Angelo ficou paralisado quando seus olhos foram tomados pelo brilho daqueles laços e embrulhos. A pequena sala estava tomada deles, nem nos seus melhores sonhos ele tinha visto coisa igual. O queixinho caiu, os dentes falhados arreganhados de emoção, até esqueceu que estava apertado para ir ao banheiro. Era Natal e as crianças iam para a sala de visitas enorme da casa dos avós na praia e eram proibidas de sair de lá – mas naquele dia 24 fizera um calor dos diachos e ele passou a tarde toda tomando a limonada que o avô fez. Agora, de roupa bonita, de banho tomado, as pernas cruzadas para segurar o xixi. Dera um jeito, se esgueirara pela porta da sala fingindo que ia brincar com os gatos da tia e correra para a porta da sala anexa ao quarto dos avós. E ali estava o tesouro!
A porta foi aberta e uma mulher entrou às pressas. Passou pelo menino sem reparar e seguiu para a porta do banheiro que ficava em frente.
– Você tá bem? Estamos atrasados, amorzinho. Eita! – a mulher começou a falar enquanto abria a porta e a cena chocou a plateia inesperada.
Lá estava Papai Noel sentado no vaso sanitário, o gorro vermelho caído bem na porta, o blusão cheio de pompons brancos jogado na pia, ele com as calças no chão, o rosto vermelho derretendo de suor e uma camiseta branca do candidato derrotado da última eleição para presidente ensopada era o que lhe restava no corpo.
– Ah, ah… foi aquela maionese do Orlando! Só pode! Tô que não me aguento! Quase não deu tempo de chegar aqui. Ah, ah… foi uma dor aqui – e apertava a barriga protuberante – e não… ah, ah! – gemia o Papai Noel.
– Já te disse que não podes mais ficar jantando em todas as casas que a gente vai! Além de atrasar, só podia dar nisso. Mas você não se controla… aceita todo prato que te oferecem. – a mulher ralhava com o Papai Noel.
Angelo ficou mais estarrecido do que quando viu os pacotes. E esqueceu de vez das pernas cruzadas com força para não molhar as calças novas com estampa camuflada, presente do pai. Pela porta entrou outra mulher, madrinha de Angelo.
– O que você faz aqui, menino! – a surpresa de ver aquele doce de menino fazendo algo errado a desconcertou.
– Shhh! Dinda, dinda… o Papai Noel tá no troninho. – Angelo puxou-a pela saia até perto dele, de onde podiam observar o velhinho ainda sofrendo enquanto a outra mulher enxugava seu suor. – Dinda… o Papai Noel é casado? – eram tantas as aflições de Angelo naquele momento.
– Filho, vem cá. – a madrinha controlava o riso enquanto puxava delicadamente Angelo para fora da sala – Vai lá pra sala com teus primos. Se o Papai Noel está com problema, a dinda vai ajudá-lo, pode ser?
Angelo mal pôde concordar quando lembrou-se do aperto que a limonada lhe causava e virou para chamar a madrinha, mas ela já fechara a porta. Naquele Natal, Angelo desejou tanto que o Papai Noel se recuperasse da maionese, mais do que ansiava pela distribuição dos presentes.
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