Perspectivas

Foi ali, num ponto qualquer – ou não tão qualquer, posto que velho conhecido – da BR 101 que ela se deu conta. Brotou aquela vontade de levantar e sair dançando pelo corredor do ônibus. A renovação das músicas do mp3 ajudaram, é inegável. Naquele momento ela se deu conta qual era, afinal, a boa de 2014. Era tempo de mudar os pontos de vista. Já andava preocupada há meses com essa incerteza sobre o ano que chegava na metade: e ela não sabia, ainda, qual era a dele, afinal. Burrice não ter percebido antes – ela tem dado sinais de burrice aguda, a perdoem. E foi ali, diante do mar azulzinho, do sol laranjão de outono recém-nascido que teve aquela epifania. Havia mudado os pontos de vista desde o começo do ano. Havia mudado drasticamente a alimentação, havia abandonado hábitos ruins (ruins não, péssimos – e impublicáveis), havia deixado de pensar em quem não devia, só ainda tinha dificuldade em esquecer aqueles olhos verdes (pois é, Johnny Cash, por aqui não são azuis), havia assumido responsabilidades astronômicas – pois sim, ela que gostava de pensar que era irresponsável (doce ilusão) agora responsabilizava-se por tanto e tantos que lhe assustava a novidade. E a grande e deliciosa mudança havia começado sem querer por algo que ninguém esperava dela, lá em janeiro: dormia e acordava cedo. Sim, ela, mais uma notívaga que louvava a criatividade, a beleza e o silêncio da madrugada agora não conseguia ficar acordada depois das onze da noite. Ou, ainda, quando era assaltada por sonos cavalares às oito. A animação com a qual acorda às cinco da manhã e tem visto mais sol nascendo do que se pondo – ela que já se apaixonou por todos os pôr-do-sol que já viu. Dormir e acordar cedo foi a primeira mudança drástica de perspectiva à qual ela aderiu este ano. Em seguida vieram as mudanças alimentares – hoje come até cenoura. Lhes digo que já até sentou em lugares que não eram os cativos. Pintou a unha de esmalte branco (e não arrancou-o no dia seguinte). E foi ali diante do mar e de um sol lindo que saltitava de alegria ao, finalmente, descobrir a razão da existência de 2014. Não sabia ao certo o que lhe embotara a percepção nos últimos meses, se os chocolates da Páscoa, a agenda exigente e apertada ou, ainda, o peso das responsabilidades e da realização de alguns sonhos. Agora até ama Porto Alegre. Agora cumpre regularmente – ó dó – e com respeito todos os horários semanais. Imagine-a assim anos atrás… sei que não dá. Por dias ela até disse que não estava feliz e, em seguida, se desdizia sem entender, afinal, o que sentia. Sei lá, talvez estivesse pagando pra ver até onde iria. Desistir não tem lhe parecido uma boa pedida. Porém, poucas coisas a interessam e divertem mais do que mudar a perspectiva. Por que 2014 não seria, então, mais uma alegria?

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