Confuso. Parecia tudo muito confuso. Uma semana mais sem pé nem cabeça da qual só ficava uma certeza: tinha sido filha da puta. E as coisas se ajeitavam de um jeito que não dava pra entender. Mas os dias, as horas, os segundos, vão seguindo e não tem intervalo nem legenda. Virou a lua, virou a semana. E tudo continuava confuso. Muito confuso. Fui aceitando aqui, respeitando ali. Sei lá, a vida joga, eu pego. Como o Leminski fala do Destino, o que pintar eu assino.
E era sobre ele que eu queria falar, de novo.
Não dá pra ignorar o Destino. Eu queria pegar o telefone, te ligar e dizer só isso. Eu repeti isso para mim mesma ontem a noite toda, a madrugada toda. Não dá pra ignorar o Destino. Você não percebe, eu sei o que se passa na tua vida, e conselho é bom, a gente dá, eu mesma distribuo aos montes por aí. Você não percebeu que as coisas começaram a mudar desde semana passada, tempestades virão, não é bom mexer com dinheiro nem tomar grandes decisões. E você foi lá e fez tudo sem ouvir o Destino. Eu não posso deixar de ouvir o Destino, porque o preço é muito alto. Já paguei algumas vezes – e não quero fazer de novo.
Dizem lá as runas, os tarôs, os I-chings, os horóscopos, as mandalas… é preciso ouvi-los. Falam em medo. Em escuridão versus luz no caminho. O medo e a escuridão nos fazem fechar os olhos ao Destino. Pois eu não posso. E aí nossos caminhos descruzaram de vez. Enquanto via os carros passarem, a poeira levantar, os postes acenderem, pensei que preciso sorrir mais. Sorrir mais para os outros – pois já faz um bom tempo que eu tenho sorrido muito para mim mesma e para a vida.
Preciso sorrir mais para os outros. E diz lá a runa, ou outro desses, para eu usar mais amarelo. Diz lá que caminhos serão abertos. Não posso ignorar o Destino.
Porque o Destino faz assim: vou caminhando para comprar pipoca do velhinho que sempre está ali, prefiro comprar dele do que do outro que fica próximo porque este só aparece quando tem movimento. Chego, peço “Uma salgada”, tiro um fone e… ele se vira, me olha nos olhos por uns eternos segundos e diz “Tinha uma canção que minha avó sempre cantava que dizia assim: a gente tem que gostar de quem gosta da gente.”. E foi no momento que nossas vidas mudavam, aqui e aí. Foi no exato momento. Caminhos que descruzavam-se para todo o sempre.
E tem mulheres que fazem de tudo para segurar um homem. Sabe, controlam, levam pé-na-bunda e voltam, nem é sexo, é ganância, é ambição. Ambição, é isso. Eu não sou assim. Sou destituída de ambição, não almejo grandes coisas. No máximo tenho visualmente cobiçado belezas. Tem muita gente ruim nesse mundo.
Não posso ignorar o Destino. Não tenho mais como ignorar quem eu sou. Quem sabe mais sorrisos. Quem sabe lutar contra a escuridão. Usar amarelo vai ser mais complicado. As dores de corno sem nem ter sido eu supero. Algumas horas, algumas coisas apagadas, rasgadas, escritas, resolvem. E tem tudo isso da vida que escapa a essa confusão – as coisas belas, os caminhos, as imagens lindas, o som do mar, os prazeres da carne, os telefonemas surpresa, os convites inesperados, as boas companhias, as conversas sensacionais, o flerte, uma boa tarde de trabalho. Quando o balde de confusão transborda eu me afogo em tudo isso. Mas, Destino, eu nunca esqueço de você. Tempestades virão porque o Destino está aprontando.
Pessoas vão ficando pelo caminho… sim, eu lamento. Porém, pior para elas. Tenho bons conselhos também – invariavelmente quem não ouve o Destino não vai ouvir alguém. Meus lamentos não duram mais que um incenso.
Eu nunca vou te dizer isso, mas ignorar o Destino é uma baita burrice. Dá não.
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