A colheita vai bem, obrigada…

Foi em abril ou maio que diante de encruzilhadas (decisões a serem tomadas, traduzindo) eu escrevi no meu mural: “O que te resta é ser feliz. Vá.”. Foi simples assim a maior lição do ano: vá. Se há isso ou aquilo, sim ou não, este ou aquele: vá. Ficar parada nunca foi uma opção na minha vida, sempre senti isso. E, claro, os pesares da vida volta e meia me fizeram não poder “ir”. Mas assumi assim, com riscos e chances, o “vá”. Foi assim que decidi meus caminhos este ano.

Depois de uns períodos difíceis, tumultuados, de revezes, comecei a viver alguns dos melhores anos da minha vida. E, não, nada nem ninguém vai me parar. Nada nem ninguém vai me fazer desacreditar – já disse, a fé é minha maior qualidade. Nada nem ninguém vai me fazer trocar o que tenho. O que eu tenho? Imóveis, carros, bens materiais? Não, não tenho nada disso. E nem me importo. Tenho o que sou e o que vivo.

Antes mesmo daquele dia já havia colocado em prática o “vá” e foi justamente por isso que eu titubeei. As escolhas têm pesos, têm preços. Deu medo. Deu receio. Porém, não é todo mundo que sabe ser feliz e percebi que deveria honrar este dom. eu poderia ter ficado, poderia ter lamentado, poderia ter guardado o vil metal, poderia ter reclamado, poderia ter encontrado culpados, poderia ter falado em vontades. Não, não… eu fui. Eu arquei com todas as responsabilidades e aceitei o “vá”. Aliás, responsabilidades têm se tornado o meu forte. Quem diria…

É mais ou menos sobre isso que eu quero escrever. Nem ia começar assim, mas desde a semana passada anotei o tema do post e todo dia leio meu recado no mural – acabei associando.

Eu pensei em escrever sobre três coisas: plantar e colher; paciência e que tudo se aprende. Na verdade, acho que a ordem correta seria de trás para frente. Veremos.

Os últimos anos foram sensacionais. Eu disse que duvidava que 2013 seria ainda melhor que 2012, acho injusto comparar, se for parar para pensar. Mas as coisas que aconteceram têm sua razão de ser, fizeram por onde, e foi sobre isso que fiquei pensando.

Não vou elencar conquistas, prazeres, felicidades, desejos. Não. Semana passada reencontrei uma amiga que não via há séculos, quando nos conhecemos pessoalmente (lá se vão dez anos…) nem éramos muito próximas, mas das pessoas que conheci naquela época, era das que eu respeitava. Travamos contato mais próximo pela internet, afinal ela mora em outro continente. E eis que depois de tanto tempo estávamos ali no Café Vidal do Mercado Público conversando sobre tudo o que deu tempo. Era bom vê-la. Era bom ver em alguém coisas que também encontro em mim. Não somos parecidas, não pensem isso.

Começando pelo final, ela me diz “o que sei é que estou feliz”. Simples assim, sabe? É essa a sensação: estou feliz. Não pensem que não temos dias ruins, não pensem que não temos problemas nos relacionamentos, não pensem que sorrimos o dia inteiro por aí. Não. É algo, recorrendo a um clichê, profundo. É aquilo que faz com que um imbróglio qualquer do dia, um atraso aqui ou uma dor ali não tomem proporções maiores do que as que lhes cabem. É estar segura de si, dos seus “vá”, dos seus caminhos. E, vejam só, nem chegamos aos trinta. E, vejam só, nem precisamos recorrer à muletas e seguros que nos extirpassem medos, dúvidas, apreensões.

Tenho me olhado no espelho e, pela primeira vez na vida, acho que envelheci. Nunca me dão a idade que eu tenho. Fiquei matutando se tudo isso junto não seria a tal maturidade. Talvez. Depois de uma velhice precoce, a maturidade não me cairia mal. (vou pular completamente a Fahya pirralha, palhaça, mimada, birrenta – essa não é para qualquer um!) Não sei exatamente o que, se uma serenidade, se os traços mais marcados, se o sorriso mais calmo… certo é que vejo o tempo no espelho. E, ao contrário do que eu temia, isso não me assustou ou me decepcionou. Aliás, me fez muito bem.

No meio da conversa falamos sobre paciência. Hoje temos paciência. Eu sempre quis tudo ao mesmo tempo agora. Eu sempre cheguei atrasada em tudo porque sempre achei que dava tempo pra tudo o tempo todo e porque sempre fiz questão de fazer mil coisas. Esse excesso dava significado pra minha vida – e me renderam cabelos brancos precoces. Eu me orgulhava de dar conta de tudo. Aliás, ainda me orgulho. Mas se tem uma coisa que eu aprendi, e falo sobre as coisas grandes e realmente importantes da vida, é a esperar. No meu caminho, nada é para agora. Nada é fácil. Tudo demora – às vezes, anos – tudo vai ser complicado, difícil, num longo e tortuoso caminho. Sei lá, uma coisa meio bíblica mesmo. Foi aprendendo a esperar que dominei a menina ansiosa e extremamente nervosa que um dia fui.

Já não quero amores urgentes… não quero sucessos repentinos… não quero consumir todos os dias… não quero excessos… não quero impulsividades… Quero o tempo, com quem sempre tive uma relação linda. É uma mudança e tanto. Desejei por anos a fio conhecer um lugar, ano passado tive o prazer de chegar lá. Naquele momento chorei. Pensei comigo: eu quero, eu posso, eu consigo. Minha vida se resume a conquistas. Eu sempre quero chegar a certos lugares. É o “vá”. Um dia, quando aos dezoito anos me vi sozinha numa cidade desconhecida, encontrei o cartão que minha mãe havia me dado na despedida: “Saber o que se quer Sonhar muito com isso E agir todos os dias Para atingir este objetivo É o segredo para chegar lá”. Minha mãe sabe das coisas e conhece minha principal qualidade.

Eu poderia terminar aqui. Este cartão diz o mesmo que minhas longas linhas. E é sobre plantar e colher. Tenho plantado arduamente. Já senti a exaustão, o cansaço, as dores de cabeça, o desânimo. Plantar é uma dedicação contínua, perseverante, cheia de altos e baixos. Nem tudo brota, algumas mudas demoram uma eternidade para dar frutos ou flores. E cada folhinha, cada botão, cada milímetro proporciona uma alegria sem igual, produz certezas diárias. E só com uma boa paciência desenvolvida para perceber essas belezas. Quem não está em paz com o tempo sai atropelando as coisas, não vê o valor de uma boa germinação, não atenta para as regas necessárias. Comecei a plantar faz muito tempo e confesso que já abandonei minhas plantações, já voltei a elas inúmeras vezes, já achei que tinha escolhido as sementes erradas, já deixei de regá-las – mas delas nunca esqueci. Eis que minha volta é definitiva. Sei que hoje, amanhã, daqui a anos elas continuarão a me dar alegrias sem fim.

Não confundam, porém, com ambição. Eis um baita defeito: não tenho um pingo de ambição nem sou competitiva (vai ver porque meu solipsismo é grande). Admiro e muito as pessoas ambiciosas – aquelas, as de bom coração – porque elas conseguem traçar caminhos mais objetivos, não dispersam com facilidade, vêem as coisas com mais clareza e não namoram as coisas mais difíceis. Acontece que não sou ambiciosa e ainda não encontrei motivos o suficiente para desenvolver esta qualidade – quem sabe um dia. E eu gosto de ter pessoas ambiciosas por perto – em certo sentido. (não vou explicar, mas cabem duplos, triplos e mais sentidos)

E aí eu cheguei ao aprender. Ouço tanto “não sei fazer isso ou aquilo” que já tenho uma metralhadora no automático com “não sabe, aprende”. Sempre fui muito apegada aos dons e inclinações como justificativas para tudo. Hoje não. As pessoas se camuflam atrás do “não sei” em vez de encarar e dizer “como faço?”. Na vida tudo se aprende. Podem faltar dons, qualidades inerentes, talentos, mas aprender todos somos capazes. Encarei melhor a vida depois de tomar isso como lema. Precisa uma carga e tanto de experiência para chegar aí, não duvidem.

Faz um tempo escrevi sobre muletas. Sobre as pessoas que se amparam nas coisas e nas outras para justificarem suas falhas. Perdi minha tolerância com elas. E foi pela experiência. Conviver com pessoas assim me fez perceber o quanto elas se enganavam. O mesmo aconteceu ao conviver com uma pessoa que reclamava demais, acabei achando aquilo tão chato e desagradável que me tornei uma pessoa melhor, moderei minhas reclamações (e olha que eu era campeã). Assim é a experiência. Mas esta também não é pra qualquer um. Experiência não é só vivenciar coisas e relações. É refletir sobre elas, é analisar impactos, é avaliar fatos e atos, é desenvolver-se a partir delas. Como dizem, pra viver basta respirar, mas estar vivo é outra coisa. E é com certa arrogância que eu lamento ver algumas pessoas que não adquirem experiência. Vejo pessoas que já passaram por tantos fatos dos quais poderiam ter apreendido a grandeza da vida, poderiam ter desenvolvido capacidades e qualidades fantásticas e… são os mesmos, infelizes, rancorosos por vezes, dependentes de vícios, discursos, muletas e coisas assim desimportantes e maléficas.

São essas pessoas que não conseguem, debaixo de sóis de Primavera ou tempestades de vento sul, dizer “o que sei é que sou feliz”. Não temos tudo, nem tudo o que queremos, nem o melhor emprego do mundo, nem os melhores relacionamentos, nem as melhores casas, ainda não vimos todos os lugares lindos do mundo, nem convivemos diariamente com as pessoas que amamos acima de tudo… e somos felizes. São pessoas que não aprenderam a plantar e não entendem como não conseguem colher ou querem sair arrancando frutos e flores de pés alheios. São aquelas que sempre têm um “não sei” engatilhado na ponta da língua preguiçosa.

Um dia li uma frase (acho, ou eu mesma a disse num diálogo solitário): surpreenda-se a si mesma. Eu gosto disso. Gosto de me surpreender. Gosto de me superar. E não faço isso por ninguém – faço por mim – nem deixo de fazê-lo por quem quer que seja. Aliás, outra lição fácil que a vida dá: fazer as coisas por si e para si – não pelos outros, seja lá quem eles forem. Escrever isso, publicar aquilo no FB, ouvir aquela canção, falar deste ou daquele jeito, frequentar um ou outro lugar, e todas essas práticas diárias por e para alguém que não seja o “eu”, não levam a nada bom. (não estou me referindo às boas ações e coisas do tipo, não confundam)

O meu “vá” não exige que eu chegue, mas é imprescindível ir.

Sim, há consequências… a arrogância eu já citei. Sabe, não quero falar delas. As consequências a gente tira de letra com as lições da experiência. Ou com um sorriso. Ou com mais uma semente. Tenho evitado remoer demais as coisas ruins, os problemas, os nãos, as faltas e as dificuldades simplesmente porque faz mal. (e é um desafio conviver com pessoas que têm nisso a razão da sua existência) Não deixo de pensar nelas, analisá-las, mas moderadamente e, de preferência, em silêncio.

De tanta coisa no que pensar, sobre o que refletir, pesar, decidir… as dificuldades do caminho vão ficando mais conhecidas, diria até mais leves. Não perdem seu charme, porém. Já havia escrito sobre plantar e colher em algum texto anterior (tenho esse problema de não lembrar do que escrevo, lembro bem pouco, é verdade, mas tenho exercitado ser leitora do que escrevo). Só posso dizer que sou fiel ao plantio e que as colheitas já se mostram interessantíssimas – um sorriso vislumbra o que posso esperar das próximas. Como diria a amiga, isso ninguém vai tirar da gente.

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