeitona na pizza. E já me perguntaram “mas você não gosta de azeitona?”. Veja bem, a resposta não é assim tão fácil. Eu ataco azeitonas no vidro na geladeira, assim, do nada. Porém, tenho uma indicação de receita na qual elas são protagonistas. Tentarei fazer ainda essa semana, se sobrar alguma no vidro. Se for para levar as respostas em conta, as minhas nunca são tão simples que caibam num “sim” ou num “não”. E, cuidado, transbordo espontaneidade e sinceridade – coisas que a humanidade abomina. Se eu quisesse interpretar algum papel, me dedicaria à vida de atriz e ganhava dinheiro com isso.
Deixe um comentário