Sobre a guerra

Hoje, dia 8 de maio, comemora-se o fim da Segunda Guerra Mundial.

Não é uma data que eu guardo comigo, aliás, quase não guardo data nenhuma. Mas achei que caía bem com os meus últimos pensamentos. Pensava em quão mesquinha é a vida. E aí, talvez pelos filmes e séries que tenho assistido, pensei no quanto a guerra faz falta para que compreendamos certas amplitudes da vida. Sim, a guerra. A última possível guerra lá das Coréias, por exemplo, virou piada de internet. Há muitas guerras em andamento pelo mundo, mas muitos de nós estamos bem distantes delas e talvez nunca tenhamos contato com nenhuma.

E me foi impossível fugir da questão da incomunicabilidade. Sim, o chato do Benjamin traduziu muito bem a questão. Os fatos, a cumplicidade, da guerra era incomunicável. Quem já passou por certas dores terríveis, profundas, da vida sabe o que é essa incomunicabilidade. Eu não consigo falar nem escrever sobre certas coisas pelas quais já passei. Às vezes não consigo nem lembrar delas… na maior parte do tempo é como se elas convivessem comigo o tempo todo, ali no cantinho, e eu as ignorando. Eu sei o quão impregnadas estão dessas lembranças muitas das minhas ações cotidianas. E ninguém desconfia.

Eu sempre penso nisso. Quando ouço relatos de momentos dolorosos, relatos sempre parciais, titubeantes, como o bom relato de algo incomunicável. Quando assisto a filmes sobre fatos que cortam fundo os personagens, alguns durante guerras por sinal. Lembro sempre do livro do Ribakov, que de tão mestre em narrar o inenarrável, me deixou sem palavras. Ou de alguns livros do Huxley (não os famosinhos dele) que se detém no incomunicável entre os seres humanos. Sempre que vejo a vida com o excesso de palavras por coisas tão comezinhas, ridículas e rasas, penso no incomunicável. Nas nossas tentativas, inclusive, de tentar colocar em palavras (e imagens) aquilo que não é possível de dizer.

Sim, a ausência de grandes guerras nos fez perder certas dimensões da vida, mas não é por isso que eu vou deixar de pensar nelas. O 11 de setembro, por exemplo, causou essa incomunicabilidade no mundo contemporâneo. Dois filmes são muito bons ao trabalhar com isso, um com o Pierce Brosnan (não lembro o título) e o “Extremely Loud, Incredibly Close”, este último, aliás, com um título tão perfeito que descreve por si tudo o que estou tentando pensar aqui. Com o mundo moderno a Psicologia abraçou essas questões, mas eu não acredito nela. Muitas guerras, hoje, estão restritas a espaços e grupos e isso diminui ainda mais a experiência humana.

Hoje é assim, curto, breve, sem grandes conclusões… incomunicável. Talvez as pessoas precisem sofrer (mais) para conseguir distinguir os valores reais das coisas da vida.

Já fui acusada de ser insensível, prática e até racional demais (vejam só!) em certas situações. Eu diria que é o peso da balança. Quando jogam uma coisa de um lado, o que eu ponho do outro lado é que faz ela ter um peso comparativo. Se você não tem nada para colocar, o que estiver lá vai valer muito – e se você tiver mas não conseguir comunicá-lo nem à própria balança, o que não era pra ser tão valoroso, será.

Tenho um certo receio de um mundo com menos guerras, com menos experiências que nos dêem proporções devidas à vida. A mesquinhez tende a dominar e as pessoas a serem menos amplas.

 

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