Pés molhados, gelados, maxilar dolorido, tudo fora do lugar e isso aqui era para ser sobre perguntas e respostas.
Perguntas que deixei de fazer quando deveria e respostas que não dei quando pude. Relutância? Talvez. Alguma atração irresistível pelo mistério? Duvido.
Desculpem o piscianismo de hoje, mas o assunto é sério. Piscianas não gostam de “não saber”. Isso que elas são as adoradoras dos mistérios da vida.
Mas ficamos naquele meio de campo entre a dúvida e a fantasia. Ou corremos para a fantasia e lá nos alojamos sem previsão de saída, ou instauramos a dúvida e nos agarramos tanto a ela que certeza nenhuma (nem o seu grito mais verdadeiro) nos fará largá-la.
Perguntas que ficam sem respostas pelo simples motivo de que não foram pronunciadas. E nem todos conseguem ler nossos pensamentos. Ah, alguns conseguem… e esses são os que me tiram o sono. Diz lá a canção “eu não sou difícil de ler”, que interesse dá pra ter por alguém assim?
Respostas que não foram dadas porque ficaram engatinhando na garganta, na dúvida de se entregar assim tão rápido e direto para alguém que não sei se merece ter algo de mim, nem uma mísera resposta. Mas respostas que eu queria ter dado, estendido uma trégua, uma palavra de abertura. Porque pisciana é assim, fechada atrás do seu muro de pedra. Não são só coisas boas que existem lá dentro. E isso é sempre bom deixar avisado.
Esse exercício que a gente fez quase um pacto: tentaremos ser mais carinhosas, mais “abertas”. Ou algo assim. Lutaremos com essa natureza ríspida, direta, verdadeira, sincera. Não lutaremos contra isso, mas tentaremos uma abertura mais táctil (para quem merecer, é claro). Não gostamos de qualquer um. Não gostamos dos que gostam de qualquer uma.
Saturei minhas semanas de perguntas que giram na minha cabeça porque não foram feitas. De respostas que não dei, ou não dei como poderia. Preciso, em palavras ou, de preferência, em gestos ter algumas respostas. Na verdade, só uma. Quis o Destino que não fosse hoje. Nem será nessa semana. Uma resposta que não me deixa dormir há meses, não gostamos de não saber. Eu mesma detesto casos mal resolvidos.
A relutância em tomar as rédeas das perguntas e respostas se deve, no meu caso do momento, à fantasia. Encontrei um lugar confortável ali e não quis sair. Mas, idas e vindas, aquele trajeto de táxi, conversas, pactos, análises sem fim e eu quero me obrigar a sair.
Se as pessoas não lêem nem livros, poucos são os que perdem tempo lendo pessoas. Lendo gestos, pensamentos. Lendo as perguntas que não fiz.
Fiz promessas de colocar as perguntas em dia. As respostas já são mais difíceis, afinal, as perguntas passaram. Mas eu acho que dá tempo de consertar, de disfarçar o receio.
Perguntas e respostas devidamente feitas são tão necessárias, mesmo que evitemos tanto. Porque no nosso mundo a fantasia machuca mas é sempre mais linda que a realidade. No nosso mundo não damos explicações e achamos que as pessoas lêem pensamentos.
Piscianas amam a liberdade. Nunca confunda isso com qualquer outra coisa. Não me deixe livre porque eu não vou saber o caminho de volta. Piscianas dificilmente voltam pelo mesmo caminho. Piscianas querem respostas sem fazerem perguntas. E querem que você já saiba as respostas.
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