Você precisa saber que eu não ligo a TV aos domingos. E quando eu começo a gostar de alguém, me afasto de propósito porque sinto que a pessoa não vai gostar de mim como eu dela. Não posso mais viver amor não correspondido. Saiba que eu durmo todos os dias – todos – com o ventilador ligado. Me visto mal, tenho um gosto brega para cores e estilos. Nunca comprei um esmalte nem um livro repetidos – nunca. Mas não sou do tipo sistemática, não faço listas, nem cadastros, nem catalogo nada – detesto isso, acho doentio. Você só precisa saber que tenho muita prática em arrumar malas e dizem que sempre levo bagagem demais – não é verdade. Numa briga, não sou comedida nas palavras e acabo sempre fazendo discursos. Não queira brigar comigo, detesto brigas e elas me esgotam. Às vezes, fico em silêncio olhando para o nada. Eu sofro sozinha e calada. Tenho manias, mas até essas mudam de vez em quando. Já passei dos vinte e cinco anos e ainda uso franja e como algodão doce. Eu imponho certas regras que devem ser quebradas. Tenho claustrofobia. Desmaio em lugares públicos. De vez em quando tenho dores de cabeça, não para usar como desculpa para coisa alguma, são dores de cabeça inexplicáveis e, ao que parece, incuráveis. Elas surgem, me deixam irritadiça, nervosa e depois somem. É difícil eu avisar que elas são a causa de algum destempero meu. Eu amo água. Amo banhos. Já passei dos vinte e cinco anos mas tomo nescau todo dia e minha mãe vai ao médico comigo na maioria das vezes. Dizem que sou anti-social, antipática. Posso até ser, mas só com quem merece. Eu fujo das pessoas. Normalmente o que eu digo não era bem aquilo que eu queria dizer, cabe a você descobrir. Não tolero que mexam nas minhas coisas. Eu tinha completa aversão a incensos, hoje quase não passo um dia sem acender um. Saiba que eu posso não gostar de telefone, mensagem, bate-papos… mas por um bom motivo-alguém os uso com excelente habilidade. Saiba, também, que me apaixono fácil demais sem nem ser amor. Nessas horas nunca tive coragem de dizer a verdade. Saiba que eu tenho sonhos que você nem ninguém jamais vão saber. Ah, eu acredito em sinais. Eu fico prostrada diante de certas manifestações humanas como a fé, a coragem, a dor, a tristeza, a indignação. Já vivi, já sofri, e não trocaria minha vida por nenhuma outra – digo isso hoje e direi o resto dos meus dias. Às vezes me afasto, sem querer, porque não confio em ninguém e só eu entendo isso. Se você precisa que confiem em você, eu não sirvo. Eu adoro aprender. Eu me saboto. Sou muito condescendente comigo mesma. Não tenho – e, ah! nunca tive! – disciplina. Não consigo. Sou que nem peru, sofro de véspera. Crio histórias antes delas acontecerem. Fico na cama criando vidas, encontros, desastres, despedidas que nunca vivi – e em alguns casos nunca viverei. Detesto noites de domingo. Acho que elas são tristes. Não tenho o costume de acordar cedo, mas adoro fazê-lo – desde que não seja por obrigação. Detesto ser acordada, isso me deixa de mau humor. Eu não entendo as pessoas. De vez em quando deixo o coração falar, mas desconfio que ele é gago. Tenho sonhos (aqueles enquanto dormimos) loucos, insanos, extraordinários e eles fazem muito sentido, sonho com coisas, lugares e pessoas dessa vida e de outros mundos. Às vezes até gosto de contar os sonhos que tive. Meu inconsciente é um turbilhão. Não tenho a consciência tranquila. Fico horas remoendo fatos, frases, questões. Eu gosto do abstrato. Não gosto de quem não reflete sobre (quase) tudo. Adoro espelhos. Adoro vidros e tenho pavor de me cortar com eles. Saiba que eu nunca doei sangue e não sei se teria coragem de doar por alguém especial. Eu tenho coleção de conchas do mar e de pedras semi-preciosas. Eu gosto de pedras. Saiba que já fiz artesanato pra vender na escola e que já trabelhei com recepcionista e balconista. Já mandei cartas anônimas (e já li na constituição que isso é crime). Não sou doente por chocolate.
Saiba que sou assim, de pequenos e grandes detalhes. Nunca esqueça de me contrariar. Eu me afastar sempre diz muito mais do que a minha simpatia e meu lado prestativo. Muito mais.
Você só precisa saber disso, seja lá quem você for… assim, como num baile de mascarados da canção do Chico.
Sou sua fã. Sempre!
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🙂
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