Por que de ti afastam seus olhos?
Por que fingem que tu não existes?
Por que, num triste dia, deram-te as costas?
Cumpro aqui meu exílio
E faço-te companhia
Perdi horizontes sufocados a Norte e Oeste
E ficamos tu e eu a olhar quem não nos vê
Ó, Cachoeira!
Ouvi histórias de tuas glórias
Vejo-te sem poesia entre duas vias
Teu lodo não me detém em mistérios
E teu futuro não parece ter remédio
O que sabemos, tu e eu, do porvir?
Nada. E nada somado a nada
Já são águas passadas!
Tu, que trouxeste gente a esta terra
Mínguas em arrependimento
Da desgraça do que fizeram contigo
Tu que eras Rei límpido entre o verde
A sonhar-te um Nilo ou um Sena
O Tâmisa da proclamada Manchester
Entre suspiros querias ser o Tejo dos Poetas
Ou ouvir-te eternizado como o Danúbio
E para tantos sonhos
Não tens tamanho, não tens amor
Ó, Cachoeira
Teus jasmins arrancaram
E destruíram tua moldura de petit-pavê
À solidão te condenaram
Cercado por frondosos feios Ficus
Em tua cela de muros de pedra
Exilados nesta cidade
Aproxima-se o dia
Em que torres sufocarão o céu
E teu preto – cor do desprezo com que és tratado
Refletirá os corações – não mais tocados pelo sol
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