Salvo meu corpo
de afogar-se nos meus prazeres
encontrei por acaso uma bóia
E de tédio nela
me vi ao escurecer os sentidos
que gente dá muito valor ao sentir
Não quis não quis
gente também ama querer
e não basta: tem que ter
Salvei-me do sentir
do querer
e do ter.
Há prazeres que nos chegam sem querer
há prazer, até, no pensar
(não que eu seja daqueles que opõem o sentir ao pensar)
busquei o prazer no não – não ter, não querer, não ir, não voltar, não…
E era então deserto
40 dias e 40 noites
de tentações? não
Provações, (você tentou adivinhar). Também não.
De afirmação.
Tem quem é – poucos, que alguns disso se salvam
e são esses que provam diante de Deus ou do diabo.
Ser não lhe dá prazer – orgulho talvez
pra que se orgulhar de nada ter, de nada querer.
E era deserto então
frio noite, dia calor até do chão
engano ver nada no deserto – de milhões de grãos se faz a vida
engano ainda prever solidão – quem é está sempre consigo
Um cederia à tentação do pão
o da direita à tentação da imortalidade
o da esquerda à tentação da dúvida
Todos caem.
Quem não vê que o deserto é vastidão;
e os Filhos sobreviverão
a alimentar-se de miragens – das mais belas miragens.
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