Talvez seja a primeira vez que eu cumpro com a promessa de um post. Foi num texto sobre os filmes do Oscar que citei o desejo de escrever sobre narrativas. Tenho, desde então, me apegado a pensar sobre elas – e em mais um meia dúzia de coisas. Tenho, felizmente, pensado muito muito muito sobre poucas coisas.
Talvez, enfim, não seja somente sobre narrativas. Comecei me perguntando se havia uma crise nas narrativas – principalmente audiovisuais – ao tentar assistir ao Trapaça (American Hustle). Era mais um daqueles filmes que começa num ponto da história (ah! como eu sinto falta de poder escrever estória!), depois a história volta a um ponto antes daquele (ou ao ponto inicial “de verdade”). Sabemos que em vários casos há um impacto na alteração da ordem cronológica dos fatos. Nem estou falando em filmes como 21 Gramas e Babel que trabalham com a edição acima da narrativa. Eis que nem lembrava onde havia começado minha cisma com essa possível crise quando, ontem, assisti The Fifth Estate. Ele também começa numa sequência (ah! que saudade do trema!) e volta a um passado pouco distante para “começar” a história. A primeira sequência, no seu devido ponto cronológico, aparece depois na íntegra. Sobre o filme? Benedict fez um trabalho sensacional. O Matthew (do Downton, que eu nunca lembro o nome) também dá o ar da graça. Julian Assange é um personagem e tanto, vale pelo filme.
Mas não é hora de falar sobre personagens.
Na semana passada estive nas três capitais do Sul do país e na cidade mais populosa de Santa Catarina. Viajei de carro, ônibus e avião. Andei muito a pé. Fotografei muito. Pensei ainda mais. E eis que uma pessoa muito conceituada no mundo da criação disse algo que me acompanhou por dias e que fiz questão de colocar em prática no meu último compromisso da semana (que adentrou esta semana, pois já era domingo).
Dizia ele: se você vai fazer algo que é clichê, melhor não fazê-lo. Uma frase simples. Uma idéia simples. Mas de muita sabedoria e essencial para quem cria. Não vem ao caso sobre qual área das artes ele se referia. Eu mesma pude aplicá-la em outra área dias depois. Em qualquer área da criação, não fazer o clichê é muito melhor do que fazê-lo. Se nada inovador (outra expressão bastante presente na última semana) ou criativo lhe ocorrer, resista a recorrer ao clichê. Aliás, pode até ser expandido para áreas que consideramos menos criativas – o mundo acadêmico, por exemplo.
Ficou evidente que o recurso de começar por um ponto para depois retomá-lo é realmente uma crise, ou, ainda, a demonstração de insegurança. Se há uma boa história, comece pelo começo (ouvi algo assim esses dias, talvez tenha sido no Fifth Estate). Agora, se você acha que pode não ser uma boa história… tente não demonstrar criando firulas narrativas.
Depois da frase sobre o clichê lembrei de duas expressões que eu gosto de contrapor. Tem quem diga que tudo o que é demais enjoa (ou expressões semelhantes). Pois eu discordo. Tenho cá pra mim que certas coisas até quando são demais continuam deliciosas. Porém, aquela máxima “menos é mais” me convence. Tenho implantado muitas e profundas mudanças na minha vida e o “menos é mais” ganhou um espaço importante. Nas histórias, menos também é mais. Numa das viagens comecei a ler o Drácula, do Bram Stoker. Era um livro que eu via nas prateleiras da minha mãe, desde criança. Eu via e desanimava com a quantidade de páginas. Também nunca fui fã de histórias de vampiros (apesar de ter ficado impressionada com um filme de suspense, que assisti quando criança, que tinha vampiros mas nem lembro qual era). Achava que era um daqueles livros ostentação, que as pessoas dizem que leram só para todo mundo dizer “óóó” pela quantidade de páginas (o que, anos depois, vi acontecer). Como levar um livro daqueles na bolsa? Só para ler em casa. Mas encontrei-o gratuitamente na Amazon. Aí sim teria a oportunidade de lê-lo.
Por que citei o Drácula? Porque esses dias ouvi uma crítica às apresentações de personagens. Juntando-se a isso o “menos é mais” teria todo sentido. Mas Bram Stoker descreve cada detalhe da paisagem, não economiza adjetivos para descrever as ações, detém-se nas roupas dos personagens. Ali, mais é mais. E a história começa do começo. Talvez, enfim, as histórias não precisem de menos nem de mais. Talvez as histórias precisem apenas ser contadas. Sem clichês – afinal a vida já está cheia deles -, com começo, meio e fim – mesmo que os fins não sejam finais.
Aliás, estou em busca de histórias sobre as impossibilidades (do coração, de preferência). Nestas, os fins que não são finais são indispensáveis.
(ps: não estranhem os sumiços e matem a saudade lendo os textos mais antigos; prometo voltar a escrever com frequência e sobre essas coisas bobas da vida – me aguardem)
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