Eu preciso ter uma opinião sobre tudo?

Esses dias, observando algumas coisas, me perguntei: mas eu preciso ter uma opinião sobre tudo?

Já dizem as más línguas que opinião é que nem isso ou aquilo que cada um tem a sua. Eu dizia que opinião é uma merda, justamente porque cada um tem a sua. Mas cada um precisa ter uma opinião para tudo o que acontece?

Eu tenho essa relação de amor e ódio com a internet e redes sociais. (exceção o Twitter, pelo qual sou só amores) Aí fiquei pensando que os sentimentos de amor e ódio vêm do sentimento que eu nutro pelas pessoas. Tenho extrema dificuldade com as pessoas, todo mundo sabe. A internet e as redes sociais, principalmente, são feitas pelas pessoas. Talvez seja essa a explicação.

Tanto já se falou na superexposição, no excesso de compartilhamento da vida privada, do fluxo contínuo e caótico de informações e notícias. Não vou me alongar nisso. O problema é o que se faz com isso. Nenhuma rede social, desde o sucesso, entre os brasileiros, de um inóspito Orkut, vem com manual. Você faz o que você quer com a sua vida on line – e esse é um daqueles problemas e até perigos dos quais já tanto se falou e escreveu a respeito. Eu gosto muito do Foursquare, por exemplo. É uma rede social sobre lugares e muito já salvou minhas noites e fomes. Aí sempre tem aquele que diz que é perigoso dizer onde você está, blábláblá. Mas aí vai de você ter x número de amigos (“amigos” hoje, no mundo virtual, tomou uma dimensão conceitual diferente da qual estávamos – ou eu pelo menos – acostumados) na rede e de onde mais você publica. As ferramentas estão aí, nós fazemos dela o que bem entendemos. Ou não.

Etiquetas em redes sociais também são abundantes. Eu prezo etiqueta. Sou uma pessoa que foi educada e sigo até aquela coisinha linda de colocar a mão na frente da boca quando bocejo. Etiqueta em todo lugar é bom e faz bem. Por outro lado, sou amante da liberdade. E aí as coisas complicam.

Eu posso pensar o que eu quiser acerca do que eu bem entender. Nem por isso as pessoas precisam sair por aí jogando tudo o que pensam na cara (mesmo que virtual) dos outros. Eu sempre digo que ainda bem que as pessoas não sabem tudo o que me passa pela cabeça, melhor assim. Mas será que eu sou obrigada a ter opinião sobre tudo?

Você já deve ter reparado nisso. Eis uma notícia, um fato, um acontecimento. Em poucos segundos cai na internet e… todo mundo comenta. Trendings tratam justamente disso. Acredito que uma coisa é você comentar o programa de TV que você assiste, ou o jogo do teu time, ou a morte de alguém que foi importante pra você. Outra coisa é você se obrigar a comentar coisas das quais você não tem o mínimo conhecimento ou que não te interessam em nada.

Foi assim com a escolha do Papa. Eu acompanhei pela TV, eu sou católica. A escolha de um Papa me diz respeito de alguma forma. Eu conheço várias coisas a respeito das práticas e da história da Igreja Católica porque ela faz parte da minha vida. Fiz comentários sobre o acontecimento que foi televisionado ao vivo. E eu vi comentários, piadas, idiotices sendo postadas afú por pessoas que não têm relação alguma com a Igreja, e na vida das quais existir um Papa não faz absolutamente diferença nenhuma. Vi uma protestante escrever coisas de um nível tão ignorante (e é professora!) sobre o Papa que fiquei curiosa. Dias depois a mesma pessoa publicou uma imagem com dizeres sobre não importar a religião da pessoa, mas sobre ser chato. Hein? Eu acho chato quando as pessoas comentam coisas sobre as quais não lhe dizem respeito. Ou, principalmente, sobre as quais elas não têm conhecimento algum.

Choveram comentários de ateus sobre a escolha do Papa. Achei tão, mas tão, sem noção que me esforcei por ignorar. Pô, o cara não é ateu? Por que diacho se preocupa com o Papa? Deve ser algum trauma mal resolvido, só pode. Sobre o incêndio em Santa Maria, por exemplo. De um segundo a outro todo mundo parecia amar aquela cidade lá no meio do Rio Grande do Sul. Todo mundo parecia compartilhar uma dor que a imensa maioria das pessoas sequer vai passar perto durante toda a sua vida. De uma hora para outra todo mundo entendia até de espumas isolantes e saídas de incêndio.

Isso me lembrou um pouco aquela piada futebolística sobre os milhões de técnicos que a seleção brasileira tem. Não sou nenhuma entendida em futebol, mas um dia tive que perguntar o que isso queria dizer e me parece ter uma relação próxima. Mas o torcedor, pelo menos, conhece, acompanha, entende daquilo que fala.

E é aí que mora o segundo problema. Opinião é uma coisa, proferir a sua ignorância aos quatro ventos é outra.

Opinião não é, ao contrário do que eu tenho visto, uma coisa vazia, sem fundamento, incoerente. Eu formulo minha opinião através de informações, conhecimento, que eu possuo de algo ou alguém. Fora isso, é pura ignorância – e você resvala em expor seus preconceitos, problemas pessoais e coisas piores. Se você é ignorante acerca de algo, você não é a melhor pessoa para falar sobre. Eis que as redes sociais e a internet foram contaminadas por esse excesso de ignorância. Não é nem eu ser obrigada a dar minha opinião sobre tudo (às vezes eu também caio nessa burrice), mas eu falar ou escrever idiotices sem fim. Já diziam minha avó e minha mãe que religião, gosto e futebol não se discutem. Discordo, acho que tudo é passível de discussão. Levando-se em conta que discussão não é briga e que se deve usar de argumentos. Discussões são sempre bem vindas. Ignorância não.

Então eu, alheia a futebol, vejo ali a notícia sobre o time tal que perdeu porque fulano fez uma falta clara e já saio escrevendo sobre isso em todos os lugares. É tipo aquela pessoa que quando vai conversar só sabe falar sobre as últimas notícias, sabe? (acho mortificante) Não tem assunto, não tem interesses, não tem hobbies, não tem nem as (famigeradas) especializações: gira em torno do corriqueiro.

Não defendo aqui censura às publicações até porque isso seria impossível. Cada um pode fazer suas censuras (sem seus “amigos” nem ficarem sabendo) nas redes sociais como bem entendem. Me preocupa e incomoda o excesso de ignorância presente nas tais opiniões. Eu gosto de ler as opiniões alheias. Mas opiniões, no sentido literal, que tenham conhecimento e fundamentos. Por que diacho eu escreveria sobre o que está acontecendo com os índios de não-sei-aonde sem ter conhecimento nenhum ou baseada em um vídeo que todos estão publicando? Por que diacho eu escreveria sobre a novela das oito, a qual eu nem assisto, nem que seja para dizer que acho chata e por isso não assisto? Não pareceria excessivo? Por que diacho você escreve sobre o Papa se você não é católico e existir um nem faz diferença na tua vida? Não sou obrigada a viver dando uma pseudo-opinião sobre tudo. Nem nunca fui das mais ligadas em notícias. Também não sou daquelas alienadas (nem pretendo ser) que só vivem para o seu umbigo – aquelas que é tão fácil perceber que também não têm opinião nenhuma porque não têm conhecimento sobre nada.

Sei, e já disse isso aqui, que fiz o juramento de “libertar as pessoas da ignorância” lá na Filosofia. Ainda hoje não entendo porque nosso juramento diz isso. Nós nos libertamos da ignorância por vontade própria, o que não impede que sejamos auxiliados quando temos esta iniciativa.

Já diria meu pai (que sempre deve ter achado que eu tenho muitas opiniões…) que em boca fechada não entra mosca. As redes sociais às vezes parecem tão cheias de moscas que mal consigo vislumbrar qual é o prato do dia.

Porque aquele que nunca ouviu uma música do Charlie Brown Jr ou nunca tinha assistido um programa da Hebe, ao ver a notícia das suas mortes aciona sua metralhadora giratória de idiotices e dispara ignorâncias sem fim.

Eu só diria: não se obrigue a isso. Não desfile a sua ignorância pelas TLs da vida. É chato, fica feio, a gente até desiste de ser amigo no sentido real – porque no virtual, em dois cliques, você já estará oculto. Eu respeito, porém, quem fala com propriedade de algo, concordando ou não com o que é dito. Agora, respeitar a ignorância foge às minhas forças.

Eu não preciso ter opinião sobre tudo pelo simples fato de que eu não tenho conhecimento o suficiente para isso. Nem eu nem ninguém.

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